Título: Crise provoca corte no custeio da máquina administrativa
Autor:
Fonte: Gazeta Mercantil, 17/10/2008, Política, p. A7

São Paulo, 17 de Outubro de 2008 - Após reunir-se ontem com o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles o relator-geral do projeto da Lei Orçamentária Anual (LOA) para 2009, Delcídio Amaral (PT-MS), anunciou à imprensa que a peça orçamentária do próximo ano poderá sofrer cortes em custeio e até mesmo em investimentos por conta de mudanças nos parâmetros de inflação, câmbio e crescimento da economia e da crise financeira internacional.

"O relatório (do Orçamento) preliminar terá as vacinas necessárias para contemplar uma mudança de parâmetros para que os relatores setoriais tenham as condições e a liberdade necessária para fazer as mudanças em função de uma revisão dos parâmetros tipo inflação, crescimento, câmbio e, ao mesmo tempo, refletindo no orçamento", disse o senador.

Delcídio afirmou ainda que a avaliação de Henrique Meirelles sobre a conjuntura econômica é de que os principais países do mundo terão inflação e um crescimento muito menor do que o projetado. A expectativa, disse o senador, é de que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro cresça menos nos próximos anos.

"O posicionamento de Meirelles é absolutamente realista, equilibrado e de alguém que entende que a crise é séria e naturalmente vai ter desdobramentos no Brasil. Ele está convicto das providências que o Banco Central (BC) tem tomado não só com relação ao mercado interno, mas também com relação a exportações, pois reconhece que há dificuldades, que há problemas com empresas no Brasil que apostaram num dólar menor, ao contrário da política do BC, que apostou numa relação real-dólar mais elevada", explicou.

O relator do Orçamento negou que Henrique Meirelles tenha adiantado as novas projeções para a economia que servem de parâmetro para o orçamento. "(Ele) não admitiu e, mesmo que tivesse admitido, eu não falaria, até pelo posicionamento dele. O presidente do Banco Central e o ministro da Fazenda têm uma responsabilidade grande, qualquer informação nessa hora de instabilidade é muito ruim para o País", acrescentou.

De acordo com Delcídio, o relatório preliminar do projeto do Orçamento 2009, que deverá ser apresentado no dia 21, deverá trazer indicativos de cortes em custeio e investimento, preservando, no que for possível, obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e os programas sociais do governo federal.

Ele lembrou que o ministro Paulo Bernardo já indicou a suspensão de novos concursos. "Que haverá cortes, não tenho dúvida e para nós o que interessa é o valor, não onde vai cortar. Onde, ainda tem que ser conversado com o governo, mas eu acho que deveria ser no custeio. Tem espaço para cortar", afirmou Delcídio.

Sobre a conversa com Meirelles a descrição do senador foi de "pouco otimismo". "Ele fez uma explanação clara de que a situação é delicada. Não há motivo para ninguém estar otimista. As bolsas estão em queda, há uma insegurança política nos Estados Unidos, evidente que a preocupação agora é com o crescimento", disse o senador. Por isso, o orçamento deve ser revisto de forma "austera". "A proposta previa um dólar a R$ 1,71 em 2009. Nós estamos prevendo agora um valor próximo de R$ 2,00", exemplificou Amaral.

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 7)(Redação)