Título: Investidores reforçam compra de ações de bancos médios
Autor: Feltrin, Luciano
Fonte: Gazeta Mercantil, 20/10/2008, Finanças, p. B1

São Paulo, 20 de Outubro de 2008 - A crise de crédito internacional, cujos efeitos começaram a dar os primeiros sinais na saúde financeira das companhias no último mês, colocou o sistema bancário global em xeque. O movimento poderia ser um péssimo sinal para os bancos médios listados na bolsa. Entretanto, vem se tornando uma ótima oportunidade para investidores estratégicos. Com os preços das ações em baixa e boas perspectivas de expansão e crédito para o futuro, muitas dessas carteiras têm intensificado o movimento de compras de papéis desses bancos ao longo dos últimos meses.

Somente na semana passada, por exemplo, Panamericano e Indusval anunciaram que fundos de investimentos adquiriram participações relevantes de suas ações preferenciais. A compra desses papéis, que não dão direito a voto, é um claro indicativo de aposta no potencial das instituições. "Esse tipo de investidor sabe que há uma capacidade muito grande de crescimento do crédito. A despeito da crise atual e do receio dos bancos em emprestar recursos, essa expectativa continua viva e bastante real", afirma o analista de bancos da Austing Rating, Luis Miguel Santacreu.

No caso do Indusval, cujo principal negócio é emprestar recursos para médias empresas, o comprador foi o JP Morgan Writefriars. O fundo passou a ter mais de 22% das ações preferenciais do banco. Considerando o capital total do Indusval, a posição mais do que dobrou com a recente compra, passando de 4% para 8,51%. "É uma demonstração de confiança em um momento bastante difícil. Muitos investidores tiveram de diminuir sensivelmente suas posições no banco para cobrir prejuízos no exterior. E outros resolveram entrar agora, já que as ações estão em um patamar de preços muito mais interessante do que na época de nossa abertura de capital", compara o diretor-superintendente-geral do Indusval, Luiz Mazagão Ribeiro.

Em julho do ano passado, quando foi feito o IPO (oferta pública inicial de ações, na sigla em inglês), os papéis do banco foram negociados a R$ 17,50. Na sexta-feira, valiam R$ 5,80 na bolsa.

Desde antes de sua listagem, o Indusval projeta a ida ao Novo Mercado, que tem os mais altos níveis de exigências de governança corporativa do mercado local. O primeiro passo para que isso ocorra foi concretizado. Trata-se de um decreto presidencial cujo teor permite maior participação de investidores estrangeiros no capital votante do banco.

O segundo passo será conseguir a conversão de suas ações preferenciais em ordinárias, condição básica para ingressar no Novo Mercado. Em agosto, o banco convocou uma assembléia extraordinária para aprovar o tema. Não conseguiu. Agora aguarda resposta da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para aprovar a conversão com percentual inferior aos 50% mais um voto, o que é determinado pela legislação. Quando isso ocorrer, cada ação preferencial será convertida em uma da categoria ordinária.

Outro banco que foi à bolsa no ano passado e recebeu recentemente participação relevante de investidores estratégicos foi o Daycoval, que tem entre suas atividades o financiamento a veículos e operações de comércio exterior. O comprador foi o fundo de investimentos Tarpon, que possui agora quase 22% das ações preferenciais da instituição.

Outra carteira - Wellington Management - dobrou, entre junho e agosto, sua participação em ações preferenciais do Sofisa. Passou a ter 10% dos papéis.

No caso do Panamericano, o investimento chega a 7,5% das ações preferenciais do banco. Foi realizado por fundos de investimentos e empresas da Banca Privada D¿Andorra, cuja sede localiza-se em um principado entre Espanha e França.

O BIC teve 5% de suas ações preferenciais adquiridas pelo Merrill Lynch em julho, antes de ser vendido para o Bank of America.

Consolidação difícil

Para especialistas, uma futura consolidação entre os bancos de médio porte no Brasil não será simples. "Cada um tem um nicho de atuação. Muitos, porém, têm atividades parecidas, o que significa que uma fusão pode não se justificar", diz o analista da Ágora, Aloisio Lemos. "No momento, não há muita clareza sobre o que pode ocorrer e se um banco pode ou não comprar um concorrente", afirma. Opinião parecida tem Santacreu. "Em alguns casos, as instituições de médio porte têm os mesmos clientes."(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 1)(Luciano Feltrin)

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