Título: Gasto é entrave a comércio na AL
Autor:
Fonte: Gazeta Mercantil, 02/10/2008, Nacional, p. A5
Brasília, 2 de Outubro de 2008 - O aumento das exportações nos países da América Latina depende mais da diminuição dos custos com transporte do que da redução de tarifas alfandegárias. É o que mostra a pesquisa "Desobstruindo as artérias: o impacto dos custos de transporte sobre o comércio exterior da América Latina e Caribe", publicada pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). De acordo com o estudo, um corte de 10% no valor das tarifas alfandegárias aumentaria em menos de 2% o volume de exportações dos países da região, enquanto uma redução também de 2% no custo dos transportes aumentaria as vendas externas em 39%. O economista do setor de comércio e integração do BID, Maurício Mesquita Moreira, acredita que uma política comercial efetiva precisa ir além das questões tarifárias. "Os custos, sejam portuários ou aéreos, são duas ou três vezes mais altos (na América Latina) do que em países como Holanda e Estados Unidos. Apesar de ser impossível reduzir os custos do transporte a zero, tem-se um espaço, uma gordura enorme para queimar", diz Moreira." O relatório mostra que se países da América Latina reduzissem em 10% os custos com frete, haveria um crescimento de mais de 20% no comércio da região ¿ caso a redução fosse em tarifas alfandegárias, o aumento seria de apenas a metade. A diminuição dos custos de transporte beneficiaria produtos manufaturados produzidos no Brasil, Chile, Equador, Peru e Uruguai, além das exportações de minérios e de metais na Argentina, na Colômbia e no Paraguai. Moreira lembra ainda que a América Latina chega a gastar 7% do valor das exportações com frete ¿ quase o dobro do que é gasto nos Estados Unidos, por exemplo. Para o Brasil, o custo equivale a 5,5% do preço do produto. "Grande parte dessa diferença tem a ver com os produtos que nós exportamos. A América Latina em geral e o Brasil em particular exportam commodities, produtos pesados que custam mais para transportar. Tem-se, inevitavelmente, uma proporção de preço maior transportando soja do que chips. Transporte é mais estratégico para o Brasil do que para um país como os Estados Unidos ou Holanda." O chefe de operações do BID no Brasil, Jorge Luís Lestani, destaca que o caso considerado mais crítico é o de mercadorias da indústria alimentícia, em que o produtor chega a receber apenas 4% do preço pago pelo consumidor final. "É a parte não-visível do iceberg", diz Lestani. O presidente do Conselho de Infra-Estrutura da Confederação Nacional do Comércio (CNI), José de Freitas Mascarenhas, afirma que os portos representam "o centro de maior ineficiência das exportações" diante de impasses institucionais, por exemplo, para liberar investimentos privados. Para ele, o diagnóstico do BID representa "algo em que vínhamos batendo há muito tempo" e que precisa de uma solução efetiva. "E não é por falta de capacidade para fazer isso. O setor de energia tinha uma situação semelhante. Houve intervenção, o setor voltou a planejar e ordenar o processo. Na área de transporte, infelizmente, não temos planejamento ou gestão. Isso se resume em um custo de infra-estrutura que está prejudicando a competitividade do País", afirmou Mascarenhas. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 5)(Agência Brasil)