Título: Setor imobiliário começa a rever planos de lançamentos
Autor: bertachini, amarilis
Fonte: Gazeta Mercantil, 02/10/2008, Empresas, p. C1

São Paulo, 2 de Outubro de 2008 - As empresas do mercado imobiliário começam a rever seus planos de lançamentos para 2008 diante da tendência de retração do crédito bancário para novas construções. A CR2 Empreendimentos Imobiliários, incorporadora que atua nos mercados carioca e paulista, decidiu reduzir a menos da metade o volume de lançamentos previstos até o final do ano, de R$ 1,2 bilhão para R$ 500 milhões. Isso corresponde a dois empreendimentos comerciais e um residencial, baixando de 8 mil unidades previstas para 6 mil unidades. Segundo Rogério Furtado, diretor de Relações com Investidores da CR2, a decisão foi uma atitude defensiva da empresa que diante das linhas de crédito mais curtas e escassas preferiu desacelerar a velocidade dos lançamentos, sem contar com captações de recursos adicionais. "Acelerar é mais fácil do que desacelerar. Quando o mercado se estabilizar poderemos retomar o ritmo. Estamos ganhando menos do que gostaríamos mas ainda estamos ganhando dinheiro", afirma Furtado. Ele diz que a empresa vai sobreviver bem nesse novo ritmo mas questiona a sobrevivência de alguns concorrentes que teimam na promessa de entregar volumes de lançamentos que não são compatíveis com a realidade atual do País. A ação da CR2 fechou ontem em alta de 2,79% e no ano suas ações caíram em torno de 50%.. As incorporadoras Even e Inpar também já haviam anunciado a revisão de suas metas. A Even, reduziu seus lançamentos neste ano de R$ 2,2 bilhões para R$ 1,8 bilhão. A Inpar anunciou a venda de ativos no valor de R$ 200 milhões para alavancar recursos destinados a capital de giro e crescimento. O ritmo das vendas de apartamentos para o consumidor final, entretanto, ainda não está mostrando retração, mas isso poderá acontecer daqui a alguns meses. Segundo Sérgio Freire, presidente da Brasil Brokers (Br Brokers) empresa de intermediação e consultoria imobiliária, as vendas estão se mantendo e os dois lançamentos que a empresa fez da incorporadora Rossi no Rio de Janeiro neste final de semana - voltados para as classes média e alta - foram "muito bem vendidos". "Não diminuiu a vontade de comprar do consumidor", afirma Freire. Ele acredita que a maior preocupação é mesmo para as incorporadoras, que estão encontrando crédito mais caro, e para as empresas que têm ações em bolsa cujos papéis chegaram a ter queda de 20% , de um dia para outro, sem que tivessem feito nada para isso, só como conseqüência do movimento do mercado. Muitos investidores estrangeiros que haviam comprado ações de empresas imobiliárias nacionais resgataram esses papéis, porque precisaram de ativos para fazer caixa. Já para algumas empresas que planejavam fazer novas emissões de ações para levantar recursos, a opção deixou de ser interessante, diz Freire. As ações da Br Brokers fecharam ontem em queda de 4,85% e no ano caíram 56,31%. "O que me preocupa é a conseqüência indireta da crise para o mercado imobiliário. Como Brasil funciona muito na base de exportação de commodities, os clientes potenciais do segmento de exportação estarão mais tímidos e deverão investir menos em imóveis", afirma João Crestana, presidente do Secovi-SP (Sindicato da Habitação). Os efeitos diretos não são tão sensíveis, segundo Crestana, porque os financiamentos imobiliários para os próximos dois anos estão amparados pela poupança e pelo FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço). Este ano foram aplicados R$ 28 bilhões da poupança no setor imobiliário e R$ 10 bilhões do FGTS. Em 2009, a previsão, se não houver maiores sobressaltos, é de um crescimento em torno de 10% sobre esses valores. "A diferença entre o mercado brasileiro e o dos Estados Unidos é que no Brasil a demanda é muito grande. No Brasil há pouco crédito, excesso de demanda e o critério de concessão de crédito é muito mais rígido do que nos Estados Unidos", diz o presidente do Secovi. Ele destaca que alguns empréstimos concedidos aos norte-americanos eqüivaliam à segunda ou até à quarta hipoteca sobre um mesmo imóvel, da mesma família. Além disso, enquanto aqui o crédito fica entre 60% e 80% do valor do imóvel, nos Estados Unidos foram concedidos empréstimos de até 130% sobre o valor do imóvel e a diferença ainda era utilizada para mobiliar a casa ou colocar um carro na garagem. "Isto porque eles acreditavam na valorização dos imóveis, mas hoje o bem vale menos do que o valor que foi emprestado, enquanto no Brasil há valorização. Por isso, mesmo retomando os imóveis, os credores de lá estão recebendo um valor abaixo do que financiaram", diz. Como aqui os financiamentos chegam somente a até 60% ou 80% do valor do imóvel, no caso de inadimplência o banco retoma o imóvel pelo valor integral ou até valorizado. Este ano houve um crescimento de 30% nas vendas de imóveis e para 2009 a previsão é de um aumento de 10% . Em função da crise, esse crescimento poderá ser menor a partir de 2010, entre 2% e 5%, diz Crestana. Paulo Safady Simão, presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) acredita que não haverá impacto para o mercado imobiliário primário porque o financiamento desse segmento é formado pelos recursos da poupança e do FGTS, que são duas fontes com regras pré definidas e juros tabelados. "O que poderá ser afetado é o mercado secundário. Estamos construindo o segundo momento do mercado imobiliário, que é o mercado de securitização que vai comprar o título, o Certificado de Recebíveis Imobiliários (CRI). É o investidor no fundo de pensão. O mercado secundário está ainda em construção. Se a crise for prolongada, poderá retardar o aparecimento do mercado secundário porque não haverá investidores interessados", declara. Fabio Nogueira, diretor geral do grupo Brazilian Finance & Real Estate, afirma que o mercado de securitização não foi afetado e que há liquidez de caixa. (Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 1)(amarilis bertachini)