Título: Lula participa da cúpula mundial contra a fome em Nova York
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Fonte: Gazeta Mercantil, 20/09/2004, Nacional, p. A-4

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defende hoje, em uma reunião internacional em Nova York, a erradicação da fome e a miséria no mundo, um objetivo que busca alcançar no Brasil, onde o governo admite erros e dificuldades para conseguir tal meta. "Não tenho a ilusão de que vamos conseguir estabelecer nessa reunião um fundo (financeiro mundial para combater a pobreza)", disse Lula no sábado, admitindo que se esse objetivo fosse fácil provavelmente já teria sido alcançado.

O presidente e pelo menos outros 50 dirigentes de outros países comparem à reunião da Aliança contra a Fome em Nova York, proposta pela Organização das Nações Unidas (ONU) e pelos governos do Brasil, Chile, Espanha e França. "Não temos uma situação paradisíaca em nenhum lugar do mundo", disse o ministro de Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Patrus Ananias.

Na cúpula da qual Lula participa um dia antes de comparecer à 59ª sessão ordinária da Assembléia Geral da ONU, o presidente procura "fazer propostas sem a pretensão de impor soluções", segundo a assessora para Temas Sociais e Multilaterais do Ministério das Relações Exteriores, Maria Nazareth Farani. Segundo ela, Lula respaldará a cobrança de uma taxa sobre o comércio de armas e a criação de cartões de crédito internacionais vinculados a projetos sociais para arrecadar fundos contra a pobreza no mundo.

O governo brasileiro também defenderá a diminuição da cobrança de tributos sobre as remessas que pessoas de países pobres, que moram em nações ricas, enviam às suas nações de origem.

Todos são a favor de terminar com a fome, mas tem sido difícil levantar os US$ 50 bilhões ou mais que os representantes da ONU dizem que são necessários para financiar uma campanha eficaz. O principal objetivo da conferência é dar novo fôlego à campanha global para erradicar a fome e chegar a um consenso sobre as alternativas para o seu financiamento. A iniciativa foi lançada durante uma reunião das Nações Unidas em Nova York, no ano 2000. Naquela que foi chamada a Conferência do Milênio, os integrantes da ONU prometeram reduzir pela metade o número de pessoas que vivem na pobreza até 2015.

Os representantes das Nações Unidas alertam agora que, no atual ritmo da campanha, o objetivo não será alcançado. Lula, que desde que tomou posse em 2003 defende uma ação mundial contra a pobreza, declarou em Genebra, em janeiro passado, que a fome é uma arma de destruição em massa, que mata 24 mil pessoas por dia e onze crianças por minuto. Mais de um bilhão de pessoas no mundo vivem em extrema pobreza, sobrevivendo com menos de um dólar por dia. Desses, 300 milhões estão na África Subsaariana, onde o problema é mais grave, segundo a ONU.

Ao lado de Lula estavam o presidente francês, Jacques Chirac, o premiê espanhol, José Luis Rodriguez Zapatero, o presidente do Chile, Ricardo Lagos, e o secretário-geral da ONU, Kofi Annan. Os cinco são chamados de "o quinteto contra a fome". Ao final do encontro, será apresentada uma declaração final que estará aberta à adesão de todos os países.