Título: Países devem evitar a rota do isolamento
Autor: Americano, Ana Cecilia
Fonte: Gazeta Mercantil, 10/10/2008, Nacional, p. A5
Rio de Janeiro, 10 de Outubro de 2008 - "Este é um momento de escolhas difíceis. Continuaremos no caminho da abertura ou nos isolaremos economicamente?" Assim resumiu Carlos Gutierrez, secretário de Comércio dos Estados Unidos, o que considera uma questão crítica a ser encarada pelos países a partir a crise financeira que se abateu sobre norte-americanos e principais economias do mundo. Para Gutierrez, num cenário como o atual, ocorre a muitos a tentação da imposição de barreiras comerciais, sob o pretexto de se proteger empregos locais. "Cometemos esse erro em 1929", admitiu. Segundo Gutierrez, que esteve na Câmara Americana de Comércio do Rio de Janeiro ontem, na crise do final da década de vinte, predominou nos Estados Unidos uma política econômica voltada as barreiras protecionistas. "Isso levou outros países a fazerem o mesmo, de forma a protegerem seus mercados dos Estados Unidos. O resultado foi que as exportações dos Estados Unidos caíram drasticamente e o desemprego chegou aos 25%", frisou. Para ele, é fundamental que os países evitem o isolamento, principalmente num contexto como o atual. "Eu acredito que os países que se posicionaram melhor depois das crises de 1994 e de 1999 foram exatamente aqueles que se abriram ao comércio internacional, atraíram investimentos externos e exportavam", afirmou. "É preciso estar atento para não se adotar as políticas econômicas erradas diante da crise", alertou. Para ele, o mundo está repleto de exemplos de países cujas economias optaram pelo fechamento e rejeitaram o investimento externo. "Elas perderam a oportunidade do aprendizado de como competir internacionalmente", criticou. Na sua opinião, países como México e Chile, que firmaram acordos de comércio com os Estados Unidos, estariam, hoje, muito bem posicionados para enfrentar as dificuldades. Assim como Brasil e Peru, os quais trilharam os rumos das exportações e souberam atrair investimentos. "Os que não adotaram o protecionismo são exatamente os países mais protegidos contra os efeitos da crise", afirma. Gutierrez afirmou que todas as ferramentas disponíveis devem ser usadas pelos governos para neutralizar os efeitos da crise. Segundo o secretário, nos Estados Unidos, estão avançadas as tratativas para a compra de papéis previstos no pacote de US$ 850 bilhões recém-aprovado pelo Congresso norte-americano. "Os leilões devem ocorrer nas próximas semanas", garantiu. Os resultados concretos do pacote deverão demorar. "Tudo dependerá da eficiência e da velocidade com que as medidas serão tomadas", avaliou. Na opinião de Gutierrez, o momento exige que as economias em todo o mundo busquem trabalhar de forma coordenada para enfrentar a crise. "Liquidez e confiança são fundamentais agora", acrescentou. Para ele, Brasil e Estados Unidos têm um grande relacionamento comercial e que tende a crescer. "Hoje as transações nos dois sentidos somam US$ 50 bilhões anualmente; há três, quatro anos, eram US$ 30 bilhões", exemplificou. Questionado sobre Doha, o dirigente demonstrou otimismo. "Há líderes importantes - como o presidente Bush e o presidente Lula - pressionando os negociadores a buscarem uma solução", afirmou. Segundo ele, o momento favorece um entendimento, pois os países emergentes teriam muito a se beneficiar de uma maior liberdade de comércio entre as nações. Gutierrez está no Brasil com a missão, entre outras, de dar início a discussões que possam levar a um tratado bilateral Brasil-Estados Unidos no campo tributário. A intenção é equalizar, dentro do possível, os dois sistemas e evitar que os investidores de ambos os países sejam sobretaxados em suas operações. "Não quero criar expectativas a esse respeito, pois as primeiras conversas depois de 40 anos estão apenas no início, mas as comunidades de negócios de ambos os países encaram a iniciativa como muito positiva", garantiu. O secretário de Comércio também veio ao País discutir investimentos em projetos de infra-estrutura e de energia no Brasil. Hoje participará, em São Paulo, de um fórum binacional formado por presidentes de grandes empresas. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 5)(Ana Cecilia Americano)