Título: Fed anuncia compra de títulos de empresas
Autor: news, Bloomberg
Fonte: Gazeta Mercantil, 08/10/2008, Finanças, p. B4
Washington, 8 de Outubro de 2008 - O Conselho de Diretores do Federal Reserve (Fed, o BC dos EUA) vai criar um fundo especial para proteger o mercado norte-americano de commercial papers, num esforço para respaldar as necessidades financeiras das empresas. A iniciativa ocorre num momento em que o congelamento do crédito se propaga para o mercado de títulos de curto prazo -que centenas de empresas empregam para financiar as folhas de pagamento e atender a outras necessidades de caixa. O Fed anunciou que vai emprestar à taxa do interbancário dos EUA. A unidade vai comprar commercial papers de três meses denominados em dólar de emitentes habilitados a um diferencial (spread) superior à taxa de swap indexado aos empréstimos de um só dia (overnight) de três meses, segundo comunicado emitido ontem em Washington. O papel a ser adquirido tem de ter classificação de risco de pelo menos A1/P1/F1. Os emitentes vão pagar à unidade uma tarifa antecipada baseada no commercial paper inicialmente vendido. Usando o poder O BC norte-americano empregou os poderes que lhe foram concedidos pela legislação de socorro financeiro, aprovada na semana passada, para fixar, na prática, um piso sob sua taxa básica de juros do interbancário inferior à meta de 2% fixada pelas autoridades no mês passado. O Fed deverá agora pagar juros sobre o compulsório recolhido pelos bancos ao mesmo tempo em que inunda os mercados financeiros de liquidez, empurrando para baixo a taxa de empréstimos de um só dia (overnight) em cerca de 0,75 ponto percentual, para 1,25%. "Sem dúvida nenhuma, trata-se de um alívio disfarçado", disse John Ryding, economista-chefe do RDQ Economics LLC de Nova York e ex-pesquisador do Fed. O anúncio se somou à decisão de duplicar o leilão de recursos para os bancos para até US$ 900 bilhões. Ao pagar juros sobre o depósito compulsório dos bancos, o Fed pode injetar mais dinheiro no sistema financeiro sem se preocupar com a possibilidade de a taxa dos empréstimos interbancários cair para zero no final de cada dia, caso os bancos retirem um excesso de reservas. O diferencial (spread) de 0,75 ponto foi a maior surpresa dentre as iniciativas adotadas pelo Fed para implementar os poderes que recebeu por meio da legislação de socorro financeiro, disseram economistas. O Fed instaurou a nova taxa no último dia 3 de outubro, no mesmo dia em que a Câmara dos Deputados aprovou o projeto de lei e em que o presidente do país, George W. Bush, o sancionou em lei. O presidente do Fed, Ben Bernanke, e o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Henry Paulson, vão se reunir com o presidente do Banco Central Europeu (BCE), Jean-Claude Trichet, e seus demais colegas do Grupo dos Sete principais países industrializados (G-7) no dia 10 de outubro em Washington. Nos Estados Unidos, Bernanke sinalizou que está preparando medidas destinadas a descongelar os mercados que não têm seus empréstimos garantidos por ativos. Na Europa, a maior queda das ações desde 1987 deverá levar os governos e os BCs a coordenar a ajuda ao setor financeiro da região e baixar as taxas de juros. "Eles precisam começar a pensar num remédio mais poderoso", disse Lou Crandall, economista-chefe da Wrightson ICAP, sediada no Estado de Nova Jersey e divisão da ICAP, a maior corretora mundial para bancos e outras instituições financeiras. "É muita coisa o que está em jogo. A crise começou a se refletir no crescimento mundial, uma vez que as empresas e consumidores consideram cada vez mais difícil e oneroso tomar empréstimos. A economia mundial já caiu em sua primeira recessão desde 2001", segundo os economistas Bruce Kasman e David Hensley, do JPMorgan, que alertam que a situação pode piorar se o congelamento do crédito persistir. (Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 4)(Bloomberg news)