Título: BNDES vai financiar obras de gasoduto da Petrobras na Argentina
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Fonte: Gazeta Mercantil, 20/09/2004, Energia, p. A-5

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) vai financiar US$ 142 milhões a empresas associadas brasileira e argentinas para construir um gasoduto da Petrobras, obra que o governo do presidente Néstor Kirchner considera chave para evitar novas crises energéticas. O gasoduto, que unirá a Patagônia com Buenos Aires e correrá paralelo a um já existente, duplicando a sua capacidade de transporte, será operado pela argentina Transportadora de Gas del Sur (TGS), controlada pela brasileira Petrobras.

"Queremos reafirmar o empenho da Petrobras, junto com o BNDES, de viabilizar a duplicação do gasoduto", disse na sexta-feira a jornalistas o presidente da Petrobras, José Eduardo Dutra. Um pouco mais tarde, o gerente de comunicações externas da Petrobras na Argentina, Orlando Di Pino, detalhou que a obra irá demandar investimentos da ordem de US$ 285 milhões. O BNDES financiará US$ 70 milhões para a compra de tubos e US$ 72 milhões para engenharia e obras civis.

"A construção vai estar a cargo de empresas argentinas e brasileiras, com participações acionárias equilibradas. Serão feitas associações com empresas de ambos os países e vão terminar formando um consórcio com participação acionária equilibrada", explicou Di Pino. O resto do investimento necessário será aportado por outras empresas petrolíferas e pelo Estado argentino, acrescentou.

Os investimentos da Petrobras estiveram em dúvida nas últimas semanas, depois que o BNDES, como obriga seu regulamento, condicionou que o financiamento da obra seja feito a empresas brasileiras, entre outras condições. Segundo Di Pino, a operação não demandará nenhuma mudança nos estatutos do BNDES, o que atrasaria o desembolso do banco.

A TGS, que tem 30% de suas ações sendo negociadas nas bolsas, transporta 61% do gás consumido na Argentina por meio de uma rede de gasodutos de 7,5 mil quilômetros de extensão. O gasoduto San Martín une as jazidas da província de Terra do Fogo, a mais austral da Argentina, com a de Buenos Aires, e deve transportar no ano que vem 8 milhões de metros cúbicos de gás por dia, cifra duas vezes superior à atual.

O jornal de negócios El Cronista, de Buenos Aires, indicou na sexta-feira que o resto dos investimentos necessários para ampliar o gasoduto San Martín serão aportados pelas petrolíferas Pan American Energy, de capital anglo-argentino, e pela francesa Total Austral, além do Fisco e do Banco da Nação Argentina.

Condições iguais

Além do financiamento ao gasoduto San Martín, o BNDES também anunciou na sexta-feira em Buenos Aires que tratará como "empresas nacionais" as indústrias argentinas que lhe solicitarem crédito. "O banco tomou a decisão de fazer com que as empresas argentinas fabricantes de qualquer tipo de partes e componentes sejam consideradas como empresas nacionais", disse o presidente do banco, Carlos Lessa.

Ele explicou que "a única restrição é que as partes e os componentes têm que ser produzidas por empresas cujo capital seja controlado por firmas do Mercosul", bloco regional que Argentina e Brasil integram, junto com Paraguai e Uruguai. A medida não compreenderá apenas os fabricantes de peças automotoras, mas também "a indústria do software e de plásticos, entre outras", destacou. Segundo Lessa, o objetivo do mecanismo é "equiparar as condições" que o BNDES exige às empresas do Mercosul com as que valem para as firmas brasileiras que têm créditos com a entidade.

O ministro da Economia da Argentina, Roberto Lavagna, destacou, por sua vez, que a medida é fruto da negociação que foi feita na semana retrasada no Brasil com o presidente Lula e os ministros da Economia, Antônio Palocci, e da Indústria e Comércio, Luiz Fernando Furlan.

kicker: Banco anunciou que tratará como "nacionais" as empresas da Argentina que buscarem crédito