Título: Governo quer garantir recursos para crédito
Autor: Monteiro, Viviane ; Aliski, Ayr
Fonte: Gazeta Mercantil, 02/10/2008, Finanças, p. B3

2 de Outubro de 2008 - O governo costura um pacote de medidas para proteger o Brasil da crise financeira internacional. As medidas estão sendo formuladas pelos ministério do Desenvolvimento, da Fazenda e Banco Central e visam aumentar as linhas de crédito para financiar as exportações e dar liquidez ao mercado interno. "Os dois ministérios (Desenvolvimento e Fazenda) e o Banco Central estão preparando medidas de precaução; a determinação do presidente Lula é a de que nos antecipássemos para qualquer situação", revelou o secretário de comércio exterior, Welber Barral. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu para o Brasil se antecipar aos eventos, considerando tanto a aprovação do pacote de US$ 700 bilhões para socorrer o sistema financeiro norte-americano, como a rejeição da proposta. Entretanto, o presidente Lula quer evitar chamar de pacote as medidas em estudo pela equipe econômica do governo, devido ao peso negativo que a palavra tem na história econômica do País. O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, confirma a informação do ministério do Desenvolvimento. "O presidente Lula determinou para o governo não fechar os olhos para a crise americana e pediu para não deixar faltar crédito para a população", disse Bernardo. Entre as medidas prioritárias está o aumento da oferta de crédito no mercado, pois esse é tratado como o principal problema a ser enfrentado nos próximos meses, principalmente pelo setor exportador diante da retenção de financiamento no sistema financeiro internacional. O governo prepara-se para lançar medidas que vão antecipar R$ 5 bilhões para a agricultura, sanando a falta de crédito que atinge o setor desde o agravamento da crise financeira internacional. "Achamos que mais R$ 5 bilhões resolvem o problema", afirmou o Ministro da Fazenda, Guido Mantega. Um outro ponto estudado pelo governo é a desburocratização do crédito para pequenas e médias empresas, além das medidas anunciadas na semana passada, como a nova regulamentação do compulsório para o leasing que deu mais liquidez para bancos pequenos e médios e o leilão de recompra de dólar para dar liquidez ao mercado no momento em que o crédito está secando. Para Barral, por enquanto, o impacto da crise não é visível sobre as exportações brasileiras. Porém, avalia que o setor poderá sentir os efeitos entre 60 e 90 dias, quando serão feitos os novos contratos de Adiantamentos sobre Contratos de Câmbio (ACC), usando as operações destinadas à exportação. Segundo o secretário de comércio exterior, a falta de crédito tende a encarecer os custos dos empréstimos para exportação. Já o ministro Mantega admitiu que a crise financeira internacional é muito forte. Depois de participar de reunião de Coordenação Política, no Palácio do Planalto, ele comparou a turbulência atual com a crise russa, de 1998. A crise russa foi "de terceira ou quarta categoria", na avaliação do ministro. Mesmo tentando passar tranqüilidade perante a crise, Mantega mostrou que a postura do governo mudou e que já não é possível sustentar que a crise não terá reflexos no Brasil. "Expliquei ao presidente que essa crise, pela sua potência, atinge todos os países. Alguns mais, outros menos. Os países mais atingidos são aqueles que têm desequilíbrios fiscais, comerciais, crescimento mais baixo, reservas menores. O Brasil está naquele grupo de países menos atingidos, porque tem crescimento maior, tem reservas, o mercado interno mais robusto e as contas públicas equilibradas", disse Mantega. Logo depois da reunião ministerial no Palácio do Planalto, o presidente Lula reconheceu a gravidade da crise, mas seguiu a cartilha elaborada pelos seus assessores de não usar a palavra pacote para referir-se ao conjunto de medidas que o governo vai tomar para conter a crise. "Não tem pacote nenhum", afirmou o presidente. (Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 3)(Viviane Monteiro, Ayr Aliski e Rivadavia Severo)