Título: Europa ataca crise com plano de resgate de US$ 2,2 trilhões
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Fonte: Gazeta Mercantil, 14/10/2008, Finanças, p. B1

Paris, 14 de Outubro de 2008 - Os governos europeus lançaram nesta segunda-feira um plano de ataque geral contra a crise financeira mundial, com compras multimilionárias de ativos bancários e empréstimos que somam a cifra de quase ¿ 1,7 trilhão de euros (US$ 2,2 trilhões). Ao mesmo tempo em que foram pensadas em comum algumas diretrizes amplas para enfrentar a queda nos mercados de ações e o congelamento dos mercados de crédito, as principais economias européias também adotaram algumas medidas individualmente, destacando diferenças de approach no combate da pior crise financeira do pós-guerra. Ontem, os líderes europeus concordaram em agir nacionalmente lançando mão dos instrumentos necessários para responder às especificidades locais. "Já passou o tempo em que cada um atuava isoladamente", afirmou o presidente francês Nicolas Sarkozy, durante uma coletiva de imprensa em Paris. Sarkozy anunciou que seu governo garantirá ¿ 320 bilhões em empréstimos bancários e criará um fundo capaz de injetar até ¿ 40 bilhões na economia para recapitalizar os bancos. Na Alemanha, o governo da chanceler Angela Merkel prometeu ¿ 400 bilhões em garantias de empréstimos e reservou ¿ 20 bilhões para cobrir prejuízos potenciais. O governo alemão também fornecerá cerca de ¿ 80 bilhões de euros para recapitalizar os bancos, ou cerca de 3,2% do Produto Interno Bruto (PIB) da Alemanha. O pacote de resgate norte-americano, no valor de US$ 700 bilhões, destinado à compra de dívidas podres dos bancos e, possivelmente, à recapitalização dos bancos, é equivalente a 4,9% do PIB dos Estados Unidos. Na mesma linha, o gabinete da Espanha aprovou medidas para garantir até ¿ 100 bilhões de euros em dívidas dos bancos este ano e autorizou o governo a comprar ações de bancos que necessitarem de capital. O primeiro-ministro espanhol José Luis Rodríguez Zapatero informou que os bancos estão precisando ser recapitalizados no momento e que a medida é "preventiva". O acordo fechado pelos líderes dos 15 países que usam o euro como moeda ajudou a desencadear uma alta no mercado de ações e na cotação do euro, após a queda dos mercados registrada na semana passada - quando o índice referencial das ações européias despencou 22%, maior recuo em duas décadas, antes de registrar recuperação de até 7,4% ontem. Antes de os mercados abrirem na Europa, o Federal Reserve (Fed, o Banco Central dos Estados Unidos) anunciou uma ação conjunta com o Banco da Inglaterra, o Banco Central Europeu e o Swiss National Bank para fornecer fundos a uma taxa de juros fixada antecipadamente a cada operação. O Fed disse que aumentaria suas linhas para swap com esses bancos centrais "a fim de acomodar quaisquer quantidades de dólares americanos que estejam financiando" a demanda das instituições. O Banco do Japão considerava fazer parte do plano. Enquanto isso, na Inglaterra, o Royal Bank of Scotland - visto uma vez entre as mais sólidas instituições da Main Street da Grã Bretanha - anunciou que tentaria obter cerca de US$ 64 bilhões a fim de reforçar seu capital como parte de uma operação de salvamento desenvolvida pelo primeiro ministro Gordon Brown e Alistair Darling, ministro das Finanças, e oferecida como um modelo global para resolver a crise. O banco disse que o governo britânico compraria ações preferenciais, avaliadas em cerca de US$ 8,5 bilhões, e subscreveria o resto. O acordo poderia significar que o governo britânico será proprietário de cerca de 60% do Royal Bank of Scotland e de mais de 40% do HBOS e do Lloyds TSB, que estão negociando uma fusão. O Barclays Bank disse que levantaria mais de US$ 10 bilhões de investidores privados. Como parte do acordo, Fred Goodwin, o principal executivo do Royal Bank of Scotland, renunciou, refletindo o desejo do governo de evitar dar a impressão de que a operação de salvamento esteja recompensando os banqueiros. Ele será sucedido por Stephen Hester, o principal executivo do British Land. Anunciando limites sobre os bônus e dividendos nos bancos nos quais o governo terá uma participação, Brown disse: "A idéia a ser seguida é de que haja recompensas justas para o trabalho duro, o esforço e a iniciativa, e não um incentivo à irresponsabilidade ou à excessiva contração de riscos pela qual o resto de nós tem pago." Novo Bretton Woods O premiê defendeu ainda a criação de uma nova "arquitetura financeira" que reflita o alcance econômico e do sistema bancário, que ainda é muito semelhante ao modelo desenhado durante o encontro de Bretton Woods, em New Hampshire, depois da Segunda Guerra Mundial. A escala das jogadas do governo pegou alguns especialistas de surpresa. "O capital que está sendo levantado tem uma escala maior que a prevista previamente", disse Simon Willis, analista do NCB Stockbrokers em Londres. "A boa notícia é que isto pode colocar os bancos do Reino Unido em uma condição mais forte agora e dar a eles uma reserva para enfrentar a queda da atividade econômica". Mais informações na pág. B4(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 1)(Agências internacionais)