Título: Entrevista Mourad Hemayma
Autor: Craveiro, Rodrigo
Fonte: Correio Braziliense, 11/03/2011, Mundo, p. 16

De acordo com o Exército líbio, a cidade de Ras Lanuf foi reconquistada e as tropas se dirigem a Benghazi. Como o senhor avalia esses desdobramentos? Essas informações não são acuradas. Não é o que ocorreu. Eles bombardearam Ras Lanuf, a partir do céu e do mar. Você sabe que os revolucionários não têm o poder de atacar pelo ar. Então, todas as vezes que eles são bombardeados pela Força Aérea, se retiram. Quando os ataques cessam, retornam e retomam o controle da cidade. Isso não é verdade. É por isso que estamos pedindo uma zona de exclusão aérea. Nós temos que neutralizar a Força Aérea do regime de Kadafi.

Benghazi é hoje o bastião da oposição. O que se pode esperar de uma tentativa dos militares de retomá-la? Isso não vai ocorrer, de jeito nenhum. Eles não irão a Benghazi. Os militares nem sequer tomaram Ras Lanuf completamente. É prematuro falarmos sobre Benghazi.

Alguns moradores de cidades costeiras da Líbia denunciaram um massacre. Qual é a situação atual? Ainda não temos números de mortos, mas várias cidades estão sob cerco, sofrem bombardeios aéreos e são alvos de artilharia pesada. A população se defende com armas pequenas e com qualquer coisa de que dispõe. Na manhã de hoje (ontem), os soldados chegaram a Ras Lanuf e a Misrata. Revolucionários e civis morreram, incluindo mulheres e crianças. Mas as pessoas estão lutando por sua liberdade. A França reconheceu o governo da oposição como legítimo. Como vê essa reação? Foi um gesto muito importante e corajoso por parte da França. O povo líbio está agradecido por isso. O Conselho Nacional Transitório espera que o resto do mundo, que todos os povos livres do mundo o reconheçam como representante dos líbios. Acredito que a União Europeia fará o mesmo em breve.

O que a comunidade internacional deve fazer para interromper a matança? Os brasileiros já enfrentaram uma ditadura e sabem quão brutal ela é. Esperamos que vocês apoiem o povo líbio, que tem, historicamente, uma ótima relação com o Brasil. Esperamos que vocês tenham a coragem de reconhecer o Conselho Nacional Transitório e de apoiar a zona de exclusão aérea.

Os senhores aceitariam uma intervenção militar estrangeira na Líbia? O povo líbio se opõe a qualquer força estrangeira, mas a zona de exclusão aérea é um pedido que fazemos à comunidade internacional.

Por que o senhor decidiu abandonar o posto no regime de Kadafi? Todos os diplomatas em serviço no exterior não querem trabalhar para o regime, mas para o povo líbio. O regime é contra a população. Nós decidimos representar o povo. Kadafi fala por si mesmo. Ele usa uma máquina de guerra contra seu próprio povo, contra as cidades e os civis. (RC)