Título: Crédito está cada vez mais enxuto e caro
Autor: Nascimento, Iolanda
Fonte: Gazeta Mercantil, 03/10/2008, Finanças, p. B3

São Paulo, 3 de Outubro de 2008 - O mercado bancário brasileiro vive um momento singular por causa da crise que atinge o sistema financeiro mundial. As instituições estão capitalizadas, a economia doméstica continua aquecida em detrimento do cenário externo, e em período de maior fervura por conta das demandas de final de ano, mas uma parcela dos bancos está preferindo colocar o pé no freio a fazer novos negócios, principalmente empréstimos mais vultosos, com a finalidade de guardar suas posições de liquidez e evitar riscos. "O quadro é este: a recessão de crédito é enorme e prova disso são os adiantamentos de contrato de crédito (ACC, instrumentos utilizados para financiar exportações), praticamente proibitivos", afirma o diretor-superintendente do Banco Indusval Multistock, Luiz Masagão Ribeiro. O executivo acrescenta que as operações mais restritivas hoje, em termos de custos e prazos mais enxutos, são as vinculadas às exportações. O banco, informa, tem evitado fazer operações de trade finance dado os altos custos no momento. "Não temos fechado nem 10% do volume de negócios que estávamos acostumados a fazer", diz Ribeiro, preferindo, contudo, manter em sigilo quais as taxas exigidas hoje no mercado externo. Uma fonte do setor financeiro afirma que há operações que chegam a custar desde o começo da semana passada para cá até quase 1.000 pontos (10%) ao ano mais a Libor, taxa que regula essas transações e que já tem batido consecutivos recordes de alta com a crise. Mas normalmente estão mais caras entre 220 (2,20%) e 300 (3,00%) pontos, para linhas de 90 dias, quando antes não ultrapassavam os 0,30% ao ano, mais Libor. "E isso para operações de primeira linha, com garantias do IFC, que antes custavam zero", diz a fonte. O Indusval só tem fechado transações externas no mais curto prazo, assim como o Bradesco, que informou que o prazo não ultrapassa os 180 dias e que linhas de um ano são raras hoje no mercado, e muito mais caras. O diretor-presidente do Bradesco, Márcio Cypriano, disse, em evento nesta semana em São Paulo, que as linhas externas são extremamente representativas na composição do funding do banco: as linhas de comércio exterior chegam hoje a cerca de US$ 5 bilhões, sendo em torno de US$ 4 bilhões para ACC, as quais não estão sendo acessadas porque os custos não estão compensando. No primeiro semestre deste ano, as operações de câmbio oriundas basicamente da carteira de trade finance do Indusval acumularam R$ 25,2 milhões. A fim de casar a captação com os negócios, preços e prazos têm sido repassados aos clientes de crédito. "Se a linha é cara, tenho de oferecer mais cara", observa Ribeiro. O Bradesco informa que o prazo mais curto é bom para o cliente nesse momento, já que o negócio pode ter taxas melhores na renovação. Esses sinais de paralisação, entretanto, ainda não estão visíveis nas estatísticas do Banco Central, cujas pesquisas realizadas com a movimentação de setembro, até o dia 26, mostram que o volume de US$ 5,07 bilhões em ACCs ficou bem acima dos US$ 4,322 bilhões de agosto último e dos US$ 2,964 bilhões de setembro cheio de 2007. No decorrer da segunda quinzena, contudo, nota-se uma diminuição dos volumes, abaixo dos US$ 150 milhões diários de 18 a 26. Na primeira quinzena, chegou a ter um pico de mais de US$ 450 milhões, no dia 10. No mercado interno, os negócios também estão em compasso de espera, segundo Ribeiro: os clientes estão com os projetos de expansão parados, sem crédito e as transações interbancárias também praticamente pararam. "A regra agora é aumentar e garantir a liquidez interna e cada um tem trabalhado mais com os seus clientes." Com isso, as captações por meio de CDBs subiram aproximadamente 100 pontos, diz o executivo, e estão hoje entre 104% e 105% do CDI, quando antes não se aplicava nem 100% para os clientes menores, e entre 110% e 111% do CDI para os grandes, cuja variação antes estava em torno de 104%, 105%. (Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 3)(Iolanda Nascimento)