Título: Governo brasileiro não vai sociabilizar perdas com a crise
Autor: Vizia, Bruno De
Fonte: Gazeta Mercantil, 13/10/2008, Nacional, p. A4

São Paulo, 13 de Outubro de 2008 - A ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, procurou, na última sexta-feira, tranqüilizar os agentes econômicos ao assegurar que o governo manterá os investimentos programados e propiciará condições para que o setor privado não seja estrangulado pela falta de crédito. Entretanto, ela deixou claro que essa decisão não implica em concessão de benesses, ao afirmar que "o governo não pretende sociabilizar perdas e não foi procurado para isso". Dentre as alternativas para auxiliar empresas em dificuldade, a ministra salientou a possibilidade de o governo "oferecer linhas de financiamento, que deverão ser pagas pelos tomadores". Dilma considera o Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) "em pleno regime de cruzeiro". A avaliação da ministra é que atualmente o grau de execução do PAC "aumentou nos últimos dois meses, e neste ano está bastante elevado em relação a 2007, quando estávamos estruturando o processo e dando conta de obstáculos e licenças ambientas". Ao falar durante o Fórum CEOs Brasil-EUA, realizado em São Paulo, ela foi categórica ao afirmar que "não existe nenhuma previsão de reajustar o PAC para baixo". O PAC, para a ministra, "tem uma característica muito importante, porque é um programa anticíclico e assegura o nível de investimentos no Brasil". Dilma lembrou que no atual momento "há um fato muito importante: as nossas dívidas, externa e principalmente a interna, não estão em dólar, como em 1999, o que nos faz ter a melhor situação financeira dos últimos anos para enfrentar a crise." Ela voltou a ressaltar os fundamentos "robustos" e a solidez das condições internas da economia nacional. "Temos um volume de reservas financeiras consideráveis, e o governo vai assegurar todas as operações contratadas pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), pois são os investimentos que assegurarão o trânsito do Brasil nessa situação internacional". Ganância e pânicoPara a ministra, a crise teve origem na busca pelo lucro abusivo. "Da ganância chegamos ao pânico, e estes são dois fatores parelhos, muito típicos de crises". Mas, segundo Dilma, "o Brasil não pode ser contaminado pelo pânico, pois precisamos ter clareza de que nossa situação é diferente, caso contrário nos tornamos presa fácil do pânico." Já o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge, descartou que haja no País um processo recessivo, mas avaliou como certa "alguma diminuição do nível de crescimento". Apesar disso, ele manteve a previsão de a corrente comercial brasileira movimentar US$ 202 bilhões este ano. Josué Christiano Gomes da Silva, presidente da Companhia de Tecidos Norte de Minas (Coteminas), afirmou durante o evento não acreditar que o consumo interno brasileiro tenha que ser afetado. "O governo está agindo para liberar os recursos e, com a possibilidade do Banco Central comprar a carteira de crédito de pequenas instituições, haverá minimização dos efeitos da crise de crédito no Brasil", disse o empresário. Silva lembrou que grande parte das exportações do Brasil são de alimentos, e, independente da crise, "as pessoas vão continuar a comer; portanto, acho que a exportação destes produtos sofre menos, pois a queda no preço do petróleo compensa um pouco a queda nos preços internacionais dos alimentos." (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 4)(Bruno De Vizia)