Título: Preço de manufaturado afeta fechamento de contratos
Autor: Monteiro, Viviane
Fonte: Gazeta Mercantil, 14/10/2008, Nacional, p. A5
Brasília, 14 de Outubro de 2008 - A crise financeira internacional deve reduzir as exportações e as importações brasileiras no próximo ano, o que tende a afetar a meta de superávit da balança comercial. Segundo o vice-presidente da Associação de Comercio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, os efeitos da turbulência mundial se tornarão mais visíveis na balança comercial em 2009, embora a crise "já venha reduzindo as exportações brasileiras", nas últimas semanas. A mesma opinião tem o ex-diretor do Banco Central, Carlos Eduardo de Freitas. Ele concorda que o Brasil terá exportações menores em função da crise internacional que vai diminuir a demanda mundial por produtos. Castro disse que o Brasil reduzirá as exportações em US$ 15 bilhões, no mínimo, em 2009. Se isso acontecer, a cifra poderá cair 8% em relação aos US$ 203 a US$ 204 bilhões estimados pela AEB este ano. A projeção da AEB está em linha com a do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), de US$ 202 bilhões. De acordo com a AEB, as importações devem ficar entre US$ 180 bilhões e US$ 181 bilhões este ano. Com isso, o saldo ficará em US$ 24 bilhões. Exportações menores A queda nas exportação previstas para 2008 será puxada, principalmente, pela redução dos preços das commodities em relação a 2008 -- em decorrência do arrefecimento da economia mundial. "Sabemos que as exportações vão cair, mantido o cenário atual, de cotação de commodities em baixa", avalia Castro. Para ele, ainda é cedo para estimar o saldo comercial para 2009. Porém, diz, certamente ficará abaixo dos US$ 23 bilhões estimados para 2008. "O saldo comercial no próximo ano pode ficar negativo, zerado ou ficar positivo em US$ 5 bilhões ou em US$ 10 bilhões. Ainda não se sabe como o saldo vai se comportar", avaliou. Segundo Castro, os novos contratos de exportação estão parados à espera de uma definição para a taxa de câmbio e da melhora na liquidez no mercado de crédito em dólar, principalmente no que se refere aos produtos manufaturados que não têm uma referência de preço como as commodities que são cotados em Bolsas. Isso vale também para as importações, pois os empresários estão analisando o cenário para fazer novas compras de matérias primas e de produto acabados.. "Os novos contratos estão lentos porque os exportadores e os importadores estão analisando o cenário, porque ninguém sabe em que patamar o dólar vai se acomodar. Segundo entende Castro, no momento, só estão exportando e importando aqueles que já estão com contratos fechados anteriormente ao agravamento da crise. Freitas entende que o arrefecimento, ou mesmo a recessão, das economias dos Estados Unidos e da Europa provocarão um efeito em cadeia no mundo que vai atingir os países emergentes, como o Brasil e Argentina. "Esses países perderão receita de exportação, porque os países desenvolvidos comprarão menos", avaliou Freitas, hoje diretor da OF Consultoria, em Brasília. As importações brasileiras também devem cair, tanto pela valorização do dólar ante o real como pelo arrefecimento da economia doméstica, avalia o ex-diretor do Banco Central. Queda nas commodities Os reflexos da crise financeira mundial já começaram a ser sentidos nos números da balança comercial, em decorrência da queda dos preços das commodities. Segundo o Ministério do Comércio Exterior, no acumulado deste mês, com oito dias úteis, as exportações somam US$ 6,848 bilhões (com média diária de US$ 856 milhões) e as importações de US$ 6,308 bilhões (média por dia de US$ 788,5 milhões). Em comparação ao mês passado, as exportações caíram 6% e as importações aumentaram 0,5%. Com isso, o saldo comercial ficou superavitário em US$ 540 milhões, 46,2% menor que o registrado em todo o mês de setembro e 56,7% menor que o índice de todo o mês de outubro de 2007. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 5)(Viviane Monteiro)