Título: Anadarko leva experiência para as reservas brasileiras do pré-sal
Autor: Lorenzi, Sabrina
Fonte: Gazeta Mercantil, 20/10/2008, Infra-Estrutura, p. C3

Rio de Janeiro, 20 de Outubro de 2008 - A primeira empresa privada que descobriu óleo no pré-sal brasileiro aposta no potencial da nova fronteira nos sete blocos que possui no País. A norte-americana Anadarko Petróleo acertou quando desconfiou, há quatro anos, que havia petróleo abaixo da camada de sal nas bacias de Campos e do Espírito Santo. De olho no que chama de subsal, a companhia entrou nos leilões de áreas exploratórias disposta a destinar a maior parte dos investimentos ao Brasil. E começou a colher frutos da decisão de investir até hoje US$ 400 milhões no País.

A Anadarko não pretende mudar os planos de investimentos no Brasil por causa da crise internacional. Estão previstos US$ 100 milhões para 2009. Também devem ser mantidas as perfurações de poços com data limite em 2010. Com 2,5 bilhões de barris em reservas provadas, o trunfo da empresa americana é o conhecimento das áreas do pré-sal em outros países. "Exploramos as reservas do pré-sal há mais de quinze anos no Golfo do México", afirmou à Gazeta Mercantil o presidente da Anadarko no Brasil, Kurt McCaslin. Cerca de 15% da produção mundial de petróleo da Anadarko parte dos poços abaixo da camada de sal, acrescentou.

O executivo aposta no know-how da companhia para perfurar as áreas do pré-sal. No Golfo do México, a empresa atua em profundidades de sete a dez mil metros, superiores aos níveis do Brasil. Hoje, a empresa tem disponível nove sondas de perfuração.

A perfuração de mais de seis mil metros no BM-C-30, na bacia de Campos, custou cerca de US$ 100 milhões, considerando que cada dia de trabalho demandou US$ 1 milhão e foram necessários pouco mais de três meses para perfurar o bloco. A companhia desembolsou um terço do total dos investimentos, cabendo o restante às parceiras Devon (norte-americana), Encana (canadense) e a SK (coreana). Há três semanas, a empresa informou a descoberta de óleo no bloco, batizado de Wahoo.

Concluída a expressiva perfuração de Wahoo, a empresa vai mandar em novembro a mesma sonda, Deepwater Millennium, para o campo de Serpa, no Espírito Santo, onde já encontrou indícios de hidrocarbonetos com as sócias Petrobras e a Encana. Baseada nas primeiras atividades exploratórias e nos resultados do vizinho Jubarte, a empresa espera encontrar óleo no pré-sal do BM-ES-24, na área ES-M-588. A operadora do bloco é a Petrobras, com 40% da área. A Anadarko tem 30% de participação no consórcio.

A Petrobras também é sócia majoritária em outros três blocos em que participa a Anadarko no Espírito Santo. São duas no mesmo BM-S-24 e o BM-S-25.

Na bacia de Campos, a empresa planeja perfurar o segundo poço no BM-S-32 no final de 2009. A área é operada pela parceira Devon. Já o BM-S-29, onde a Anadarko atua sozinha, não há certeza de manter a exploração, mas possibilidade de perfurar poços em 2010.

Além das perfurações, a Anadarko vai começar a avaliar o BM-C-30, onde fez uma descoberta e continua perfurando. "Temos a previsão de chegar a 6 mil e 100 metros neste poço. Estamos praticamente lá, e, terminando essa perfuração, vamos fazer mais testes e perfilagens para ter uma idéia melhor do que a gente encontrou", afirmou o diretor-executivo da Anadarko, Claudio de Araújo. Localizado a apenas 40 quilômetros do campo de Jubarte, Wahoo tem potencial parecido com o do campo capixaba, cujo poço pioneiro tem capacidade de produção de pelo menos 18 mil barris. "Resultados preliminares de Wahoo, baseados em registros por cabo elétrico de perfilagem indicam pelo menos 60 metros de espessura líquida do reservatório", informou a companhia.

O executivo lembrou que todos os blocos têm prazo exploratório junto à Agência Nacional do Petróleo (ANP) vencendo em novembro. A empresa terá de decidir se continuará com as áreas para perfurá-los em cerca de dois anos. Dos sete blocos, quatro já têm estudos de sísmicas concluídos. "Estamos discutindo com nossos parceiros a permanência nos blocos", disse.

O presidente da empresa afirma que os projetos da Anadarko não estão ameaçados pela queda do preço do petróleo porque são investimentos de longo prazo. As petroleiras costumam ser conservadoras na hora de optar por investir ou não em projetos de exploração. "O mercado de exploração não é o mercado financeiro, leva tempo", disse.

Considerando os ativos da Kerr McGee, que a Anadarko comprou em 2006, a empresa está no País há dez anos. A Kerr McGee começou no Brasil em 1998, participando da rodada Zero em parceria com a Petrobras. Também participou da primeira rodada. A empresa adquiriu o bloco que se tornou o campo de Peregrino, na bacia de Campos. Explorou, desenvolveu e vendeu, neste ano, a parcelo de 50% que lhe cabia do ativo, para a norueguesa StatoilHydro. McCaslin não informa revela o valor do negócio, mas informa que por US$ 2 bilhões a empresa vendeu Peregrino e Cascade, no Golfo do México. O negócio aguarda aprovação da ANP para o desfecho.

"Nosso programa de exploração cria valor substancial para a Anadarko, com descobertas no Golfo do México, no complexo de Caesar/Tonga; em Gana, no campo offshore Jubilee; e agora com o potencial crescente de nossas oportunidades no pré-sal do Brasil", informou a empresa na ocasião da descoberta do BM-C-30.

"Nossa primeira operação no pré-sal do Brasil foi um sucesso inequívoco, pois observamos dados que refletem descobertas muito significativas nesta área".

(Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 3)(Sabrina Lorenzi)