Título: Bancos Centrais se unem e decidem reduzir juros
Autor:
Fonte: Gazeta Mercantil, 09/10/2008, Finanças, p. B1

Nova York, 9 de Outubro de 2008 - Os bancos centrais de vários países cortaram as taxas de juros de curto prazo ontem depois que os investidores na Ásia e Europa deflagraram ondas de ordens de venda nas já deprimidas bolsas. O Federal Reserve, (Fed, o banco central americano), o Banco Central Europeu (BCE) e outros bancos centrais, desde a Grã-Bretanha e Suíça ao Canadá e China, anunciaram reduções nas taxas com segundos de diferença. O governo britânico anunciou, separadamente, um plano para injetar bilhões de libras nos principais bancos do país como parte de um programa que resultará em influência consideravelmente maior do governo no setor bancário. O Fed informou numa nota que o corte de 0,5 ponto percentual na taxa de fundos federais, para 1,5%, foi em função da debilidade da atividade econômica. Também cortou a taxa de desconto pela mesma medida. A votação foi unânime. O BCE reduziu sua taxa referencial de 4,25% para 3,75%. As iniciativas produziram certo impacto inicial nas bolsas ao redor do mundo. As européias reduziram suas pesadas perdas após o anúncio, mas se mantiveram com perdas. Nova York abriu em baixa, passou para o azul e acabou com o Doe Jones em queda de 2%, num dia de muita volatilidade. Em São Paulo, a Bovespa mostrou o mesmo movimento, e fechou com queda de 3,85%. Altos membros do Federal Reserve disseram que essa foi a primeira vez que o Fed coordenava uma redução nas taxas de juros com outros bancos centrais, embora os Estados Unidos tenham periodicamente se unido com outros países para intervir nos mercados monetários para estabilizar as taxas de câmbio. A situação que mais se aproxima da ação de ontem ocorreu em novembro de 2001, quando o Fed e o BCE anunciaram redução na taxa de juros no mesmo dia. Mas essas ações foram nominalmente independentes, e não envolveram ações de outros bancos centrais. O corte foi implementado a despeito da divergência de opiniões entre os EUA e a Europa desde que a crise financeira irrompeu, em agosto de 2007. O BCE tem sido muito mais relutante em baixar as taxas de juros, porque os formuladores de políticas públicas europeus tendem a ver o derretimento do mercado hipotecário principalmente como um problema americano com repercussões secundárias na Europa. Sem efeito Mas qualquer conforto que restava fora dos EUA evaporou na semana passada, quando os mercados monetários congelaram pelo mundo e as grandes corporações e os bancos por toda Europa começaram a perder sua capacidade de executar mesmo transações financeiras rotineiras.Para piorar a situação, nenhuma das medidas emergenciais épicas tomadas nos EUA - a aprovação do plano de resgate de US$ 700 bilhões para comprar títulos podres; o dobro e o redobro das linhas de crédito emergenciais do Fed para US$ 900 bilhões na segunda-feira; e a decisão sem precedentes do Fed na terça-feira de começar a comprar a dívida comercial de curto prazo para todos os tipos de empresas - impediu as bolsas de despencarem em quantias vertiginosas dia após dia. "Enfim, uma mostra de força coordenada", escreveu Ian Shepherdson, economista-chefe nos EUA da High Frequency Economics, numa nota. "A iniciativa merece aplausos, mas há mais pela frente. O esquema de jogo para evitar as depressões ensina que as taxas têm de estar o mais próximas de zero possível." Bala de prata Outros economistas estavam cautelosos quanto ao sucesso das várias medidas, depois que planos anteriores, como o de resgate econômico da América, não conseguiram deter os acentuados declínios nos preços das ações. "Não há bala de prata para esses problemas", disse Derek Halpenny, estrategista de moedas do Bank of Tokyo-Mitsubishi, em Londres. "Mas as atitudes tomadas pelo Fed na terça-feira, o plano de resgate do governo britânico e a abordagem gradual que os governos europeus estão adotando mostram que as autoridades estão se antecipando mais", disse Halpenny.O tumulto nos mercados financeiros começa a repercutir nos sistemas políticos asiáticos. O primeiro-ministro do Japão, Taro Aso, prometeu ontem a uma comissão do Parlamento que vai adiar as eleições nacionais, que eram esperadas para o início do próximo mês, para se concentrar na crise financeira. "Honestamente, isso para nós vai além da imaginação", disse Aso na Comissão de Orçamento. "Encontraremos mais motivos para apreensão pela frente", disse ele. A maior parte das bolsas asiáticas fecharam antes das ações dos bancos centrais, e os preços das ações na região sofreram uma derrota. Em Tóquio, o índice Nikkei de 225 ações recuou 9,4%. Ver também págs. B2, B3 e B5(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 1)(The New York Times)