Título: Crise será superada, diz Mantega a empresários e investidores
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Fonte: Gazeta Mercantil, 14/10/2008, Internacional, p. A11

Washington, 14 de Outubro de 2008 - O ministro da Fazenda Guido Mantega encerrou sua visita ontem em Washington deixando a mensagem de que o País nunca esteve tão preparado para enfrentar a atual turbulência dos mercados internacionais e que o governo brasileiro utilizará "todas as armas disponíveis" para enfrentar essa "guerra contra a crise financeira". Mantega aproveitou para anunciar também que o Banco Central derrubou ainda mais a taxa de depósito compulsório com o objetivo de dar mais liquidez ao mercado interno e que o governo mantém a meta de superávit fiscal em 4,3% para este e também para 2009, como forma de que a macroeconomia do País vai continuar sendo um dos pontos fortes. "Vamos manter a meta de 4,3% neste ano e fazer 0,5% a menos no próximo ano e no mínimo zerar o déficit nominal até 2010. Vamos continuar a cortar os gastos correntes, viabilizar os investimentos em infra-estrutura", destacou o ministro um encontro com empresários brasileiros e americanos realizado pela Câmara de Comércio Brasileiro-americana em paralelo ao encontro anual do Fundo Monetário Internacional (FMI). Em uma apresentação para empresários e investidores, Mantega lembrou que o resultado fiscal registrado de janeiro a agosto foi o melhor desde 1991. "O déficit nominal de 0,58% é porque as contas dos municípios ainda não estão tão adequadas", destacou o ministro enumerando uma série de indicadores positivos da economia brasileira para a platéia de cerca de 200 pessoas, como o grande mercado interno e o fato de as exportações terem um peso pequeno na economia do País. Ele afirmou ainda que o Brasil será um dos únicos países a cumprir a meta de inflação este ano. "Vamos ver como vai comportar a taxa de câmbio, mas não podemos ainda fazer previsão, mas com certeza alguma desvalorização do real. A política monetária do governo continuará priorizando o controle da inflação", disse. Mais uma vez o ministro classificou a crise atual com a de 1929, mas procurou minimizar o fato de que as conseqüências e as magnitudes são bastante diferentes. Ao lembrar que a Grande Depressão encolheu em 40% o PIB dos EUA e em 30% o do Brasil, Mantega afirmou que isso não deverá ocorrer na crise atual porque os governos não irão cometer os mesmos erros daquela época. "Poderão cometer novos erros, mas os outros não serão cometidos", brincou. "Essa crise é certamente mais grave do que as crises regionais dos anos 1980 e 1990, que não estavam localizadas no centro do sistema. Eram crises de bilhões de dólares. Agora a crise é no epicentro do sistema financeiro e, portanto, mudou para trilhões de dólares e abrange todo o sistema do mercado", acrescentou. Mantega reconheceu que todos os países serão atingidos pela crise, inclusive o Brasil, mas o impacto será diferente em cada país e por isso cada um deverá utilizar suas armas para enfrentá-la. "Mas essa crise será superada", afirmou ele ressaltando o fato de que houve uma inversão do cenário da crise atual onde os problemas de solvência, de liquidez e confiança agora permeiam os países desenvolvidos. "Já isso não acontece em grande parte dos países emergentes. Especialmente no Brasil." O ministro brasileiro denominou-se realista ao invés de otimista. "O Brasil conquistou uma situação mais sólida do ponto de vista produtivo e do ponto de vista financeiro. O sistema financeiro brasileiro é menos alavancado e tem rendimentos mais elevados. Portanto, está capitalizado. Não estamos envolvidos com o suprime (algo que ele agora chama de "ativos tóxicos"). A economia real é muito sólida e vem de um impulso que é causado pela demanda, pelo mercado interno, mercado que temos que segurar e não impulsionar. Essa é a diferença. No Brasil, nós temos que segurar para que o mercado não cresça muito." (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 11)(Rosana Hessel)