Título: Produtos não-alimentícios evitam queda maior do IPCA
Autor: Saito, Ana Carolina
Fonte: Gazeta Mercantil, 09/10/2008, Nacional, p. A4
São Paulo, 9 de Outubro de 2008 - A alta de preços de itens não-alimentícios impediu uma queda mais expressiva da inflação brasileira em setembro. Com a intensificação da queda dos preços dos alimentos, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 0,26%, ou 0,02 ponto percentual inferior à variação de agosto. No ano, a inflação acumulada está em 4,76%, e em 6,25% nos últimos 12 meses. Com a redução do ritmo de crescimento da demanda interna, o movimento de alta de preços de itens não-alimentícios deve ser interrompido. Por outro lado, a valorização do dólar frente ao real, pelo menos no curto prazo, e a maior elevação dos preços administrados devem pressionar o indicador. Além disso, a contribuição baixista da deflação dos alimentos pode estar com os dias contados em outubro, refletindo menores quedas dos preços agrícolas no atacado. Em setembro, os alimentos tiveram deflação de 0,27%, acima da queda de 0,18% registrada em agosto. Excluindo o grupo, entretanto, diversos itens que compõem o IPCA se mantiveram em alta. Os núcleos de inflação, medidas usadas para filtrar choques temporários, apresentaram nova aceleração. Segundo cálculos da Rosenberg & Associados, o núcleo por exclusão passou para uma taxa acumulada em 12 meses de 6,26%, ante 5,86% em agosto. "E os serviços aceleraram de 5,9% para 6,26% em 12 meses", comenta a economista da consultoria Thaís Marzola Zara. Segundo a pesquisadora do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Eulina Nunes dos Santos, desde o ano passado os produtos alimentícios estão mostrando uma curva ascendente acima do IPCA. Agora é a vez dos não-alimentícios, que mantiveram a alta de 0,42% entre agosto e setembro. "Apesar da queda dos preços de alimentos ter se intensificado, o movimento foi amortecido pela estabilidade das despesas com itens não-alimentícios", analisa Eulina. Na avaliação da economista da Rosenberg, a desaceleração da atividade econômica deve levar esses itens a patamares menores no final do ano. Por outro lado, em um primeiro momento, a expectativa é que o câmbio depreciado tenha um impacto sobre a inflação. "Deve haver um efeito do câmbio, mas isso deve se reverter em 2009", afirma Thaís Marzola Zara, que já projeta a moeda americana contada entre R$ 2,00 e R$ 2,30 em dezembro. De acordo com o economista da LCA Consultores, Fábio Romão, o IPCA deve voltar a acelerar em outubro, atingindo uma taxa de 0,35%. Romão afirma que os preços agrícolas no atacado reduziram o ritmo de queda em setembro, o que deve ter impacto na variação de preços dos alimentos no varejo. "A pressão baixista dos alimentos se dará em proporção menor sobre o indicador", prevê o economista. Outro vetor que deve contribuir para a elevação do indicador em outubro são os preços administrados. A LCA espera uma elevação de 0,33%, superior à alta de 0,17% de setembro. Para a economista da Rosenberg, a ação conjunta de redução das taxas de juros promovida por diversos bancos centrais ao redor do mundo reforça a expectativa de que o BC brasileiro deve interromper o aperto monetário iniciado em abril e manter a Selic nos atuais 13,75% ao ano. Com o cenário de desaquecimento da economia global, "o mais sensato é parar e esperar os desdobramentos", diz Thaís Marzola Zara. Já a LCA mantém a projeção de acréscimo de 0,5 ponto percentual na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, marcada para 28 e 29 de outubro. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 4)(Ana Carolina Saito - Colaborou Vanessa Stecanella/InvestNews)