Título: Votorantim vai importar cimento
Autor: Collet, Luciana ; D¿Angelo, Marcello
Fonte: Gazeta Mercantil, 02/10/2008, Nacional, p. A8

2 de Outubro de 2008 - A apertada oferta de cimento no mercado interno vai fazer a Votorantim importar o produto de modo a reduzir o déficit de aproximadamente 200 mil toneladas mensais, que tem sido apontado pelo mercado. De acordo com o presidente da Votorantim Cimentos, Walter Schalka, a companhia já decidiu realizar compras internacionais, possivelmente da China, principal produtor mundial, para atender o forte crescimento do consumo do principal insumo da construção civil. Além disso, a empresa está redirecionando crescentemente ao mercado interno a produção da unidade de Laranjeiras, no Sergipe, que originalmente era destinada a exportações. "Já anunciamos duas ondas de investimentos, que totalizam US$ 3,2 bilhões e devem ampliar nossa capacidade em cerca 60% até 2011", explicou o executivo. "Até lá, procuraremos atender com importação o crescimento do consumo que não pode ser atendido por nós." Ele calcula que as compras internacionais devem alcançar 100 mil toneladas por mês, o que, portanto, não atenderá toda a necessidade do País hoje. A possibilidade de importar cimento já estava sendo avaliada pelos fabricantes do produto, em resposta à solicitação feita pelas construtoras, conforme informou ontem o sindicato da construção (SindusCon-SP). A produção nacional de cimento é da ordem de 4,5 milhões de toneladas por mês, que já está praticamente toda sendo utilizada pelo mercado doméstico. Segundo dados do Sindicato Nacional da Indústria de Cimento (Snic), em agosto foram vendidos no País 4,6 milhões de toneladas, 8% acima do apurado em igual mês de 2007. No acumulado do ano, o crescimento é de 15%. "Há um grande déficit habitacional e uma nova onda de consumo que, depois de passar pelos eletrodomésticos e automóveis, chegou à construção civil", afirmou o executivo da Votorantim. "Infra-estrutura também apresenta uma deficiência crítica que, com ou sem PAC, precisa ser resolvida", acrescentou. Receita recorde "Setembro foi o segundo melhor mês em vendas na história de 72 anos da Votorantim", disse Schalka. "Só perdeu para julho." Segundo o executivo, a previsão de crescimento da companhia é de 18%, acima dos 11% estimados no início do ano e dos 10% registrados em 2007. A Votorantim, que detém 40% do mercado nacional de cimentos, deve registrar receita líquida de US$ 4,5 bilhões com as vendas no País, informou o executivo. Outro US$ 1,3 bilhão virá dos negócios no exterior - Estados Unidos, Chile e Bolívia -, totalizando receita de US$ 5,8 bilhões (no ano passado, foram apurados R$ 5,6 bilhões). Além do crescimento de 18% no País, o aumento se deve a aquisições feitas no exterior. Dentre as nove novas fábricas que a Votorantim está construindo, a de Pecém, em Pernambuco, já entrou em operação; a de Aratu na Bahia, começou a produzir ontem. Para este ano, ainda está previsto o início das atividade de moagem em Xambioá, Tocantins, o que deve ocorrer até 15 de novembro. Logística A unidade sergipana, que produz anualmente 1 milhão de toneladas de cimento, está tendo sua produção redirecionada para o mercado interno. "Estamos apenas cumprindo os contratos que restam", disse Schalka. De acordo com o Snic, as exportações brasileiras de cimentos já caíram 50,9% neste ano e somaram, até agosto, 44 milhões de toneladas. Schalka ressaltou que a unidade está localizada próximo do porto e, portanto, a companhia elevará os custos de logística para redirecionar a produção ao consumo local. De fato, o custo logístico possui impacto significativo no preço do cimento vendido em algumas regiões do País (varia de 7% a 45% do preço). O programa de investimentos da companhia, além de ampliar a capacidade, também realizará a regionalização da produção justamente para reduzir esses custos. Foi por isso que a empresa decidiu construir unidades na região Norte, para onde, em certas localidades, o cimento da Votorantim viaja mais de mil quilômetros. Mas, no meio-tempo, a importação elevará o custo. Para ter uma idéia, a tonelada do cimento produzido em Sergipe sai da fábrica a US$ 60 e chega ao destino, no exterior, a US$ 110. No caso das importações para atender o mercado local, Schalka garantiu que os custos serão absorvidos pela empresa. Crise A crise financeira internacional por ora não deve fazer a Votorantim rever seu plano de investimentos. Segundo Schalka, a companhia decidiu manter todos os projetos, numa aposta de que a recessão não deve eliminar o crescimento brasileiro no setor, muito embora o executivo avalie que a redução do crédito deve trazer algum impacto para o mercado imobiliário. Nos Estados Unidos, a companhia já verificou queda de até 29% em alguns estados, como na Flórida. Com sete fábricas no país e 4 mil funcionários, a empresa está avaliando a rentabilidade de algumas de suas operações no país. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 8)(Luciana Collet e Marcello D¿Angelo)