Título: Para Mercadante, é preciso agir com cautela
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Fonte: Gazeta Mercantil, 16/10/2008, Finanças, p. B3

Brasília, 16 de Outubro de 2008 - O Banco Central vai adotar cautela na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), 28 e 29 deste mês, e manter o patamar da Selic nos atuais 13,75% anuais. A avaliação é do senador Aloizio Mercante (PT-SP), presidente da Comissão de Assunto Econômicos (CAE), do Senado Federal. Ele defendeu austeridade fiscal e eficiência dos gastos públicos para ajudar o Brasil a enfrentar a crise financeira internacional. "A crise seguramente vai impor (a redução de gastos)."

A prioridade do governo no momento é enfrentar a crise, segundo o senador, que acredita que o governo revisará a expectativa de crescimento da economia para baixo em 2009 no Orçamento da União. A economia deverá crescer abaixo dos 4,5% previstos na peça orçamentária, encaminhada ao Congresso Nacional no mês passado. "É evidente que vamos revisar a estimativa para baixo", disse, afirmando que isso pode acontecer por conta do arrefecimento da economia mundial.

Diante do cenário de incertezas da economia mundial, Mercante diz que a "posição mais adequada" do Banco Central seria a de adotar cautela em relação à taxa de juros na próxima reunião do Copom. "Tudo agora tem que ter cautela. Na minha avaliação, a desaceleração da economia mundial é muito forte, o preço das commodities cederam fortemente, portanto a posição mais adequada seja a de cautela do BC", disse. Ele acrescenta que houve uma forte mudança do cenário econômico desenhado pelo BC na última ata do Copom. "Não há mais aquele cenário da ata do BC, que sinalizava claramente aumento da taxa de juros."

Ele fez um relato da crise mundial, em seu gabinete. Disse que, do ponto de vista do impacto na bolsa, a crise mundial atual "é mais grave" do que a de 1920 e 1930, quando o maior queda da bolsa de Nova York foi de 42%, queda que atualmente já atingiu 46%. Segundo Mercadante, o saldo da dívida das empresas americanas chega a US$ 12,3 trilhões, equivalente a 89% do PIB dos Estados Unidos (US$ 13,8 trilhões). E as perdas dos bancos estadunidenses beira US$ 580 bilhões. "A crise é grave porque se deu a partir do epicentro da maior economia do mundo", disse, ao ressaltar, entretanto, que ela será superada pois o mundo aprendeu a dar respostas a crises depois da experiência da crise de 1930. O senador acredita que a crise atingirá a economia real e não ficará restrita apenas ao sistema financeiro. No caso do Brasil, disse que o impacto do furacão "será amenizado" pois a economia tem fundamentos sólidos, sustentado pelo acúmulo de reservas internacionais, em US$ 203 bilhões. Segundo ele, 28 países já recorreram ao Fundo Monetário Internacional (FMI), porque as reservas internas já secaram. "O Brasil tem esse colchão amortecedor." Mercadante informou que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, telefonou ontem para o senador Aloizio Mercadante pedindo para adiar a audiência pública do presidente do BC, Henrique Meirelles, na CAE, de hoje para terça-feira, 21.

(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 3)(Viviane Monteiro)