Título: Governo anuncia novas medidas para ampliar oferta de crédito
Autor: Vizia, Bruno De
Fonte: Gazeta Mercantil, 21/10/2008, Nacional, p. A7

São Paulo, 21 de Outubro de 2008 - O governo vai injetar R$ 5,5 bilhões na economia para ampliar a oferta de crédito para a agricultura e construção civil, como forma de evitar que a escassez de crédito internacional afete estes dois setores da economia brasileira. O anúncio foi feito ontem, após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter realizado reunião com a cúpula econômica para analisar os efeitos da crise e avaliar medidas que ampliem a liquidez na economia brasileira. Participaram do encontro o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, o presidente do Banco do Brasil, Antônio Francisco Lima Neto, e a presidente da Caixa Econômica Federal (CEF), Maria Fernanda Coelho.

Após a reunião, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, informou que o governo vai ampliar de 65% para 70% a parte da poupança rural que deve ser direcionada para a agricultura. A medida deverá originar R$ 2,5 bilhões adicionais em créditos para o setor, afirmou o ministro, acrescentando que o Banco do Brasil já liberou outros R$ 10 bilhões para essa safra. "Não parece haver motivo para a redução da safra 2008/2009", salientou Mantega. A resolução que autoriza o aumento da poupança rural poderá ser editada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) "nos próximos dias", assegurou.

Capital de giro

A construção civil é outro setor que também deverá receber recursos do governo. Segundo Mantega, no ano passado as empresas se capitalizaram na bolsa e estabeleceram planos de investimentos de longo prazo, mas agora estão sinalizando com a falta de capital de giro para completar suas obras. Na avaliação do ministro, faltam entre R$ 3 bilhões e R$ 4 bilhões para o setor. O governo avalia duas hipóteses para ampliar o crédito para a construção civil, ou por meio do BNDES, "que já apresentou proposta neste sentido", ou pela Caixa Econômica Federal, com "o aumento de participação nas empresas", disse Mantega. O ministro destacou que uma destas duas medidas deverá anunciada nos próximos dias, mas que seus efeitos "talvez demorem um pouco mais para aparecer".

Já o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, salientou que "os bancos oficiais estão se preparando para, se necessário, aumentar sua participação na concessão de crédito para pessoas físicas, consumo, e capital de giro para as empresas, e também o BNDES para investimentos". Meirelles explicou que estes recursos serão advindos da liberação de compulsórios não-direcionados e pelo crescimento natural dos depósitos dessas instituições, que estão destinados à aplicação direta na economia.

Meirelles afirmou que os leilões de oferta sintética de dólar no mercado futuro (swap cambial) e de linhas de crédito externo para exportação, realizados ontem pelo BC, "foram um sucesso". Ele afirmou que serão realizados "quantos leilões forem necessários para se reestabelecer o mercado de crédito para exportação no Brasil". Em relação à liquidez em reais, o presidente do BC disse ainda existir "uma boa margem de compulsórios, principalmente para financiamento das bancos menores e médios".

Investimentos do PAC

Analisando o cenário internacional, Mantega avaliou que a crise "talvez tenha passado de sua fase mais aguda", após as "medidas fortes" adotadas por bancos centrais de todo mundo. "Se isso tiver acontecido, vamos entrar em uma outra fase da crise, mas ela não vai terminar tão cedo", destacou. O governo, por sua vez, não vai reduzir os investimentos no Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), mas o ministro reconheceu que pode haver reduções de outros investimentos. "Pode haver alguma desaceleração, pois no ano passado estávamos em um patamar alto de investimentos", concluiu o ministro.

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 5)(Bruno De Vizia)