Título: Sistema chega ao Sul do Brasil e pode avançar para América Latina
Autor: Nicoletta, Costábile
Fonte: Gazeta Mercantil, 01/10/2008, Comunicação, p. C5

Brasília, 1 de Outubro de 2008 - Enquanto o processo de implementação do sinal digital de televisão aberta avança no País, os donos da tecnologia adotada pelo Brasil - os japoneses do ISDB-T - se preparam para iniciar um plano de prospecção na América Latina para identificar países com os quais iniciará conversações em busca de novos mercados. No Brasil, três capitais estão agendadas pelo Ministério das Comunicações para dar início às transmissões digitais nos próximos dois meses, dessa vez na região sul. Curitiba, em 22 de outubro, Porto alegre (5 de novembro) e Florianópolis (25 de novembro) estão prestes a receber a nitidez de imagem e o som limpo da nova tecnologia, que foi introduzida em 2 de dezembro do ano passado no Brasil, pela cidade de São Paulo. No primeiro semestre deste ano (abril) foi a vez do Rio de Janeiro e Belo Horizonte aderirem. Fortaleza e Recife estão em vias de integrarem o cronograma do Ministério das Comunicações para receberem o novo padrão, segundo fonte do gabinete do ministro Hélio Costa (Comunicações), em cuja gestão se ultimaram os preparativos, e foi inaugurada, a digitalização da TV, pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Hoje, o vice-ministro de Comunicações e Assuntos Interiores do Japão, Akira Terasaki, começa, por Brasília, o esforço para conquistar a América do Sul. A política de expansão do ISDB-T ganhou corpo após a adesão do Brasil, em junho de 2006, com a edição do decreto (5.820), do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O Brasil possui um mercado de aproximadamente 80 milhões de televisores analógicos a serem substituídos pelos aparelhos digitais. Por isso, os aparelhos analógicos vão continuar em funcionamento por dez anos, até julho de 2016, simultaneamente às transmissões digitais. Mas, a partir de julho de 2013, o governo federal só vai outorgar canais para transmissão digital. A situação da América do Sul hoje é mais favorável aos japoneses que no início da década, quando a Argentina do ex-presidente Carlos Menen chegou a anunciar a escolha do padrão norte-americano ATSC, que também tinha a simpatia integral do Chile. Santiago está em vias de definir o padrão tecnológico. O retrocesso argentino foi possível porque, para tornar efetiva a escolha, o decreto de Menen que fez a opção pelo ATSC teria de ser ratificado pelo Congresso argentino. Mas isso nunca aconteceu, o que abriu espaço para negociações brasileiras em favor do padrão nipo-brasileiro a partir de 2006. O Brasil também lucra com a expansão do ISDB-T. Primeiro, porque a adesão de novos países e o ganho de escala que isso provocará na linha de produção vai baratear os televisores digitais no Brasil. Mais: o midleware brasileiro Ginga, responsável por carregar a interatividade nas transmissões nacionais de TV digital, e que foi agregado ao ISDB-T nas negociações entre Brasil e Japão, pode assegurar divisas de exportação e royalties ao País. A presidente argentina, Cristina Kirchner, formalizou, no início deste mês, uma declaração conjunta com Lula, em que se compromete a adotar o padrão nipo-brasileiro, em condições semelhantes às negociadas pelo Brasil. As conversas dos japoneses com a Argentina já tiveram início, com intermediação do Brasil, e devem prosseguir com uma esticada de Terasaki a Buenos Aires nos próximos dias. Está prevista, para outubro, a visita de comitiva argentina ao Japão com o objetivo de também formalizar um compromisso de adoção da tecnologia japonesa. Peru e Equador também estão em vias de definir o padrão nacional de TV digital. No Peru, o governo prorrogou por três meses, contados a partir de outubro, o prazo para anunciar a tecnologia escolhida, em atendimento a solicitações dos governos do Brasil e da China para que o padrão nipo-brasileiro e o DMB-T chinês possam também ser submetidos à apreciação local. A exemplo do Brasil, o Peru realiza testes com os padrões ATSC, DVB e ISDB-T. Mas a intenção brasileira é que os testes com o ISDB-T também incluam as funcionalidades da interatividade oferecidas pelo Ginga - proposta incorporada pelos peruanos. (Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 5)(Márcio de Morais)