Título: BB quer aproveitar crise para comprar R$3 bi em carteiras
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Fonte: Gazeta Mercantil, 16/10/2008, Finanças, p. B3

São Paulo, 16 de Outubro de 2008 - O Banco do Brasil (BB) está negociando a compra de R$ 3 bilhões em carteiras de crédito consignado de pequenas instituições. As compras devem ser financiadas com a quantia de até R$ 11,4 bilhões de recursos adicionais aos quais o banco terá acesso com a flexibilização do recolhimento compulsório definida pelo Banco Central (BC).

"A crise trouxe muitas ameaças, mas também muitas oportunidades", afirmou Aldo Luiz Mendes, vice-presidente de finanças, mercado de capitais e relações com investidores do banco, em teleconferência com analistas realizada ontem.

Segundo ele, além do interesse de bancos menores em vender carteiras para evitar um comprometimento da estrutura de capital, num momento de enxugamento da liquidez no sistema interbancário, o BB também está sendo beneficiado pelo aumento do volume de depósitos, com a migração de recursos para instituições consideradas mais sólidas por parte do correntista.

Total de depósitos cresce

De junho a agosto, o total de depósitos na instituição subiu de R$ 195,5 bilhões para R$ 214,1 bilhões. "É o efeito ""fly to quality""", disse Marco Geovanne Tobias da Silva, gerente-geral de relações com investidores do BB.

De acordo com Mendes, como a taxa média de inadimplência tem se mantido baixa - na casa de 3,3% nos atrasos superiores a 90 dias -, o banco sente-se confortável para continuar ampliando a oferta de financiamento, mesmo diante de um cenário mais incerto.

De junho a agosto, a carteira de crédito total da instituição subiu 1,73%, para R$ 193,3 bilhões. O Banco do Brasil manteve a meta de expandir os financiamentos entre 25% e 30% em 2008. Para 2009, no entanto, a expectativa de intervalo de 20% a 25% de crescimento está em revisão para baixo, informaram os executivos da instituição financeira..

Revisão de dividendo

Essa agressividade nas operações de crédito fez o nível de proteção do capital do banco, medida por Basiléia 2, recuar de 15,3% para 13,7%, aproximando-se do piso de 11% exigido pelo Banco Central. Com isso, o BB contempla a possibilidade de mudar sua política de distribuição de dividendos pagos aos acionistas, o que o permitiria usar parte dos recursos de lucros para fortalecer sua posição de capital, caso esta medida seja considerada necessária.

"Hoje, ainda poderíamos emprestar mais R$ 40 bilhões sem comprometer nosso índice de Basiléia. Mas poderemos optar pelo reforço de capital a reduzir a oferta de crédito", disse Mendes durante a teleconferência.

O executivo ainda informou que o banco poderá pedir à Bovespa a extensão do prazo para atender a exigência de ter pelo menos 25% das ações em circulação, que deve ser obedecida até meados de 2009. O banco planejava fazer uma oferta pública de ações para atingir esse patamar, possivelmente com uma emissão primária para financiar a compra da Nossa Caixa.

"Ainda não fizemos contato formal com a Bovespa. Acredito que não haverá dificuldades de endereçar esse pleito, se as atuais condições prevalecerem nos próximos seis meses.

Aldo Mendes afirmou que as negociações para a compra do banco estatal paulista prosseguem, mas ainda não chegaram a um acordo. O executivo acrescentou também que o plano de expansão do banco no exterior, especialmente nos Estados Unidos, está sendo repensado para incluir as novas oportunidades criadas com a crise financeira no país.

(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 3)(Reuters)