Título: Europa programa cúpula financeira
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Fonte: Gazeta Mercantil, 16/10/2008, Finanças, p. B1
Bruxelas, 16 de Outubro de 2008 - A União Européia (UE) aprovou ontem em reunião em Bruxelas de estender aos seus 27 membros o plano de emergência para conter a crise financeira adotado pelos países da Zona do Euro, após uma nova rodada de queda das bolsas de valores por temor de uma recessão.
No primeiro dia de reuniões, os líderes europeus também apelaram para a realização de uma cúpula mundial ainda este ano para tratar da reforma do sistema financeiro internacional, afirmou o presidente francês, Nicolas Sarkozy, presidente da UE. Os chefes de estado reunidos ontem concordaram com "a necessidade de reforçar a supervisão do setor financeiro europeu, especialmente dos grupos multinacionais".
O primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, já havia antecipado a decisão, horas antes, que a cúpula deve ser realizada com as principais economias do mundo, a fim de reformar o sistema financeiro mundial e preparar o caminho para um pacto comercial internacional.
Brown, cujo plano de resgate dos bancos do Reino Unido serviu de referência para toda a Europa e Estados Unidos, também defendeu que as economias do centro e leste da Europa necessitarão de ajuda extra dos organismos internacionais para enfrentar a crise. "Acredito que poderemos realizar um fórum nos próximos meses para decidir sobre grandes mudanças na economia internacional", disse ele a jornalistas antes da reunião da UE.O líder britânico afirmou que espera que o G8 - ao lado de economias emergentes como China, Índia, Brasil e África do sul - participe de um encontro para discutir tais reformas em novembro ou dezembro. Como primeira medida para melhorar a supervisão além das fronteiras nacionais, Brown sugeriu que, até o fim deste ano, as 30 principais multinacionais do mundo passem a ser fiscalizadas por organismos de supervisão internacionais no lugar de reguladores que atuam isoladamente. O Reino Unido fez circular entre seus parceiros da UE um documento no qual propõe formas para restabelecer a confiança no sistema financeiro.
"Ao mesmo tempo em que estamos reconstruindo nossas instituições financeiras em escala mundial, também deveríamos aproveitar a oportunidade para pensar um acordo comercial." Todos os países devem entender que o protecionismo não é o caminho correto, afirmou. "Devemos difundir a mensagem que empobrecer o vizinho, como fazia-se no passado, não ajuda a ninguém", destacou Brown.
Contraste
Ao final do encontro de ontem, alguns países da União Européia, como Polônia e Itália, anunciaram sua rejeição à sugestão do Parlamento Europeu e do plano com o argumento de que os seus objetivos são excessivos, no atual contexto. "A Europa inteira, sem exceção, apoiou as medidas tomadas no domingo passado em Paris contra esta crise sem precedentes", disse Sarkozy em referência ao plano concebido pelo primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, e com base numa garantia de empréstimos interbancários e de apoio às instituições para evitar a falência, com o recurso das injeções de capital e sua parcial nacionalização.
Bretton Woods
O presidente do Banco Central Europeu (BCE), Jean-Claude Trichet, disse também ontem que as autoridades que estão reformulando o sistema financeiro mundial deveriam tentar voltar à "``disciplina""" do acordo de Bretton Woods, que regulamentou os mercados nas décadas imediatamente seguintes à Segunda Guerra Mundial. "Talvez o que precisamos é voltar ao primeiro acordo de Bretton Woods, voltar à disciplina", disse Trichet, depois de fazer um pronunciamento ontem no Clube de Economia de Nova York. "Está absolutamente claro que os mercados financeiros precisam de disciplina: disciplina macroeconômica, disciplina monetária, disciplina de mercado."
Autoridades européias da área econômica têm pressionando pelo enrijecimento da supervisão dos mercados, depois que o arrocho do crédito culminou, na semana passada, no maior movimento de venda de ações desde 1933. Brown já sugeriu a reavaliação mais radical da arquitetura financeira mundial desde que as autoridades norte-americanas e européias se reuniram em Bretton Woods, no Estado norte-americano de Nova Hampshire, em 1944. As normas que eles formularam na ocasião regulamentaram boa parte da economia mundial durante os 30 anos que se seguiram.
Em Bretton Woods, os países concordaram em fixar taxas de câmbio, fundar o Fundo Monetário Internacional (FMI) e começar o processo de reconstrução da economia européia no período pós-Segunda Guerra Mundial pelo estímulo à adoção de políticas econômicas coordenadas. Brown disse que as autoridades reguladoras nacionais precisam coordenar seu trabalho e os bancos deveriam ser levados a divulgar mais posições em transações.
Ver também págs. B2, B3 e B4(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 1)(Agências Internacionais)