Título: Fim de festa: gasolina fica 2,15% mais cara
Autor: Machado, Roberta
Fonte: Correio Braziliense, 11/03/2011, Cidades, p. 32

O brasiliense que viajou no carnaval sentiu no bolso uma grande diferença ao abastecer o carro depois do feriado. Desde a semana passada, o preço da gasolina teve um aumento médio de R$ 0,06, uma variação de 2,15% sobre o preço de R$ 2,78 que era cobrado desde o início do mês. O susto foi ainda maior para quem aproveitou as promoções feitas na véspera do aumento, quando as bombas marcavam preços de R$ 2,39 a R$ 2,61 ¿ na quinta-feira alguns postos já exibiam os cartazes dos preços de R$ 2,83 e de R$ 2,84, hoje cobrados na maioria dos estabelecimentos do DF.

Embora seja baixa, a variação de R$ 0,01 nos atuais valores deverá deixar de existir em breve. Assim que a média de preço é apurada no relatório quinzenal da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), a tendência é a maioria dos estabelecimentos igualar o preço do litro.

O Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis Automotivos e de Lubrificantes do Distrito Federal (Sinpetro-DF) afirmou que não houve recentemente nenhum grande aumento imposto pelos fornecedores de combustível. A entidade atribui a alta do preço, logo depois da promoção de carnaval, a um possível acúmulo de pequenos reajustes feitos pelas distribuidoras nos últimos meses.

O sindicato não adiantou se o aumento do petróleo esperado pelo mercado para a segunda quinzena deste mês implicará novo acréscimo no preço. Mas o Sinpetro-DF afirmou que, se a Petrobras confirmar a medida, haverá um aumento. O presidente da entidade, José Carlos Ulhôa, preferiu não comentar o aumento dessa semana. Segundo ele, o sindicato não determina a variação dos valores cobrados.

A entressafra da colheita da cana-de-açúcar ainda pode ser outro motivo para o encarecimento do combustível. Embora o custo do etanol não tenha passado por alterações essa semana, ele teve um aumento de R$ 0,04 no último mês. Alguns fornecedores culpam o álcool pelo novo preço da gasolina. ¿O preço do açúcar no exterior ficou mais vantajoso para os produtores. Assim, eles reduzem a oferta de álcool e o preço sobe no mercado interno, o que acaba impactando no custo final ao consumidor¿, explicou Abdalla Jarjour, proprietário de três postos de combustível no DF. Contrário ao aumento abusivo de preços, o empresário conseguiu manter o litro de gasolina em R$ 2,81. ¿O aumento dos fornecedores foi há umas duas semanas, e foi um pouco exagerado¿, afirmou.

No bolso Mãe de um filho pequeno, a policial militar Marcia Leal, 34 anos, moradora do Núcleo Bandeirante, compromete cerca de 10% de sua renda com a compra de gasolina. O transporte da criança para a casa da avó cria uma despesa de quase R$ 500 com combustível todos os meses. Com o aumento da última semana, Marcia deverá desembolsar R$ 30 a mais por mês para manter o tanque do carro cheio.

Como depende do carro para trabalhar, Thothsra Martins, 26 anos, sente ainda mais o aumento da gasolina. Do dinheiro que recebe, ele calcula que 16% são gastos com combustível para as viagens de encontro com clientes. Para evitar o prejuízo, o auditor procura abastecer o carro na estrada para Goiânia (GO), onde encontra a gasolina a R$ 2,42. ¿Eu já sabia que ia aumentar, infelizmente estou acostumado. Como Brasília tem um padrão de vida maior, os postos aproveitam¿, acredita Thothsra.

Componente O preço da gasolina não depende somente da variação do petróleo. O combustível conta também com o etanol, derivado da cana-de-açúcar. A quantidade de álcool presente na gasolina deve respeitar os limites estabelecidos pela Agência Nacional do Petróleo (ANP), que variam de 22%e 26%.

De acordo com a conveniência » Marcelo Tokarski Sem qualquer justificativa plausível, os postos de combustíveis do Distrito Federal estipulam, de acordo com suas conveniências, o preço do litro da gasolina. Durante o carnaval, o brasiliense foi dormir com as bombas marcando R$ 2,38 o litro. No dia seguinte, acordaram com o litro a R$ 2,84. A promoção carnavalesca parece ter sido uma espécie de estratégia para disfarçar um aumento: antes do carnaval, a gasolina era comercializada a R$ 2,78.

Os constantes reajustes aplicados no mercado de Brasília beiram a abusividade. Desde abril de 2008 a Petrobras não aumenta o preço do derivado de petróleo nas refinarias. Ou seja, em tese, como também não houve aumento na alíquota de imposto cobrada, o litro vendido ao consumidor final não deveria ser majorado ¿ salvo pequenas variações por conta dos aumentos aplicados ao álcool, combustível que é misturado à gasolina na proporção de 25%.

Mas, aqui, o mercado é diferente ¿ para dizer o mínimo. Em abril de 2008, antes do último aumento aplicado pela Petrobras, o preço do litro da gasolina no DF não passava de R$ 2,65. Ou seja, o valor cobrado hoje está 7,1% maior. São 19 centavos a mais por litro, que em um tanque de 50 litros representam um gasto extra de R$ 9,50. Além disso, os reajustes costumam seguir a boiada: coincidência ou não, os postos reduzem ou elevam os preços praticamente juntos.

Outro dado chama a atenção: de acordo com dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP), só em seis estados os revendedores praticam margens de lucro maiores do que as aplicadas nos estabelecimentos do DF, onde a margem média é hoje de 39,5 centavos. Rio de Janeiro e Minas Gerais praticam as menores margens do país, 28,2 e 28,3 centavos, respectivamente. Uma diferença de quase 30%. Os consumidores exigem explicações. Dos donos de postos, mas, principalmente, dos órgãos fiscalizadores. Com a palavra, Ministério Público, ANP, Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e Secretaria de Defesa Econômica (SDE) ¿ os três últimos entidades federais.