Título: Crise financeira não afetará investimentos e rentabilidade
Autor: Americano, Ana Cecilia
Fonte: Gazeta Mercantil, 03/10/2008, Infra-Estrutura, p. C3

Rio de Janeiro, 3 de Outubro de 2008 - Na percepção dos agentes da cadeia produtiva da energia elétrica - abrangendo as etapas de geração, transmissão e distribuição -, o setor, apesar da crise internacional, tem um futuro de investimentos, rentabilidade e segurança. As preocupações se restringem à necessidade de ajustes na regulamentação do setor e a prováveis dificuldades na obtenção de novos financiamentos. É o que revela a 2ª Sondagem sobre Tendências do Setor Elétrico: Canal Energia, conduzida por Nivalde José de Castro, professor do Grupo de Estudo do Setor de Energia Elétrica (Gesel) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). A pesquisa foi feita com 17 entidades do setor e divulgada, ontem, durante o 5º Encontro Nacional de Agentes do Setor Elétrico (Enase), realizado no Rio de Janeiro. "Os agentes econômicos estão vendo o setor elétrico de forma muito positiva. É como se o segmento estivesse blindado à crise internacional", avalia Castro. Segundo ele, as razões para tanta confiança residem no fato de boa parte do endividamento do setor ter sido feito em moeda local, do seu bom faturamento nos últimos anos e da projeção das receitas para os próximos estar acima da inflação. "Eles têm a percepção de que a rentabilidade deverá se manter, pois as regras estão definidas", resume o professor. De acordo com a pesquisa, ainda que 60% dos agentes ouvidos acredite que a crise internacional terá desdobramentos negativos sobre a economia brasileira, seus impactos sobre o crescimento do setor elétrico entre 2009 e 2012 tendem a ser regulares para 46,7% e até mesmo positivo para 40%. O faturamento do setor elétrico nos próximos quatro anos, por sinal, tende a crescer, segundo os entrevistados: 86,7% acreditam que ele se dará acima da inflação. Nenhum dos ouvidos declarou crer que as receitas ficassem abaixo da inflação; e apenas 13,3% imaginam que inflação e faturamento tenham um empate durante o período. O otimismo ainda é revelado sobre as projeções de investimentos. Nos três setores (geração, transformação e distribuição) ele será maior entre 2009 e 2012 que tem sido nos últimos quatro anos. No caso do segmento de geração, 73,33% acreditam nesta hipótese; entre os agentes de transmissão, ela é aceita por 53,85%; e, entre os executivos que operam na distribuição, a crença é referendada por 76,92%. Ajuda do BNDESO risco de racionamento está, por outro lado, praticamente erradicado, revela a pesquisa. Vale notar que nenhum agente considerou o risco alto: 46,7% dos entrevistados acreditam que o risco é uma possibilidade fraca, entre 6% e 10% de probabilidade; 33,3% acreditam num risco baixo, de até 5% de probabilidade; 20% consideram o risco médio, entre 11% e 39% de probabilidade. "Com a desaceleração da economia prevista para o ano que vem, essa possibilidade diminui ainda mais", comenta Castro. O problema para Castro é a percepção do aumento do custo do financiamento. "Possivelmente haverá uma maior necessidade de financiamento por parte do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Este poderá ser um pleito do setor, já que a participação do banco em projetos do setor está limitada em 70%", afirmou o professor. A pesquisa indica que 53,3% dos agentes acham que o volume de investimentos necessários poderá ser maior do que o BNDES tem para oferecer: 33% já estão mais preocupados, acreditam que a falta de disponibilidade de crédito poderá ser uma ameaça para a expansão do setor. Por fim, 13,3% estão confiantes na capacidade de o BNDES financiar a maior parte dos investimentos necessários ao setor. Em todo caso, é generalizada a percepção de que o crédito ficará mais caro. 73,3% o afirmam na pesquisa. E 20% avaliam que a dificuldade será a mesma. "Esses dados fazem sentido. Nesse momento não se apresenta um cenário favorável à captação de recursos", alega o professor. No entanto, como o marco regulatório do setor está estabilizado há anos, para Castro, o primeiro setor da economia brasileira com condições de captar recursos - passado o vendaval da crise financeira - será, exatamente, o elétrico. "O setor trabalha com contratos de 20, 30 anos, indexados ao IPCA. Isto é um ativo que facilita a captação de recursos em qualquer lugar. Logo, será tranqüilo trabalhar com debêntures, FDIC e ações", acredita. Outro aspecto importante revelado na pesquisa foi a mudança de percepção do setor em relação ao Ministério do Meio Ambiente. Para 60% dos agentes, o ministério mudou sua postura com a nova gestão. (Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 3)(Ana Cecilia Americano)