Título: Governo sustenta custo de crédito para investimentos
Autor: Lavoratti, Liliana
Fonte: Gazeta Mercantil, 01/10/2008, Nacional, p. A6

São Paulo, 1 de Outubro de 2008 - A manutenção da Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) em 6,25% ao ano para o período de primeiro de outubro de outubro a 31 de dezembro deste ano caiu como uma luva no cenário de incertezas provocadas pela crise financeira global. "Foi uma ação pontual e expressiva do governo para preservar as condições de crédito para os investimentos de capital intensivo", avalia Paulo Godoy, presidente da Associação Brasileira da Infra-estrutura e Indústrias de Base (Abdib). "Temos de analisar com atenção os investimentos e o crédito internos e nos preparar para conviver com uma situação que não sabemos nem o prazo nem a profundidade", acrescenta. Neste contexto, alterar a TJLP iria "potencializar os problemas e encarecer o crédito desnecessariamente", segundo o presidente da Abdib. "É uma ótima notícia que só teria sido superada com a redução", afirma o diretor de Financiamento da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Carlos Nogueira. "Dificilmente vamos escapar de um quadro de grandes dificuldades daqui para a frente, com queda das exportações e possivelmente até no mercado interno, se for confirmada a recessão vislumbrada", completa. Para o presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), Humberto Barbatto, ao segurar a TJLP nesse momento, o governo dá sua contribuição para evitar o desabamento dos investimentos no Brasil. "Em meio a tantas dúvidas, algo está claro: que o crédito no mercado internacional vai ficar escasso. Por isso, é relevante que as empresas brasileiras possam continuar contando com o BNDES para viabilizar seus projetos", afirma. A TJLP é a taxa de referência dos financiamentos concedidos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) às empresas, que são beneficiadas com os juros baixos - a TJLP equivalente à menos da metade da Selic (13,75%), custo do dinheiro que as empresas pagariam se captassem recursos no mercado financeiro. A manutenção da Taxa de Juros de Longo Prazo foi decidida anteontem, em reunião extraordinária do Conselho Monetário Nacional (CMN). Desde o início da onda de caos no sistema financeiro dos Estados Unidos - que se alastrou para a Europa e poderá contaminar outros mercados -, o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, vem afirmando que a instituição não pretendia elevar a TJLP para cobrir os custos de captação dos recursos no mercado. "O aumento dessa taxa só se justificaria se o BNDES estivesse com dificuldade de obter dinheiro no mercado internacional. Não reivindicamos subsídios, mas os juros precisam ser no mínimo convidativos para atrair as empresas a tomar empréstimos de longo prazo", comenta Barbatto. Segundo ele, o mesmo com a manutenção da TJLP, a tendência é uma redução nos investimentos no Brasil. "O empresário expande seus negócios quando sente que haverá demanda para seus produtos. Se ficar confirmada uma recessão no mercado mundial, como estão prevendo, naturalmente teremos um retrocesso nos investimentos produtivos." As linhas de financiamento de longo prazo, concedidas pelo BNDES com base na TJLP foram importantes para estruturar um fluxo doméstico de crédito. Este fator, além do controle da inflação e a dissociação da TJLP da taxa de juros de mercado, a Selic, devem reduzir os efeitos da crise internacional sobre a economia. Para Godoy, o custo de crédito é uma das questões fundamentais da crise e a TJLP impacta o estoque da dívida e novos investimentos. Prudência Embora as entidades industriais afirmem desconhecer, até o momento, decisões de associados rumo a mudança no ritmo de produção por causa da crise, o clima é de cautela. Segundo presidente da Abinee, "predomina no horizonte um imenso nevoeiro e percepção geral é de cautela diante de uma situação delicada, principalmente depois que o pacote de US$ 700 bilhões de ajuda do governo dos Estados Unidos ao sistema financeiro foi rejeitado pelos deputados". "Dessa vez é diferente das crises financeiras anteriores porque os indicadores macroeconômicos brasileiros são bons, especialmente o volume de reservas internacionais", diz o presidente da Abinee. Mas o fato é que menos dinheiro disponível significa custo mais caro dos investimentos e isso já ficou claro aos exportadores que tentaram fechar contratos de antecipação de câmbio. Segundo ele, daqui a 40 dias será possível saber o quanto as incertezas afetaram a confiança dos consumidores. "Até lá ficará mais evidente em que medida o ritmo de crescimento será prejudicado", conclui Barbatto. Dúvida que o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro, não tem, segundo Nogueira. "O presidente da CNI já disse hoje (ontem) que em 2009 a economia vai crescer entre 3% e 4%, muito diferente dos 5% a 6% previstos para este ano", afirma. Estimativa com a qual o diretor de Financiamento da Abimaq concorda. "Além desse desaquecimento no ritmo de crescimento do Produto Interno Bruto, vamos ter de enfrentar uma concorrência ainda maior com os importados. Não acreditamos que o câmbio vá melhorar muito, apesar da reação dos últimos dias", ressalta Nogueira. Colaborou Jaime Soares de Assis (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 6)(Liliana Lavoratti)