Título: Ganho real mais distante em 2011
Autor: Bonfanti, Cristiane
Fonte: Correio Braziliense, 11/03/2011, Economia, p. 10

As negociações salariais entre patrões e empregados não serão nada fáceis neste ano. Se, em 2010, mais de 90% dos acordos resultaram em reajustes iguais ou acima da inflação, em 2011, os sindicatos terão de travar uma verdadeira queda de braço se quiserem assegurar ganhos semelhantes às suas bases. De um lado, os empresários alegam que, como a atividade econômica está em desaceleração, não podem oferecer aumentos reais. De outro, os trabalhadores reclamam que a alta dos preços está corroendo o poder de compra, sobretudo de quem ganha menos.

O coordenador de Relações Sindicais do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), José Silvestre Prado, explica que, mais do que em outras épocas, o empresariado tende a endurecer o jogo. ¿Todo o pano de fundo é o crescimento da economia. Mas os sindicatos devem continuar na briga pelo aumento real¿, resume. Nas previsões do mercado, o Produto Interno Bruto (PIB) avançará entre 3,2% e 3,9% neste ano, sendo que um dos pilares será o setor de serviços. Bancários, metalúrgicos, professores, rodoviários e petroleiros já se organizam para lançar campanhas salariais duras. Na lista de prioridades estão, entre outras coisas, reposições acima da inflação no contracheque, atualizações no valor dos principais benefícios e aumento na participação nos lucros das companhias.

A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) admite certa tensão durante as negociações diante das mudanças do cenário macroeconômico. O diretor de Relações do Trabalho da entidade, Magnus Ribas Apostólico, afirma que, embora seja cedo para excluir as possibilidades de aumento real, a tendência é que os reajustes ocorram em ritmo menor que os observados nos últimos seis anos. ¿Nossa negociação ocorre apenas em agosto e setembro e, agora, estamos observando o mercado. Como teremos crescimento econômico menor, os acordos devem girar em torno da inflação¿, destaca.

Carência Enquanto a maioria dos trabalhadores enfrentará obstáculos para conseguir ganhos reais de salário, profissionais qualificados continuam em alta no mercado. Com isso, para conseguir oferecer serviços ou produtos de qualidade, as empresas têm apenas duas saídas: treinar o trabalhador ou pagar mais para tirá-lo da concorrência. ¿Esse é outro dado da conjuntura. Falta mão de obra em alguns setores¿, explica Silvestre Prado, do Dieese.

Entre os setores mais carentes, destacam-se construção civil e tecnologia da informação. Além disso, ressalta o especialista, mesmo que haja um desaquecimento da economia neste ano, em 2012 o cenário tem tudo para ser promissor. ¿No próximo ano, o salário mínimo deve aumentar entre 13% e 14%, o que terá um possível impacto positivo nas negociações¿, reforça Prado. Em 2010, o Brasil criou 2,5 milhões de empregos formais, conforme dados oficiais do Ministério do Trabalho, um recorde. Em janeiro passado, a taxa de desocupação chegou a 6,1% em janeiro, considerada por especialistas o patamar mais próximo do pleno emprego.

Empresas pressionadas Luciano Pires

O Ministério Público do Trabalho (MPT) quer obrigar as empresas privadas a fazer valer uma regra que, apesar de constitucional, é letra morta nas relações entre patrão e empregado. A Carta Magna, em seu artigo 11, prevê que companhias com mais de 200 funcionários devem assegurar a eleição de um deles para representá-los na cúpula da organização. O mecanismo dá mais voz à base e retira dos sindicatos a exclusividade de falar em nome do trabalhador.

Por desinteresse dos empregadores, a lei vem sendo ignorada há duas décadas, mas isso tende a mudar. A possibilidade de negociar salários e melhores condições diretamente com presidentes e diretores de corporações é encarada pelo MPT como um direito fundamental. Ricardo José Macedo de Britto Pereira, procurador do trabalho, diz que a medida precisa ser assegurada a qualquer custo, ainda que o setor privado e o sindicalismo de um modo geral resistam. ¿A intenção é aproximar os empregados e estimular os sindicatos a terem uma atuação mais presente. Boa parte dos trabalhadores está à margem dos sindicatos¿, justifica Pereira.

Até agora, as ações têm sido no sentido de dialogar, colher sugestões e convencer o empresariado a adotar a ferramenta. Na próxima segunda-feira, em São Paulo, procuradores do trabalho e representantes da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e da Confederação Nacional do Comércio (CNC) vão se reunir para traçar as linhas básicas de um plano que visa incentivar redes supermercadistas e empresas da construção civil a realizarem as primeiras eleições de representantes. Se não houver avanços, Pereira admite que a saída será buscar na Justiça a garantia para o cumprimento da norma. ¿A expectativa é que haja um efeito cascata¿, completa o procurador do trabalho.

No Senado Está na Comissão de Assuntos Sociais (CAS) do Senado um projeto de lei que regulamenta a eleição de representantes dos empregados nas empresas com quadro funcional superior a 200 pessoas. A proposta conta com a simpatia de parlamentares da base de apoio ao governo e da oposição. O texto, se aprovado, deverá colocar fim à polêmica jurídica que há tantos anos emperra a realização da escolha de um funcionário para falar em nome dos demais em uma mesma empresa.

AOL fará corte de 20% A AOL, portal americano de internet, vai cortar cerca de 20% de sua força de trabalho global. Em meio a uma reorganização corporativa, com o enxugamento e mudanças na gestão, a empresa pretende alcançar rivais que estão em franca expansão, como o Google e o Facebook. Mais de 900 funcionários dos 5 mil trabalhadores da companhia perderão seus empregos.

A companhia vai cortar cerca de 400 empregados na Índia, terceirizar outras 300 posições e eliminar cerca de 200 postos de trabalho nos Estados Unidos. Em seu auge, a AOL já teve mais de 20 mil funcionários em todo o mundo, mas desde a fusão com a Time Warner, em 2001, e seu desmembramento em 2009, tem perdido espaço devido à grande competição no mercado de internet.

¿Queremos dirigir uma empresa lucrativa, que mostre crescimento, e seja direcionada para a produção de conteúdo e para a publicidade¿, disse ontem o presidente-executivo da AOL, Tim Armstrong, em uma audiência com executivos do setor de mídia em Nova York, nos Estados Unidos, confirmando os cortes. A receita de publicidade do AOL vem caindo fortemente. Durante o quarto trimestre de 2010, o recuo foi de 29%, batendo em US$ 331,6 milhões.