Título: Médicos aprovam Sírio-Libanês
Autor: Paranhos, Thaís
Fonte: Correio Braziliense, 11/03/2011, Cidades, p. 26

A vinda de uma unidade especializada no tratamento de câncer para Brasília renova a esperança dos pacientes que lutam contra a doença no Distrito Federal. O Centro de Oncologia do Hospital Sírio-Libanês (HSL), de São Paulo, entrará em funcionamento na primeira quinzena de junho e agrada especialistas das redes privada e pública de saúde. Para os médicos, a presença da clínica na capital federal poderá proporcionar uma concorrência saudável entre os prestadores do serviço no âmbito particular e promover o desenvolvimento na pesquisa de novos caminhos no diagnóstico e no tratamento do câncer.

Para o secretário de Saúde do Distrito Federal, Rafael Barbosa, a vinda da unidade especializada para Brasília terá grande impacto do ponto de vista técnico-científico. ¿A secretaria tem grande interesse na área de pesquisa, haja vista que temos a oitava melhor escola de medicina do país. Estaremos abertos ao diálogo¿, afirmou. Barbosa acrescentou que o momento é de comemoração. ¿É uma grande satisfação ter uma entidade reconhecida nacional e internacionalmente. Com certeza impactará na qualidade do serviço, sem contar que fará com que os nossos profissionais procurem se qualificar ainda mais¿, avaliou.

O oncologista Eduardo Johnson trabalha na rede privada de saúde e aprovou a vinda da unidade do Sírio-Libanês. ¿Qualquer empresa de excelente padrão de atendimento que venha para o DF melhora a concorrência. Todos os profissionais vão procurar fazer um trabalho cada vez melhor¿, disse. Para ele, o mais importante é que a empresa se adapte às particularidades da cidade. Como exemplo, ele cita a dificuldade em encontrar profissionais qualificados e que aceitem atuar na área particular. ¿Os melhores estão na rede pública, porque em nível federal, os salários são melhores¿, explicou.

Para o oncologista clínico do Hospital Universitário de Brasília (HUB), Marcos França, a atuação da unidade terá poucos reflexos na rede pública de saúde. Segundo ele, o tratamento por meio de quimioterapia, a assistência e a disponibilidade de medicamentos nos centros particulares é tão boa quanto em qualquer parte do mundo. ¿Mas há duas realidades diferentes. Existe um hiato entre os serviços públicos e os privados¿, lamentou o médico. Para França, a chegada do Sírio-Libanês a Brasília pode provocar uma competição saudável, o que é melhor para o paciente que pode pagar pelo tratamento.

Esperança Há quase três anos, o biólogo Viktor Udo Dohms, 61 anos, morador do Lago Sul, descobriu um câncer de pulmão. Ele começou um tratamento no DF, mas foi até o Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, em busca de uma segunda opinião. Como morava na capital federal, ele não pôde ser acompanhado pelo médico da capital paulista, que o indicou ao oncologista Gustavo dos Santos Fernandes, futuro coordenador da unidade de Brasília. Ele venceu a doença e agora precisará fazer exames de rotina. ¿Se a unidade vier com todo o conceito que tem em São Paulo, a cidade só tem a ganhar com isso e, nós, pacientes, também. Estava na hora de Brasília conseguir um centro de excelência. Mas é preciso investir em pesquisa¿, defendeu.

O Centro de Oncologia de Brasília terá capacidade para realizar 800 consultas e 600 aplicações de quimioterapia por mês. Segundo Fernandes, o prédio de 2,4 mil metros quadrados, localizado na 613 Sul, deve ficar pronto em duas semanas. Abrigará três andares, com 12 suítes e seis consultórios. Cinquenta profissionais e quatro médicos trabalharão na clínica. Para construir a unidade, o Hospital Sírio-Libanês investirá R$ 6 milhões, recursos tirados da própria instituição.

Como adiantou o Correio na edição de ontem, a instalação de uma unidade do HSL em Brasília era uma vontade antiga do diretor-geral do Centro de Oncologia do HSL, Paulo Hoff. ¿Meu desejo de trabalhar em Brasília casou com a vontade do hospital em se expandir para outras regiões.¿ A iniciativa surgiu após uma série de estudos e de discussões. ¿Detectamos um número grande de brasilienses que faziam tratamento no Sírio-Libanês em São Paulo. Sem contar que a cidade está em franco crescimento¿, constatou Hoff.

Referência É considerado um dos melhores hospitais da América Latina, uma referência no tratamento de câncer. A instituição é conhecida por atender políticos, entre eles o ex-vice-presidente da República José Alencar, a presidente Dilma Rousseff e o chefe do Executivo paraguaio, Fernando Lugo. Fundado em 1921, o hospital iniciou um processo de expansão no ano passado, com investimentos de R$ 620 milhões.

Palavra de especialista ¿A vinda de uma unidade do Hospital Sírio-Libanês para Brasília traria uma nova perspectiva do tratamento de câncer no Distrito Federal. Mas sabemos que o atendimento ficará restrito aos pacientes da rede particular ou aos que tenham plano de saúde, o que pode impactar no mercado privado de atendimento oncológico. O tratamento de câncer é muito caro. Mas, se eles tiverem interesse em atuar na área de pesquisa, para nós será muito bom, porque pode trazer fomento e recursos da indústria farmacêutica. O Sistema Único de Saúde (SUS) não tem como financiar pesquisas por meio dos próprios órgãos. Por isso, estamos abertos a conversas. Uma futura parceria com os profissionais da unidade do Sírio-Libanês seria muito boa para o Hospital Universitário de Brasília (HUB) ou para o Hospital de Base do Distrito Federal (HBDF), por exemplo, únicas unidades que oferecem o tratamento da doença no DF. Essa troca de informações seria muito interessante para os profissionais. Atualmente, diria que o tratamento do câncer no DF é regular e tem muito o que melhorar, a começar pela concentração em apenas duas instituições.¿

Arturo Santana Otaño, oncologista clínico da Gerência de Câncer da Secretaria de Saúde do Distrito Federal