Título: Empréstimos batem recorde e estoques vão a R$ 1,11 trilhão
Autor: Aliski, Ayr
Fonte: Gazeta Mercantil, 29/09/2008, Finanças, p. B2

Brasília, 29 de Setembro de 2008 - O estoque de operações de crédito do sistema financeiro bateu recordes em agosto e deve manter essa tendência. Dados do Banco Central (BC) indicam que o total de crédito atingiu R$ 1,11 trilhão, representando 38% do Produto Interno Bruto (PIB), envolvendo crédito com recursos livres e controlados, como os do crédito rural. É o percentual mais elevado desde que começou a ser calculada a série pelo BC, em 1994, e deve aumentar mais. Segundo o chefe do departamento econômico do BC, Altamir Lopes, até o final do ano o estoque vai representar 40% do PIB. "Se tomarmos o acumulado em 12 meses, o crédito vem crescendo a uma taxa superior a 30%", diz. O crescimento do estoque é constante. A expansão de agosto, entretanto, teve maior fôlego no segmento de pessoa jurídica: com R$ 349,3 bilhões foi 3,1% superior a julho; e foi mais fraca no segmento de pessoa física, no qual o volume de crédito com recursos livres atingiu R$ 268,8 bilhões em agosto, 0,9% a mais do que julho. A expansão do crédito continua, mas a ritmo mais lento de agora em diante. Conforme avalia Cristiano Souza, economista do Banco Real, já era esperada uma retração na velocidade de ampliação do crédito, pois o sistema já teria atingido ápice da capacidade. A partir de agora, diz o economista, fatores como a elevação dos custos de captação no mercado interno vão tornar o crédito mais caro e, portanto, mais restritivo. Souza não percebe problemas no fato de haver um aumento da relação entre estoque de crédito e PIB, uma vez que o Brasil tem uma base baixa comparativamente a outros países emergentes. No Chile, ressalta, esse índice é de quase 75%; e de 50% na Índia. Para o economista, preocupante é a velocidade da expansão da relação entre crédito e PIB. Em agosto do ano passado, essa relação era de 32,8%. O economista Miguel de Oliveira, diretor-executivo de estudos e pesquisas econômicas da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac), destaca que o aumento do crédito reflete também as dificuldades de captação no mercado internacional, reforçando o mercado interno como alternativa de financiamento. Conforme divulgou o BC, a taxa geral de captação em agosto foi de 13,9% ao ano, a mais alta desde agosto de 2006, quando foi de 14,4%. Do total de operações de crédito com recursos livres em agosto, R$ 74,641 bilhões eram relativas a recursos externos, 2,2% a mais que os R$ 73,038 bilhões de julho. No trimestre, no entanto, a queda foi de 2,1%. O ápice foi registrado em março, quando o estoque de crédito com recursos externos somou R$ 78,414 bilhões, Os resultados refletem a variação do dólar perante o real no período e a redução na tomada de crédito no Exterior, perante a restrição de liquidez enfrentada no período devido à crise. O chefe do Depec disse que já era percebida a retração na disponibilidade de créditos externos antes mesmo da semana crítica que culminou com a quebra do Lehman Brothers. Dessa forma, os empréstimos com recursos externos, conforme parcial até o dia 15 de setembro, caíram 2,6% em dólares. A alternativa encontrada no Brasil é a de irrigar o setor de crédito com recursos internos, o que explica a alta das taxas de captação. Agosto foi recorde no cheque especial que cobrou 166,4%, a taxa mais alta desde julho de 2003, quando atingiu 173,9% ao ano. O spread do cheque especial foi de 154,1 pontos percentuais, o mais elevado de toda a série histórica iniciada em 1994. Outro destaque foi o segmento de leasing, com estoque de crédito de R$ 101,5 bilhões; um crescimento de 101% em 12 meses. O crédito consignado praticamente não registrou expansão, com estoque de R$ 49,429 bilhões em agosto; frente aos R$ 48,975 bilhões em julho. (Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 2)(Ayr Aliski)