Título: Bolsa pára duas vezes e regride 19 meses
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Fonte: Gazeta Mercantil, 07/10/2008, Finanças, p. B1
São Paulo, 7 de Outubro de 2008 - O temor de uma recessão econômica global arrastou mais uma vez as principais bolsas de valores do mundo no primeiro dia da semana, que já ganha o apelido de "Black Monday" - a prima má da "Black Friday" americana, sexta-feira após o feriado de Ação de Graças quando começam as compras natalinas nos Estados Unidos. A segunda-feira negra é justamente o oposto, impera o impulso de vender e não de comprar e o espírito de solidariedade global é substituído pelo receio comum do "salve-se quem puder".
No dia 15 de setembro, uma segunda-feira, o Ibovespa caiu 7,59%, então o pior desempenho desde o 11 de setembro de 2001. No último dia 29, segunda-feira, o índice chegou a 10,16% e o circuit breaker foi ativado por 30 minutos, pregão encerrado com queda de 9,36%. Ontem, pela segunda vez na história, as negociações da bolsa brasileira foram interrompidas por duas vezes num mesmo pregão, assinalando um dos piores momentos do mercado de capitais mundial - ao menos no que diz respeito à confiança do investidor.
A Bovespa chegou a cair 15,06%, o que levou a direção da bolsa a estabelecer, excepcionalmente ontem, um novo limite de 20% de baixa. O suporte de 45 mil pontos dado por analistas grafistas no início de setembro para a Bovespa já foi rompido e o mercado continua buscando novas referências para o que pode ser o "fundo do poço" - ontem, a mínima foi de 37.616 pontos. No fechamento, a bolsa paulista apresentou recuperação, encerrando em 42.100 pontos, menor patamar desde 5 de março de 2007, com queda de 5,43% no dia. O giro financeiro somou R$ 5,27 bilhões, bom nível para um mercado que negociava, até o início da tarde, apenas R$ 2 bilhões.
Ainda assim, a sessão trouxe muitos estragos. Segundo levantamento da Economática, o valor de mercado das empresas que compõem o Ibovespa caiu R$ 62,95 bilhões em um só dia. A maior perda foi registrada na Vale do Rio Doce, montante de R$ 12,06 bilhões, que teve projeções revistas em relatório do Banco UBS Pactual, que revisou para baixo o preço-alvo do papel. Siderúrgicas e bancos figuraram entre as maiores perdas do índice, refletindo o receio de retração na demanda de commodities e recessão de crédito.
A primeira vez que os negócios na Bovespa foram suspensos por 1h30 num mesmo dia foi em 10 de setembro de 1998, reflexo da crise originada no mercado asiático - mas agora são os mercados norte-americano e europeu que dão o tom nos mercados acionários. "Os investidores estão completamente pessimistas em relação ao desenvolvimento do mercado no curto prazo. O pacote financeiro nos Estados Unidos foi aprovado mas ainda não se conhece seus efeitos reais e os últimos dados de desempenho econômico norte-americano (como estimativa da indústria e venda de imóveis) aumentaram o temor de recessão", diz Kelly Trentin, analista da SLW Corretora.
"Na Europa, os bancos centrais definiram que vão atuar de forma independente, sem um plano conjunto estratégico, num momento em que as instituições financeiras locais também estão quebrando", diz. O banco francês BNP Paribas anunciou a compra das atividades de seguro do grupo Fortis na Bélgica e em Luxemburgo, e na Alemanha, o governo está acertando um plano de resgate de ¿ 65 bilhões para evitar a concordata do Hypo Real State.
"Ainda estamos na lista de países mais vulneráveis no mercado acionário pela dependência de valorização de commodities", reforçar Fausto Gouveia, analista da Win Trade. Um cenário de recessão na Ásia, Europa e EUA daria um novo (e inferior) patamar ao preço do minério de ferro e do petróleo. "Emergentes também sofrem com a fuga de capital e compra do dólar, que gera casamento entre desvalorização da bolsa e valorização da moeda", diz Gouveia. A moeda americana atingiu ontem alta de 8,09% frente ao real, maior valorização percentual desde janeiro de 1999. "A percepção é que a crise está cada vez mais grave e os países com menor margem de manobra", define André Simões, gestor da Modal Asset.
Ver também págs. B2 a B6(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 1)(Maria Luíza Filgueiras)