Título: Paraguai pesquisa preço da energia brasileira
Autor: Scrivano, Roberta
Fonte: Gazeta Mercantil, 30/09/2008, Infra-Estrutura, p. C4
30 de Setembro de 2008 - Sem fazer alarde, o novo diretor paraguaio da Itaipu Binacional, Carlos Mateo Balmelli, desembarcou no Brasil na última sexta-feira para investigar in loco o valor da energia elétrica que é pago pelos consumidores brasileiros. O objetivo é usar essas informações como argumento para uma revisão na tarifa paga pelo Brasil na compra da eletricidade pertencente e não usada pelo vizinho na usina de Itaipu, considerada pelos paraguaios como "abaixo da média de mercado". "Estamos investigando os preços brasileiros e mantendo conversas com a iniciativa privada do Brasil para termos mais informações", diz Balmelli à Gazeta Mercantil. "Queremos a correção da tarifa que o Brasil paga ao Paraguai. O preço precisa ser atualizado", acrescenta. A revisão da tarifa da usina de Itaipu foi uma das principais propostas do novo presidente paraguaio, Fernando Lugo, durante a sua campanha presidencial. Segundo o Tratado de Itaipu assinado em 1973, cada país tem direito a 50% da energia gerada pela hidrelétrica. A energia não utilizada por uma das partes deve ser vendida ao sócio a um preço fixo. O Paraguai só utiliza 4% da eletricidade a que tem direito e vende o resto ao Brasil. Questionado sobre de quanto deveria ser o aumento no preço, Balmelli comenta que não pode falar em cifras por enquanto. "A média do preço brasileiro é mais elevada do que o que estamos recebendo", afirma. Segundo o executivo, o Paraguai "não está mendigando" e tampouco quer parecer "agressivo ou hostil". "Busca-mos oportunidades e queremos manter um diálogo fraternal com o Brasil", afirma, que elogia a receptividade do País para este assunto. "As nossas conversas têm sido boas e sempre com receptividade brasileira". Segundo Balmelli, o Paraguai quer ainda propor uma maior integração energética com o Brasil. "O Paraguai pode ser um grande produtor de energia hidrelétrica, por isso podemos ser ainda mais parceiros", afirma. O executivo lembra que, há quinze dias, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva esteve no Paraguai e disse que acredita que nos próximos 20 anos a América Latina estará integrada por inteiro no setor elétrico. "Este já pode ser o primeiro passo para a vontade do Lula", afirma. Posição brasileira A posição brasileira com relação ao valor da tarifa já foi explicitada pelo diretor geral brasileiro da Itaipu Binacional, Jorge Miguel Samek, segundo o qual o governo brasileiro não pretende rever o preço pago pela energia produzida na usina porque, para ele, a cotação atual é justa e é o quantia de mercado. "A energia chega à Eletrobrás a US$ 45,31 o megawatt-hora", afirmou Samek. "Nas concessionárias, o preço médio é de US$ 38, segundo o executivo brasileiro. Por outro lado, a posição do governo brasileiro já declarada pelo presidente Lula é a de não rever o Tratado de Itaipu e compensar as reivindicações do Paraguai com a construção de um linhão entre a usina e a capital, Assunção, a um custo de US$ 400 milhões, que seriam financiados via BNDES. O Paraguai já recebe um plus de US$ 2,80 na sua energia excedente comercializada no Brasil, além do preço recebido que leva em consideração itens como juros da dívida, royalties e custos de operação. O governo paraguaio tem se apegado na informação de que o único pagamento que recebe pela energia excedente são estes US$ 2,80, o que, segundo, Samek é uma premissa equivocada e que foi muito utilizada na campanha eleitoral que levou o presidente Lugo ao poder. A construção da Itaipu exigiu investimentos diretos de US$ 12,2 bilhões, mas, com a rolagem da dívida e contratação de novos empréstimos na época, esse montante chegou a US$ 26,9 bilhões. Atualmente está em US$ 18,7 bilhões e é decrescente, tendência que se manterá constante até sua quitação total, em fevereiro de 2023 (ano em que o Tratado de Itaipu completará 50 anos). (Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 4)(Roberta Scrivano e Norberto Staviski)