Título: Planalto tenta avaliar desgaste da base depois do 1º- turno
Autor: Falcão, Márcio
Fonte: Gazeta Mercantil, 20/10/2008, Política, p. A11
Brasília, 20 de Outubro de 2008 - O Palácio do Planalto mandou emissários ao Congresso para calcular se as eleições municipais trouxeram algum prejuízo ao apoio dos 14 partidos da base governista na Câmara. Ao contrário do que era esperado, a cúpula do governo não tem muito com o que se preocupar. Os partidos da base não trouxeram, até agora, questões paroquiais. Foram relatadas apenas insatisfações pontuais que não ameaçam a coalizão.
As principais reclamações partiram das lideranças do PV. Consideram que o desembarque do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas campanhas no Rio de Janeiro e em Natal foi "desastroso". Longe dos palanques no primeiro turno pela disputa ao Palácio da Cidade, na capital fluminense, por causa do grande número de partidos da base na corrida municipal, o presidente Lula cedeu aos apelos do governador Sérgio Cabral e gravou depoimento de apoio à candidatura de Eduardo Paes (PMDB), que briga pela prefeitura com o verde Fernando Gabeira.
Mesmo com o ressentimento guardado de Paes, ex-tucano que atacou o governo Lula na CPI dos Correios, o presidente destacou no rádio e na TV que a vitória do peemedebista beneficia o carioca porque haverá uma parceria entre os governos federal, estadual e municipal. Na avaliação do PV, um aceno desnecessário, já que Gabeira outro combatente de Lula - que conta com o apoio do PSDB e do DEM - não tem no passado ataques "pesados" como os do peemedebista.
Em Natal, a reclamação é que para desqualificar o líder do DEM no Senado, José Agripino Maia (RN), adversário político de Lula, o presidente partiu para cima de Micarla, que agora é prefeita eleita, e questionou a trajetória da deputada estadual e apresentadora de TV. Micarla derrotou a candidata do PT, a deputada federal Fátima Bezerra, que contava ainda com o aval do presidente do Senado, Garibaldi Alves (PMDB-RN) e da governadora Wilma de Faria (PSB).
"O presidente extrapolou por lá", reclama um líder do PV, que pediu para não ser identificado. "Por que ele não atacou o Paes no Rio que chegou a chamá-lo de chefe de quadrilha do mensalão?", indagou. Os protestos verdes, no entanto, não indicam qualquer movimento de retirada da base. Pesa o quinhão do partido no primeiro escalão, que mantém o ministro da Cultura Juca Ferreira. "Não faz sentido deixarmos a base neste momento. Só deixamos claro que a postura do presidente nos incomodou", emendou o ministro.
A tranqüilidade dos aliados, no entanto, ainda é vista com cautela pela cúpula do governo. Temem que a rebelião ocorra nas próximas semanas, depois do segundo turno, quando chegam ao plenário da Câmara temas polêmicos e de interesse do Palácio do Planalto, como a medida provisória 442, que autoriza o socorro do Banco Central a bancos em dificuldades, o projeto que cria do Fundo Soberano do Brasil (FSB) e a reforma tributária.
A MP é próximo item da pauta e já recebeu 74 emendas, sendo a maioria da oposição e 39 beneficiando o setor rural. O Fundo perdeu a urgência na última semana por um acordo entre governistas e oposicionistas e liberou a votação de quatro medidas provisórias que trancavam a pauta. O projeto da poupança externa que a equipe econômica quer criar deve ser votado no próximo dia 29, mas a oposição promete dificultar os planos do governo. A reforma tributária ainda está na comissão especial e deve votar o parecer do relator, deputado Sandro Mabel (PR-GO), na quarta-feira.
"Nestas votações é que a base vai ter que mostrar que é base", argumenta o líder do PT na Câmara, Maurício Rands (PT-RS). "Quando formos votar essas matérias é que vamos ter idéia se algum ressentimento ficou ou não".
(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 11)(Márcio Falcão)