Título: Ações coordenadas dos BC são as mais eficientes
Autor:
Fonte: Gazeta Mercantil, 10/10/2008, Editoriais, p. A2

10 de Outubro de 2008 - Em ação coordenada, inédita na História, o Federal Reserve (Fed) e o Banco Central Europeu (BCE), apoiados por outros oito bancos centrais, reduziram os juros básicos. Foi o sinal mais convincente de que a crise global será enfrentada por iniciativas comuns articuladas entre as maiores autoridades financeiras do planeta. A eficácia desse comportamento não pode ser subestimada. O mercado pode até ter mantido a volatilidade, mas percebeu que haverá resposta seja qual for a emotividade dos players, seja qual for o tamanho da especulação. A chanceler alemã, Angela Merkel, foi bem clara quanto a essa disposição: "Nós iremos, obviamente, assegurar que nenhuma possibilidade seja descartada". Ela adiantou também que é essencial aguardar o impacto do corte coordenado, adiantando que a harmonização das regras contábeis européias e norte-americanas será articulada antes de qualquer nova medida. O alcance da medida pode ser avaliado pelas instituições envolvidas. O Fed e o BCE receberam o apoio instantâneo dos bancos centrais da Inglaterra, Canadá, Suíça , Suécia e Emirados Árabes. Logo depois, os bancos centrais da China , Hong Kong e Austrália juntaram-se ao bloco e também cortaram os seus juros em meio ponto percentual. Vale notar que o Fed anunciou o corte antes da sua reunião oficial, marcada para os dias 28 e 29 de outubro. O BCE também fez idêntica redução antes de sua reunião de 6 de novembro. Não foi diferente com o Banco da Inglaterra. Essa antecipação sugere que os bancos centrais dos grandes blocos econômicos guardaram munição: se os mercados não reagirem como esperado, devolvendo tranqüilidade na oferta de crédito, nas respectivas reuniões oficiais os juros cairão ainda mais. O Brasil, a rigor, seguiu a mesma partitura, alterando apenas o tom. O Banco Central anunciou medida de flexibilização dos depósitos compulsórios, injetando estimados R$ 23 bilhões no sistema financeiro. Na prática, é uma complementação de outras medidas semelhantes adotadas pela autoridade monetária, tornando disponíveis mais de R$ 60 bilhões em recursos extras para ampliar a liquidez, principalmente entre os agentes de menor porte. A medida, primeiro, ampliou de R$ 300 milhões para R$ 700 milhões o desconto que pequenos e médios bancos podem fazer no compulsório sobre os depósitos a prazo. Apenas essa decisão injetará mais de R$ 6 bilhões no sistema. Depois, o BC alterou a alíquota, de 8% para 5%, do recolhimento compulsório adicional sobre depósitos à vista, o que significará mais R$ 10 bilhões de liquidez no sistema. Alguns analistas criticaram a medida por flexibilizar depósitos que eram remunerados pela Selic, mas há consenso no mercado de que a medida ampliará a liquidez, melhorando as condições de crédito. O que mais interessa em todo esse processo de ações coordenadas de bancos centrais é o estabelecimento de prioridades. As autoridades monetárias ao redor do mundo perceberam que o importante era recuperar a confiança. É óbvio que oferecer recursos novos para os bancos é essencial para destravar o crédito, mas o mais relevante é conter o foco da crise: a confiança no sistema que vem da própria solidez dos bancos. Quando os governos desses países sinalizam com medidas fortes, que os bancos receberão quanta ajuda for necessária, os depositantes dispensam o pior dos conselheiros: o medo. Quando o medo arrefece, a confiança volta e com ela os negócios reaparecem. Por essa razão, a ação conjunta dos bancos centrais foi tão importante.O epicentro da crise é a desconfiança acumulada. A ação coordenada dos bancos centrais atacou esse ponto, indicando a certeza da percepção de que uma crise global só será resolvida com uma ação também global. Aliás, foi esse o sentido geral da análise do Fundo Monetário Internacional (FMI). O diretor-geral do Fundo, Dominique Strauss-Khan, elogiou a medida de redução dos juros básicos promovida pelos maiores bancos centrais, porém cobrou iniciativas mais abrangentes, igualmente coordenadas, para conter a volatilidade dos mercados financeiros. Para o FMI, essa decisão não significa mudança em suas projeções de crescimento econômico quase nulo no caso dos EUA e União Européia e próximo aos 3% nas economias emergentes, com exceção da China. Em outras palavras: o FMI não descartou uma recessão, mas avisou que ela poderá ser evitada ou bem atenuada se as autoridades econômicas agirem na direção certa. A volatilidade do mercado não cessará de imediato, mas uma ação conjunta e contínua dos bancos centrais lentamente afastará o medo e infundirá a confiança necessária para o crédito voltar a fluir. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 2)