Título: Arrocho faz estragos
Autor: Martins, Victor
Fonte: Correio Braziliense, 11/03/2011, Economia, p. 9

As medidas de elevação de juros e de contenção ao crédito adotadas pelo Banco Central começam a surtir efeito na perspectiva do brasileiro em relação ao futuro. Dados do Índice de Expectativas das Famílias (IEF), do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), revelam diminuição no nível de confiança da população sobre a situação econômica do país. Embora o índice apurado em fevereiro continue otimista, com 65,3 pontos, o resultado representa queda de 2,8% em relação a janeiro, quando foram registrados 67,2 pontos, recorde da série. O declínio foi verificado em todas as regiões brasileiras.

Por outro lado, 61,8% das famílias ¿ 2,2 pontos percentuais a menos que em janeiro ¿ apostam que o Brasil passará por melhores momentos nos próximos 12 meses. Nesse quesito, as regiões que apresentaram expectativa mais otimista foram Centro-Oeste (70,2%) e Sudeste (64,2%). Atrás no ranking da confiança, ficaram Nordeste (59%), Sul (58,4%) e Norte (58%). ¿Os resultados demonstram uma acomodação no avanço da expectativa das famílias. Mas não sabemos ainda se isso é pontual ou se representa uma tendência¿, afirmou ao Correio o presidente do Ipea, Marcio Pochmann.

Para o professor de finanças da Fundação Getulio Vargas (FGV-SP) e da Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP) Fábio Gallo Garcia, os resultados são reflexo direto da política de contenção ao crédito iniciada pelo governo em dezembro, quando o BC retirou da economia R$ 61 bilhões que poderiam ser utilizados para empréstimos a empresas e pessoas físicas. ¿Para mim, é muito claro. O brasileiro sente imediatamente a consequência dessas medidas. Se, antes, o consumidor tinha 82 meses para pagar um carro zero, agora, isso não é mais realidade. E a confiança no futuro diminui¿, destacou.

Já na avaliação de Sérgio Bessa, professor da FGV Management e consultor da empresa S Bessa e Associados, os dados estão relacionados ao aperto econômico vivido pelas famílias no início do ano. ¿Esse período é terrível para todo chefe de família, que tem contas como cartão de crédito, material escolar, IPVA e IPTU para pagar¿, avaliou.

Endividados Segundo a pesquisa, 49,3% da população brasileira têm algum tipo de dívida. Das famílias entrevistadas, 8% se consideram muito endividadas. Cerca de 15% delas afirmam que, embora tenham débitos a quitar, terão condições de pagá-los totalmente; 45% poderão honrar apenas uma parte deles e outras 38% dizem não ter condições de arcar com suas contas em atraso. ¿O nível de endividamento é consequência de todo o crédito oferecido à população em 2009 e 2010. O país adotou a política de risco, beneficiando setores e incentivando o consumo. Agora, estamos pagando a conta¿, analisou Garcia.