Título: Alta do dólar terá impacto reduzido
Autor: Saito, Ana Carolina
Fonte: Gazeta Mercantil, 06/10/2008, Nacional, p. A4

São Paulo, 6 de Outubro de 2008 - A valorização do dólar frente ao real deve ter um impacto reduzido na inflação. Na avaliação de economistas consultados pela Gazeta Mercantil, a alta da moeda norte-americana, que ultrapassou a marca de R$ 2 na última semana, geraria pressões inflacionárias se permanecesse em patamar elevado por um período mais longo de tempo, cenário, por enquanto, descartado pelos analistas. De julho para agosto, dólar subiu 1,3%, passando de uma média mensal de R$ 1,5906 para R$ 1,6115. Em setembro, chegou a R$ 1,7988, 11,6% superior ao registrado no mês anterior. Com o agravamento da crise norte-americana, a moeda superou os R$ 2 neste início de mês. De acordo com o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, a elevação dos custos de insumos importados não se traduz necessariamente em repasses, devido aos ciclos de renovação de estoques da indústria. Caso a média de outubro se mantivesse em R$ 2, a elevação em relação a setembro seria de cerca de 10%, poderia resultar em impacto na inflação. "Se a empresa estiver renovando o seu estoque, teria uma elevação de pelo menos 10% [de custos] por conta dessa valorização e, então, teria algum efeito na inflação", afirma. Mesmo assim, o impacto no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) seria pequeno. Segundo o economista, 33% de todos os itens que compõem são, de alguma forma, sensíveis à oscilação do câmbio. Com isso, a alta do dólar, seria diluída no indicador. As projeções para o final do ano, no entanto, convergem para uma cotação do dólar inferior a R$ 2. A Austing prevê a moeda norte-americana em R$ 1,85 em dezembro. Já a LCA Consultores é mais otimista. "A nossa avaliação é que o câmbio acabará voltando, fechando o ano em R$ 1,7. O movimento atual é episódico", comenta o economista da consultoria Fábio Romão. Segundo Romão, as recentes elevações da moeda norte-americana não mudam as projeções da LCA para 2008 e 2009, de 6,3% e 4,6%, respectivamente. O economista afirma que o dólar valorizado geraria mais inflação se a moeda permanecesse em patamar mais elevado por um período maior de tempo. Esse cenário estimularia as exportações e reduziria as importações, o que poderia diminuir a oferta no mercado interno e gerar pressões inflacionárias. "Mas esse não é o cenário hoje", afirma. O economista-chefe da Concórdia Corretora, Elson Teles, concorda que o dólar não deve continuar em R$ 2. Ele avalia ainda que, hoje, os riscos para inflação são menores, lembrando que a desaceleração da demanda e a queda nas cotações tendem a compensar efeitos do câmbio. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 4)(Ana Carolina Saito)