Título: Bolsa registra maior queda em dez anos
Autor:
Fonte: Gazeta Mercantil, 16/10/2008, Finanças, p. B1
São Paulo, 16 de Outubro de 2008 - O sentimento, confirmado em evidências, de que os Estados Unidos entrarão em um processo recessivo aumentou os níveis de pessimismo nas bolsas ao redor do mundo na sessão de ontem.
O Ibovespa, carteira teórica que reúne as 66 principais ações do mercado brasileiro, teve seu pior desempenho em dez anos. O índice recuou 11,39%, aos 36.833 pontos. No dia 10 de 1998, a queda foi ainda maior: de 15,82%.
O recuo aconteceu em um dia de grandes perdas desde a abertura dos negócios. O pregão sofreu sua quinta interrupção (com o acionamento do circuit breaker) durante este ano. Com isso, a negociação de papéis, que ontem incluía também opções sobre o Ibovespa, foi prorrogada por mais 30 minutos. O giro financeiro do dia somou R$ 9,7 bilhões.
Um dos dados negativos que mais contribuíram para piorar o ânimo do mercado acionário foram os relativos às vendas do varejo nos Estados Unidos. O indicador registrou queda de 1,2%, durante o mês passado. "Tecnicamente, não sabemos se haverá recessão, mas que o declínio era patente e previsível, não há a menor duvida", afirma o consultor de investimentos do Real Private Banking, Delano Marques.
A euforia ocorrida na segunda-feira, após o anúncio de uma ação coordenada da União Européia para sanear o sistema financeiro, não foi sustentada. E, na avaliação de Marques, o movimento de volatilidade nos mercados financeiros deve continuar. O mundo, em sua opinião, estará atento aos efeitos da freada de sua principal economia nos planos de empresas e no consumo de indivíduos. "Já começamos a perceber que as companhias, em especial as de capital aberto, começam a ficar mais atentas ao problema de crédito. Elas dificilmente comprometerão seu caixa para novos investimentos em um clima como o atual, onde captações estão cada vez mais difíceis", projeta.
De acordo com Delano, o prazo razoável para que as bolsas voltem a operar em níveis de maior racionalidade estará atrelado à melhora dos parâmetros da economia real. "Estimo que só teremos a recuperação da atividade econômica no fim de 2009"., diz.
No radar
Outros analistas também vislumbram dificuldades para empresas brasileiras nos próximos tempos. "Os principais problemas são a incerteza, a contração de crédito e os níveis de incerteza", afirma o analista da XP Investimentos, Theodoro Fleury.
Com um processo de recessão se aproximando, matérias-primas (commodities) e insumos básicos passarão a ter seus preços cada vez mais pressionados durante os próximos meses.
Ontem, por exemplo, o petróleo recuou mais de 5%.
Empresas que fornecem essa e outras commodities já tiveram uma prova de fogo ontem na bolsa paulista. Os papéis da Vale caíram mais de 18%, vendidos a R$ 25, 64. As ações da Companhia Siderúrgica Nacional recuaram pouco mais de 17%, sendo negociadas a R$ 25,28 ao fim do dia.
Em uma sessão de perdas generalizadas papéis de empresas de outros setores também foram punidos pelo investidor que saiu à venda. O frigorífico JBS, a empresa de construção civil Gafisa e a rede de varejo B2W foram exemplos do movimento. As ações das três caiu pelo menos 20% no dia. "Com a recessão batendo à porta, as negociações de valores de insumos ficará bem difícil", diz o economista-chefe da Souza Barros, Clodoir Vieira. (Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 1)(Luciano Feltrin)