Título: Brasil só erradicará analfabetismo em 18 anos
Autor: Morais, Márcio de
Fonte: Gazeta Mercantil, 15/10/2008, Nacional, p. A5

Brasília, 15 de Outubro de 2008 - Ser da raça branca, morar numa região metropolitana da região Sudeste (eixo Rio/São Paulo/Belo Horizonte/Vitória) e ter idade próxima de 18 anos é, hoje, um forte indicador de que a vida profissional e a obtenção de uma renda adequada podem ser questão de tempo. Mas a solução para que um negro (preto ou pardo), morador de área rural no Nordeste e que tenha idade na faixa dos 40 anos obtenha condições dignas de sobrevivência, vai requerer novas políticas públicas de inclusão, já que as atuais chegaram ao ponto máximo de maturação e tendem a perder eficiência.

"Programas como bolsa-família, benefícios de renda continuada e outros, já foram maturados, chegaram ao seu limite", resumiu o diretor de Cooperação e Desenvolvimento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Mário Lisboa Theodoro, ontem durante divulgação do estudo sobre as condições brasileiras de "Educação, Juventude, Raça e Cor".

Pelo levantamento do Ipea, mantida a tendência atual de alfabetização, de redução de meio ponto percentual ao ano, "o analfabetismo só será erradicado do Brasil em 17 ou 18 anos", afirmou o diretor Jorge Abrahão, da área de estudos sociais da instituição. Ele informou que a taxa nacional de analfabetismo vem sendo reduzida. Foi de 10% em 2007, contra 10,4% em 2006 e 17,2% no início da década de 90.

A maior redução aconteceu no Nordeste (0,8%), que concentra 53% do total de analfabetos e detém a maior taxa do País com média de 20%. Cerca de 90% dos analfabetos estão na faixa etária de 25 anos ou mais. O campo tem quase um quarto (23,3%) dos analfabetos, enquanto entre a população das regiões metropolitanas o índice é de 4,4%. A concentração de analfabetos entre negros é de 14,1% - o dobro da concentração registrada entre os brancos (6,1%).

Segundo Abrahão, a redução do analfabetismo em 2007 foi maior nas faixas etárias acima de 25 anos, principalmente no grupo de 40 anos ou mais. Mas a população entre 15 a 17 anos, que deveria estar sendo melhor preparada para assumir os desafios do mercado de trabalho no futuro, registrou um pequeno aumento de 0,1 ponto percentual em 2007 que, para o Ipea, é resultado do decrescimento da população jovem a partir de 2005, à razão de 1,6% ano. Em anos anteriores, no entanto, a redução do analfabetismo foi substancial, de 8,2% em 1992 para 1,7% em 2007. "Isso evidencia problemas de acesso à escola, de baixa cobertura e eficácia dos programas de alfabetização de adultos e idosos", afirma o diretor do Ipea.

Já o número de anos de estudo da população nessa faixa etária mostra ligeiro aumento. A taxa média brasileira em 2007 foi de 7,3 anos de estudo, número inferior aos nove anos do ensino fundamental estabelecido por regras do governo no ano passado. "O Sudeste atingiu a escolarização mínima obrigatória, com taxa de 8 anos", disse Abrahão, referindo-se ao nível de exigência praticada até 2007. Entre a população urbana, a taxa média é de 8,5 anos, enquanto, na rural, é de 4,5 anos. A população negra tem quase dois anos a menos (6,4 anos) de estudo que a branca (8,2).

O estudo do Ipea identificou também que, quanto mais velha a população, maior o número de anos que falta para alcançar o mínimo obrigatório de ensino. Pessoas com mais de 30 anos só estudaram, em média, três anos, enquanto que as de 15 a 17 anos, só precisam de mais 2,8 anos para completar os oito do ensino fundamental.

A escolarização no País está, segundo o estudo, avançando nas faixas etárias até seis anos de idade, mas ainda tem espaço para crescer na faixa de 15 a 17 anos, pois a taxa de escolarização alcança só 82,1%. A faixa de 7 a 14 anos registra estabilização na taxa, onde 98% da população tem acesso à escola.

Repetência e evasão escolar

Mas os dados mostram também que 52% da população de 15 a 17 anos estão atrasados ou fora da escola, por problemas de repetência e evasão escolar. O Brasil tem 50,2 milhões de jovens; 14 milhões na faixa etária de 15 a 29 anos são considerados pobres. O abandono do estudo se dá à medida que a idade aumenta, inclusive por causa do ingresso no mercado de trabalho, que alcança 21,8% dos jovens entre 15 a 17 anos e 16,2% no grupo de 18 a 24 anos. A renda familiar também influi. Nas famílias com renda per capita de meio salário mínimo, cerca de 10% estudam e trabalham, porcentagem que chega a 29% nas famílias com renda de dois a cinco salários mínimos.

As mulheres estudam mais que os homens, segundo o Ipea. A taxa de freqüência líquida no ensino médio é de 53,8% para as mulheres e 42,4%, homens. O analfabetismo entre jovens e negros e quase duas vezes maior do que entre brancos, mas a diferença vem caindo, pois em 1997, era três vezes maior. Já o nível de escolaridade dos jovens do campo em 2007 era 30% inferior aos dos urbanos, sendo que 9% do meio rural permaneciam analfabetos. Na área urbana, a taxa é de 2%.

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 5)(Márcio de Morais