Título: Telefonia celular terá 150 milhões de usuários até o fim deste ano
Autor: Costa, Thaís
Fonte: Gazeta Mercantil, 29/09/2008, Empresas, p. C1
São Paulo, 29 de Setembro de 2008 - O mercado brasileiro de telefonia celular continua mantendo crescimento extraordinário e vai ultrapassar os 150 milhões de usuários no fim deste ano, o que significa dizer que 80% da população de 190 milhões terão o seu telefone móvel até dezembro. Essa é a previsão de analistas e executivos das operadoras móveis ouvidos pela Gazeta Mercantil apoiados em números divulgados pela Morgan Stanley Research. Estamos diante do trimestre que mais cresce durante o ano. Em 2007, mais de dez milhões de novos usuários incrementaram as estatísticas de outubro a dezembro. Este ano as expectativas levam à ultrapassagem dos 12 milhões que faltam para o universo de usuários bater os 150 milhões. Um dos principais motivos para crescimento tão acelerado é não haver monopólio, como ocorre na telefonia fixa, apesar das tentativas de criação de alternativas. O nível de competição é acirrado, garantindo equilíbrio de forças e distâncias reduzidas entre as fatias das empresas. Dentro do contexto de competição, duas grandes operadoras ligadas a grupos mundiais despontam com destaque nesse mercado: Vivo e Claro, com 41,7 milhões e 34,7 milhões de clientes respectivamente, correspondendo a fatias de 30,1% e 25,1%. Elas representam a disputa internacional travada na América Latina pelas gigantes Telefónica e América Móvil/Telmex. Em agosto houve um movimento diferente e a Claro liderou as adições líquidas (total de usuários que entram menos os que deixam a empresa) do mercado passando a TIM e se posicionando em segundo lugar com uma diferença pequena sobre a rival e abaixo cinco pontos porcentuais da líder Vivo. Nos últimos dias, a pressa verificada em ser o primeiro a lançar no País o iPhone, ícone que vai atingir apenas a elite, foi apenas uma demonstração da sanha de competição das duas."Falta segmentação, as empresas só investem em subsídio para ampliar a carteira", avaliou o analista senior da Yankee Group, Julio Pushel. Para fidelizar os bons clientes, as operadoras precisam conhecer seus costumes, mas isso ainda não tem sido feito. Na linha do horizonte Um dado, porém, não pode ser ignorado: uma terceira operadora avança discretamente mais rápido que as outras: a Oi. Comparando-se os números de participação de mercado mês a mês desde agosto de 2007 até o mês passado, é essa brasileira a companhia que mais cresceu no mercado, passando de 13,1% para 15,6% em doze meses e agregando 2 pontos porcentuais à sua fatia. Não surpreenderá se alcançar 19,3% com a aquisição da Brasil Telecom, e superar os 20% até o fim do ano. Na comparação de agosto com agosto, a líder Vivo cresceu de 28,1% para 30,1%. Aparentemente ela também teria agregado 2pp de participação, mas a verdade é que, por ter adquirido a Telemig no período, agregou fatia de 4% e deveria ter ido a 32%, ou seja, a Vivo jogou fora a metade do que adquiriu já que terminou agosto com 30,1% e não 32%. E a Claro, com toda a força de subsídio que tem demonstrado, conquistou o segundo posto com uma evolução tênue, de 0,3pp, de 24,8% para 25,1% de fatia. Enquanto isso, a Oi prepara sua chegada a São Paulo e marca posição com estratégia de pacotes atraentes e convergência entre serviços fixos e móveis. Não conseguiu incluir o Rio de Janeiro entre os Estados nos quais é líder, mas demonstra agressividade nas ofertas e na postura. A TIM, por sua vez, nos últimos meses fez sua performance perder o brilho e em espaço de doze meses subtraiu 0,6pp de sua fatia de 25,7% constatada em agosto do ano passado. Naturalmente ela poderá recuperar esse bocado, mas não tem demonstrado ser essa sua estratégia. "Não se vê em suas ações que queira segurar o processo", avaliou o presidente da consultoria Teleco, Eduardo Tude. "A operadora divulgou em nota que não pretende baixar suas margens", afirmou. A atuação geográfica abrangente das duas concorrentes, América Móvil/Telmex e Telefónica, garante escala de compras agressiva e isso colabora para distanciar a TIM, ligada a uma endividada Italia Telecom. E os aparelhos representam reconhecidamente um fator importante de competitividade. Falta qualidade O crescimento constante e acelerado é a parte positiva do mercado brasileiro. A negativa é a falta de qualidade que atinge todas as operadoras, cuja estratégia tem sido priorizar a expansão das redes deixando para segundo plano a robustez das redes, a qualidade das ligações, as linhas cruzadas, as ligações não-completadas ou derrubadas antes do fim, o bom funcionamento dos serviços de caixa postal, envio de mensagens de texto e atendimento no call center. Segundo fonte ouvida pela Gazeta Mercantil, a precariedade generalizada decorre da expansão acelerada sem acompanhamento de uma fiscalização rigorosa por parte do órgão regulador. "O sistema já funcionou melhor 3 ou 4 anos atrás, quando havia menos gente, mas depois o governo não deu importância aos órgãos reguladores", advertiu. "A Agência Nacional de Telecomunicações carece de recursos e de autonomia", concluiu o executivo que pediu para não ser identificado.(Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 1)(Thaís Costa)