Título: Leilão de energia reforça tendência de alta na tarifa
Autor: Morais, Márcio de
Fonte: Gazeta Mercantil, 01/10/2008, Infra-Estrutura, p. C9

São Paulo, 1 de Outubro de 2008 - O resultado do leilão A-5, realizado ontem, reforça a tendência de aumento no preço da energia brasileira, uma vez que o arremate registrou 22 negócios envolvendo usinas termelétricas a óleo diesel e gás natural liqüefeito (GNL), para entrega da eletricidade a partir de 2013. Os dois combustíveis são considerados os mais caros para geração elétrica. Em média, o preço do arremate das térmicas foi de R$ 145,23 por megawatt-hora (MWh). A única hidrelétrica participante do certame teve sua energia contratada por R$ 98,98 o MWh, ou seja, valor 46% abaixo do custo da geração a óleo e GNL. Além disso, uma termelétrica movida a bagaço de cana também vendeu a sua energia por R$ 145. No total, o leilão movimentou R$ 60,5 bilhões. "Não temos que comemorar o resultado. O custo das térmicas são muito altos, por isso o governo deve se preocupar porque esse gasto pode prejudicar o andamento da economia do País", afirma Ricardo Lima, presidente da Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres (Abrace), referindo-se à perda de competitividade das indústrias por conta do aumento do preço da eletricidade. "A R$ 145 o megawatt-hora a indústria não consegue competir com produtos feitos fora do País", diz Lima. Além disso, o executivo da Abrace ressalta os danos ambientais causados por fontes elétricas a óleo e a GNL, mais poluentes e não-renováveis. "A Abrace defende há muito tempo o uso de energias renováveis e com preços mais competitivos", completa. O custo de toda a geração elétrica é rateado entre a sociedade, o que engloba desde grandes indústrias até consumidores residenciais. A revisão tarifária ocorre de quatro em quatro anos e pequenos reajustes na tarifa são autorizados anualmente pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Apesar da questão do preço e dos danos ambientais, a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), responsável pela realização do leilão, festejou o resultado, que apresentou contratação de 3.125 MW médios. Com esse incremento energético na matriz, toda a demanda prevista pelas distribuidoras para o ano de 2013 será coberta com cerca de 4% de sobra. "Não se pode pensar que o valor da energia é alto, esse foi o custo do leilão", comenta Antonio Carlos Fraga Machado, presidente da CCEE. Questionado sobre a ausência de hidrelétricas na licitação e os impactos disso na conta de luz, Fraga é enfático: "Esta é uma análise que a sociedade precisa fazer. Os ambientalistas demoram para liberar as hidrelétricas, eles fazem uma grande confusão em cima do assunto e por isso não tivemos mais fontes hídricas no leilão". Para Mauricio Tolmasquim, presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), órgão ligado ao Ministério de Minas e Energia, o resultado do leilão representou um sinal positivo por parte dos investidores em relação à infra-estrutura brasileira, dado o momento conturbado em todo o mercado financeiro internacional. "Vimos hoje um sinal de confiança enorme em relação aos investimentos no setor de infra-estrutura no Brasil. Isso um dia após um momento de muita turbulência em todo o mundo", diz Tolmasquim. (Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 9)(Roberta Scrivano)