Título: Medida do BC deve forçar queda do CDB
Autor: Rosa, Silvia
Fonte: Gazeta Mercantil, 08/10/2008, Finanças, p. B4

São Paulo, 8 de Outubro de 2008 - A contração da liquidez no mercado de crédito internacional pressionou o aumentou das taxas dos Certificados de Depósito Bancário (CDB) emitidos por bancos brasileiros para captar recursos. Só durante o agravamento da crise no mercado de crédito internacional houve uma elevação das taxas médias dos CDBs com prazo de um ano de 14,06% em junho para 15,49% em 30 de setembro. Nos papéis mais longos, com prazo de dois anos, a taxa média chegou a apresentar variação de 15,10% para 18,25% no período, segundo dados registrados no Balcão Organizado de Ativos e Derivativos (Cetip). As taxas dos CDBs já vinham subindo neste ano, inclusive nos papéis emitidos pelos bancos de primeira linha, após a medida do Banco Central que obrigou o recolhimento do compulsório para as operações de leasing. No mês passado, no entanto, com a contração de liquidez no mercado de crédito, o BC resolveu adiar o aumento do recolhimento do compulsório para essas operações, que deveria chegar a 25% em janeiro de 2009. "O que pressionou a elevação das taxas dos CDBs nos últimos dias foi o corte das linhas de crédito no exterior, que levou os bancos a terem que aumentar a captação via CDBs", diz Alfredo Moraes, presidente da Associação Nacional das Instituições do Mercado Financeiro (Andima). A medida faz parte de uma séria de ações que o BC vem adotando a fim de preservar a liquidez dos bancos nacionais. Na segunda-feira, o governo editou uma Medida Provisória (MP) que prevê, entre outros pontos, que o BC deverá adquirir ativos de bancos brasileiros emitidos no exterior e que será feito o repasse de dólares com o compromisso de recompra desses títulos por parte das instituições. Além disso, a medida autoriza as empresas de leasing a utilizarem novo instrumento para captação de recursos, por meio da emissão de letras de arrendamento mercantil. Essas medidas, segundo Moraes, devem diminuir a necessidade de captação via CBDs e, com isso, trazer um recuo das taxas desses títulos. "As novas formas de captação de recursos anunciadas pelo BC, como as operações compromissadas e a emissão de letras de arrendamento mercantil, devem trazer mais liquidez para as instituições financeiras e diminuir a dependência da emissão de CDBs", afirma. Neste ano, até setembro, o estoque de CDBs registrados na Cetip cresceu 67,8%, passando de R$ 359,19 bilhões para R$ 602,76 bilhões, e já soma captação de R$ 6,96 bilhões nos primeiros dias de outubro. "Com a intervenção do BC, o volume de negociações diárias chegou a cair na segunda-feira", diz Moraes. Segundo o economista da Intra Corretora, Marcelo Faro, mesmo os bancos de primeira linha têm pago taxas atrativas nos CDBs, em torno de 104% do CDI, equivalente a 14,20%. "Nas operações de varejo, para aplicações até R$ 50 mil, os bancos de primeira linha costumavam pagar taxas em torno de 95% do CDI. Hoje, os clientes de varejo conseguem facilmente taxas acima do CDI nesses títulos", diz. Faro acredita que as taxas devem se manter altas até que as medidas anunciadas pelo BC entrem de fato em operação.. Pressão sobre banco médio Com o aumento das taxas dos bancos de primeira linha, os bancos médios, que já pagavam taxas maiores, em torno de 107% do CDI, antes do agravamento da crise no mercado internacional, viram seus custos de captação aumentar significativamente no ´último mês de setembro. Alguns bancos médios chegaram a ter dificuldade para vender seus papéis com a contração da liquidez no mercado. Moraes destaca que as emissões de CBDs desses bancos estão concentradas entre poucos investidores, como fundos de investimento, que diminuíram a compra desses papéis para recompor as perdas em suas carterias com a queda do mercado acionário. "Os bancos médios tiveram maior dificuldade de captar do que os bancos de primeira linha, cuja venda dos papéis é mais pulverizada e atinge as pessoas físicas", diz. Para Faro, os bancos médios brasileiros estão bem capitalizados depois das operações de Oferta Pública de Ações (IPO) e não oferecem risco de insolvência. (Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 4)(Silvia Rosa)