Título: As operações intrafirmas são dominantes nas exportações
Autor: Lívia Ferrari
Fonte: Gazeta Mercantil, 20/09/2004, Nacional, p. A-4
Empresas transnacionais respondem por 60,4% das vendas brasileiras. Embora crescentes, as exportações industriais brasileiras são fortemente concentradas em operações intrafirmas - entre subsidiárias no Brasil e matrizes no exterior -, o que, na opinião de especialistas em comércio exterior, exige estratégias específicas de política industrial voltadas a empresas transnacionais.
As empresas transnacionais - com pelo menos 10% de participação estrangeira no capital votante - respondem por 60,4% das exportações brasileiras. Desse total, 58,8% são vendas intrafirmas, sendo na maior parte (53%) operações do setor secundário (indústria), observa o presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet) e professor da PUC-SP, Antônio Corrêa de Lacerda, citando dados do Censo de Capital Estrangeiro do Banco Central (BC).
Do lado das importações a coisa não é muito diferente. Cerca de 56,6% das compras externas brasileiras são realizadas por empresas transnacionais. As compras intrafirmas representam 57,8% do total importado.
Esses dados são dominados pelas grandes firmas essencialmente estrangeiras que atuam no mercado global. Mas incluem também, embora poucas, multinacionais brasileiras, com participação de capital estrangeiro. Nesta categoria está, por exemplo, a Embraer, um das maiores exportadoras e importadoras do país.
Diante da dimensão das estatísticas de comércio intrafirmas, Lacerda acredita que a política industrial, no caso das transnacionais, deve incluir estratégias de qualificação do investimento das transnacionais instaladas no Brasil, com a adoção de instrumentos para geração de valor agregado de produto, substituição de importações, desenvolvimento científico e tecnológico, entre outros.
Ele observa que 400 das 500 maiores empresas transnacionais do mundo já operam no Brasil, com instalações no país. "Isso significa que o desafio da política industrial não é propriamente a atração de investimentos estrangeiros. Mas, sim, a qualificação desses investimentos", disse Lacerda. Muitas dessas transnacionais usam o Brasil como plataforma de exportações, embora os itens aqui fabricados ainda tenham elevado componente de importações. É o caso, por exemplo, da indústria de aparelhos celulares.
Para o diretor da Comissão Econômica para América Latina e o Caribe (Cepal), Renato Baumann, a concentração das exportações brasileiras intrafirmas pode ser fator de vulnerabilidade, pois as decisões de negócios seguem estratégias empresariais das matrizes no exterior, ou seja, são menos sensíveis a políticas de governo para indução de exportações. Nesse sentido, ele também defende a necessidade de instrumentos específicos de política industrial que levem em conta as relações intrafirmas.
Lacerda, da Sobeet, acredita que, independentemente da retomada do mercado interno, as exportações brasileiras continuarão a crescer, até porque, segundo ele, ainda estão aquém de seu potencial. "O mercado externo já é parte integrante das estratégias das empresas. Além disso, as firmas têm nas exportações um hedge natural para fazer frente a passivos em dólares", disse ele, constatando realização de novos investimentos em setores fortemente exportadores, como siderurgia e celulose.