Título: Ipea vê risco de retração do mercado de trabalho
Autor: Morais, Márcio de
Fonte: Gazeta Mercantil, 01/10/2008, Nacional, p. A5

Brasília., 1 de Outubro de 2008 - O rendimento real médio dos assalariados e as taxas de emprego registram avanço consistente do início desta década até 2007, principalmente nas regiões metropolitanas. No entanto, as análises e conclusões sobre a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - a Pnad 2007 - revelam que os indicadores sobre mercado de trabalho podem estar perto de perder sustentação a partir de 2008, devido à desaceleração do ritmo de contratações identificada nas séries estatísticas recentes. A análise é do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que ontem divulgou a segunda rodada de análise sobre os dados da Pnad, computados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A rodada tratou dos temas mercado de trabalho, exploração infantil e Previdência Social. Os estudos mostram que a oferta de postos de trabalho cresceu 2,1% entre 2006 e 2007, passando de 79,7 milhões para 81,4 milhões e que a renda média dos trabalhadores ocupados subiu 3,2% no mesmo período, o maior nível desde 1996. O crescimento acumulado da renda entre 2006 e 2007 foi de 10,5%, resultando na expansão de 15% na massa salarial a partir de 2005. Cresceram os postos de trabalho formais ou protegidos (carteira assinada). "Em conseqüência, o grau da informalidade (do emprego) caiu de forma expressiva", de 55,1% das pessoas ocupadas para 54,1%, afirmou Milko Matijascic, diretor do Ipea para o Centro Internacional da Pobreza. Se forem consideradas as ocupações não-remuneradas e as voltadas para o autoconsumo e construção para fins próprios, o nível de ocupação cresceu 1,6%, passando de 89,3 milhões de indivíduos em 2006 para 90,8 milhões em 2007. Os estudos também mostram que a Previdência, que passou dificuldades entre 1987 e 2006, recuperou o nível de contribuintes que tinha em 1987, tirou 20 milhões de pessoas da pobreza e 17 milhões da condição de indigência no ano passado, segundo os dados IBGE. Em 1987, 51,8% da população brasileira contribuíam para a Previdência Social, número que ficou próximo de ser alcançado pelos 51,2% registrados em 2007. A situação é pior nas metrópoles brasileiras, onde o nível de contribuição é 12 pontos percentuais abaixo do que foi registrado em 1987. O percentual de contribuintes no campo aumentou: eram 26,2% em 2007, mas não passavam de 18,6% vinte anos atrás. O nível de pessoas que não contribui ainda é muito alto: no campo, sete em cada 10 pessoas ocupadas não são segurados do INSS. O número de trabalhadores de 16 a 59 anos que não têm proteção da Previdência também é alto - são 35,4% de desprotegidos, índice que, no entanto, é melhor que dos anos anteriores. Um em cada três trabalhadores corre o risco de não ter qualquer aposentadoria. "É preciso mais atenção dos formuladores de políticas públicas, pois não só o envelhecimento, mas a piora nas condições de trabalho, sanitárias e de saúde vão pressionar a Previdência e influir no pagamento de pensões", afirmou o diretor de Estudos Sociais do Ipea, Jorge Abrahão. Matijascic atribuiu a grande recuperação do mercado de trabalho e da arrecadação previdenciária aos programas sociais do governo, ao aumento real do salário mínimo e seu reflexo no poder de compra. "Houve efeitos multiplicadores sobre o consumo, com impacto na economia, ao mesmo tempo que os procedimentos de controle e fiscalização levaram muitas empresas a saírem da informalidade", avaliou. Tudo isso acabou resultando em uma forte universalização do atendimento da Previdência na década atual. "Após 65 anos, 95% dos brasileiros estão cobertos, ou virão a ter algum tipo de cobertura - dado inexistente em qualquer outro país em desenvolvimento", alertou. A falta de condições sanitárias adequadas, com aumento do registro de doenças crônicas, bem como a violência do trânsito, entre outros, precisam receber tratamento adequado do governo, segundo ele. "É para que a Previdência não sofra as conseqüências dos males de outras áreas", justificou-se. Ele apontou a redução da informalidade como condição para a correção das expectativas apontadas pela Pnad. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 5)(Márcio de Morais)