Título: Disputa é o início da sucessão presidencial
Autor: Seabra, Marcos
Fonte: Gazeta Mercantil, 06/10/2008, Política, p. A8

São Paulo, 6 de Outubro de 2008 - Ontem, mais de 128 milhões de brasileiros elegem seus prefeitos e vereadores para os próximos quatro anos, mas a principal batalha foi travada entre três políticos que, pelo menos por enquanto, não são candidatos: o petista Luiz Inácio Lula da Silva e os tucanos Aécio Neves e José Serra. Todos de olho na sucessão presidencial em 2010. Se Lula conseguiu confirmar alguns dos seus candidatos, como João da Costa, em Recife, perdeu parcialmente em São Paulo, com Marta Suplicy, onde se esperava uma vitória da petista no primeiro turno no início da campanha. Também em São Paulo, ponto para José Serra em sua batalha com Aécio Neves pela indicação do PSDB para concorrer à Presidência em 2010. Serra, apesar da candidatura do tucano Geraldo Alckmin, saiu vitorioso com a chegada do prefeito Gilberto Kassab, do DEM, ao segundo turno. Por outro lado, Aécio Neves saiu desprestigiado na disputa. Márcio Lacerda (PSB), em quem o candidato do governador depositou todas as suas esperanças, acabou cedendo terreno ao peemedebista Leonardo Quintão (PMDB), e permitiu que a disputa seja decidida apenas no segundo turno. Caciques O ex-presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, não poupou críticas a presença do presidente em campanhas eleitorais. Ele afirmou que o PT, que terá a candidata Marta Suplicy no segundo turno, vai perder a eleição e lamentou a presença de caciques. "Em 1978 (eleição ao Senado), o (compositor) Chico Buarque fez um refrão que dizia: O povo não quer cacique mais. Infelizmente, ainda continuamos com muitos caciques, há um personalismo muito forte", afirmou. Indagado sobre a transferência de votos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para candidatos do PT, afirmou que é "uma ilusão" porque o presidente, mesmo tendo prestígio, "tem uma biografia, e biografia não se transfere". Fernando Henrique não quis vincular o resultado das urnas à sucessão do presidente Lula em 2010. "Acho que são episódios isolados, a eleição federal é outro momento". Sobre os potenciais candidatos do PSDB, citou os governadores José Serra (SP) e Aécio Neves (MG). "Só sei de uma coisa, o PSDB vai precisar estar unido, isso é precondição para a vitória". Violência A disputa de ontem também foi marcada por violência. A polícia prendeu 101 candidatos até as 16h30, informou Carlos Eduardo Caputo Bastos, ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Segundo a Justiça Eleitoral, os crimes mais cometidos por esses candidatos foram boca de urna (63) e compra de votos (12), seguidos de divulgação de propaganda irregular e transporte ilegal de eleitores - ambos com 10 prisões cada. Com 25 detidos, o maior número de prisões de candidatos ocorreu em Minas Gerais. Em seguida, ficou o Espírito Santo, com 12. No Rio de Janeiro, quatro foram presos, enquanto em São Paulo nenhum incidente do tipo foi verificado. Já as detenções de não candidatos somaram 707. Para Caputo Bastos, se considerado o tamanho do país, os números são relativamente pequenos. "A situação está absolutamente tranqüila", afirmou o ministro. Ao todo, 2.511 ocorrências foram registradas em todo o Brasil. Caputo Bastos não soube esclarecer se as tropas federais enviadas a 460 municípios participaram dessas prisões ou ocorrências.O ministro do TSE revelou também que 2.233 urnas eletrônicas foram substituídas, 0,49% do total. Em Goiânia (GO), 60 equipamentos apresentaram problemas em seus cartões de memória. O secretário de Tecnologia da Informação do tribunal, Giuseppe Janino, garantiu que os votos que já haviam sido computados não foram perdidos. "Os dados registrados de forma eletrônica são sempre recuperados", disse Janino. Apesar do problema, acrescentou Caputo Bastos, o prazo de votação não será prorrogado em Goiânia. Ao todo, nada menos que 15.462 candidatos a prefeito, 15.788 candidatos a vice-prefeito, e 349.584 candidatos a vereador registraram suas candidaturas no TSE. Os dados foram atualizados na última quarta-feira (1º). São Paulo foi o estado com maior número de eleitores. São 29.143.285. Apenas capital paulista conta com 8.198.282 cidadãos aptos a votar. Minas Gerais é o segundo estado com maior número de eleitores (14.072.285), seguido pelo Rio de Janeiro (11.259.334) e pela Bahia (9.153.629). Por sua vez, Roraima é a unidade da federação com o menor número de votantes: 247.790. Nessa ordem ascendente, o Amapá aparece em seguida, com 384.825 eleitores. Já o Acre conta com 443.148 votantes. Quase a metade dos candidatos a prefeito das 26 capitais respondem a processo na Justiça, conforme revelou levantamento exclusivo do Congresso em Foco desta semana. Dos 178 postulantes ao cargo, 86 são alvo de alguma ação na Justiça Comum, Federal ou nos tribunais superiores. Esses candidatos respondem a 415 processos judiciais. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 8)(Marcos Seabra)