Título: Investidores árabes fogem do risco
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Fonte: Gazeta Mercantil, 16/10/2008, Capital Aberto, p. B5
Londres, 16 de Outubro de 2008 - A recente volatilidade nas bolsas de valores do mundo inteiro levaram alguns dos grandes fundos de riqueza soberana a acumular recursos, assim como fizeram os fundos de hedge e os fundos de investimentos institucionais que têm procurado proteção. Mas não se pode esperar que os fundos de riqueza soberana do Oriente Médio entrem no trem de resgate. O emirado rico em petróleo de Abu Dhabi, que supervisiona o maior fundo patrocinado por um governo em todo o mundo, por exemplo, tem firmemente ampliado sua posição de caixa, que está em seu maior nível em anos.
Segundo fontes que foram informadas sobre suas estratégias de investimento, de 10% a 20% dos US$ 550 bilhões controlados pela Autoridade de Investimento de Abu Dhabi estão agora em dinheiro. Certamente muito pouco disso será direcionado para as instituições financeiras prejudicadas na América, revelaram essas fontes. O segundo maior fundo na região, a Autoridade de Investimento do Coveite, com ativos perto de US$ 250 bilhões, também tem acumulado dinheiro. O diretor do fundo, Bader al-Saad, disse aos banqueiros em Nova York que não tem interesse de comprar empresas financeiras aflitas.
Isso significa que os governos americano e britânico, ávidos por caixa, que juntos planejam captar perto de US$ 800 bilhões para investir nos castigados bancos, terão menos opções. Tudo o que se pode esperar dos fundos de riqueza, dizem os analistas, é que vão emprestar dinheiro para o governo americano numa base de curto prazo porque eles podem contar que receberão o dinheiro de volta. "Os fundos soberanos estão acumulando caixa porque não há uma grande recompensa para colocar o dinheiro deles para trabalhar", disse Brad W. Setser, analista de finanças internacionais do Conselho para Relações Exteriores. "Mas o que acho mais preocupante é a completa relutância por parte dos fundos soberanos de deter só as super seguras notas do Tesouro", disse Setser.
Que os fundos soberanos pareçam ter o mesmo medo dos compradores que o gestor de carteira de um fundo de ações não deve ser necessariamente uma surpresa, dada a aversão deles para ativos com mesmo o menor traço de risco. Mas com seus horizontes de investimento de longo prazo, acreditava-se que os fundos estariam mais dispostos a se aventurar pelo mercado de altos e baixos.
A queda do valor do petróleo, junto com os temores de que o declínio econômico global talvez seja mais fundo e duradouro do que o esperado, provavelmente tem sido o fator mais importante para a mudança de pensamento.
Setser aponta para os dados que mostram alta nas posições de notas do Tesouro por parte de instituições estrangeiras desde que a contração do crédito começou há 15 meses. Ao mesmo tempo, os fundos tem reduzido suas compras de papéis mais arriscados, como as ações e os bônus emitidos pelas corporações e pelas gigantes do empréstimo hipotecário Fannie Mae e Freddie Mac.
No período de 12 meses terminado em julho deste ano, o volume de papéis de longo prazo americanos que os investidores estrangeiros compraram foi reduzido para quase a metade - para US$ 456 bilhões no período terminado em julho, de US$ 751 bilhões no ano encerrado em julho de 2007. Tanto o Coveite quanto Abu Dhabi, que tem autorização para investir no exterior, foram os primeiros a comprar ações das grandes empresas financeiras de Wall Street. Abu Dhabi investiu no Citigroup e o Coveite comprou uma participação no Merrill Lynch e uma subsequente posição no Citigroup. Os retornos de investimento têm sido fracos - as ações do Citi fecharam em US$ 15,75 na segunda-feira, ante US$ 31 quando do investimento de Abu Dhabi. O que é mais grave, os problemas econômicos estão agora ocorrendo mais perto de casa.
(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 5)(The New York Times)