Título: Dólar e crise abrem oportunidade de exportação para os emergentes
Autor: Filho, Wilson Gotardello
Fonte: Gazeta Mercantil, 22/10/2008, Indústria, p. C5

São Paulo, 22 de Outubro de 2008 - As fabricantes de alimentos já avaliam possíveis alternativas para evitar o enfraquecimento das vendas externas caso o agravamento da crise econômica mundial reduza os negócios com os países mais ricos, na Europa e nos Estados Unidos, por exemplo - hoje responsáveis por cerca de 60% das exportações de alimentos industrializados. Neste caso, "o que deve salvar são os emergentes, que vão continuar comprando", afirmou Denis Ribeiro, economista da Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação (Abia). "Se as empresas forem ágeis e o câmbio ficar no patamar que está, elas podem reverter essa situação em ganhos", disse.

Entre os destinos que podem ganhar espaço nas exportações, destacam-se os países africanos, os do oriente médio, além de China e da Índia, que apesar da desaceleração, Ribeiro acredita que devem continuar crescendo. Dos produtos exportados, o economista destacou as carnes, que devem intensificar os embarques para os países do Leste Europeu - isso se a queda do preço do petróleo não afetar significativamente o desempenho das economias daquela região -, as aves para os países do Oriente Médio e os farelos para os asiáticos.

No ano passado, as exportações de alimentos industrializados totalizaram US$ 26,9 bilhões. Para 2008, a meta é chegar a US$ 29,7 bilhões. De janeiro a agosto, os embarques de alimentos alcançaram US$ 21,9 bilhões, alta de 29% em relação ao mesmo período do ano passado. Em volume, foram embarcadas 44,5 milhões de toneladas em 2007. A meta é crescer 5% este ano. "O câmbio nesse patamar é um fator estabilizador da economia. Estimula a exportação e bloqueia a importação de bens de consumo, o que, de alguma forma, tende a recuperar um pouco a balança comercial", disse Ribeiro.

Crescimento

As empresas já estão em busca das possibilidades que a nova conjuntura internacional proporciona. De Paris, onde participa de uma feira internacional de alimentação, Cézar Cardoso, vice-presidente da Vilma Alimentos, fabricante de massas, sucos em pó e mistura para bolos, informou que o câmbio deve ajudar nas exportações da empresa, que já projeta um aumento de mais de três vezes nos embarques no próximo ano. "O que estamos assistindo hoje é um movimento muito positivo para as exportações", disse Cardoso.

Segundo ele, a empresa fechou contratos no início do ano com o dólar a R$ 1,90, mas como a moeda chegou a R$ 1,60, as margens ficaram negativas. "Ficamos em extrema dificuldade, mas agora estamos em uma posição mais tranqüila", disse. O executivo afirmou que um dos mercados que tem se revelado interessante é o africano. Entre os produtos, as misturas de bolos e os refrescos em pó são os com melhor aceitação. A Vilma deve exportar US$ 300 mil este ano e espera alcançar US$ 1 milhão no próximo.

"A gente aprendeu que se cresce na crise", afirmou Antonio Carlos Tadiotti, sócio e diretor industrial da Predilecta Alimentos, fabricante e exportadora de derivados de frutas como tomate, goiaba, manga, entre outras. Segundo ele, cerca de 20% das exportações da empresa - que fecharam em US$ 13,8 milhões em 2007 e devem crescer cerca de 12% este ano -, vão para os países emergentes. "Mas apostamos que esse porcentual deve crescer", disse o executivo, que também está em Paris. Segundo ele, a procura dos clientes internacionais tem sido grande e o novo patamar do dólar tem feito com que os compradores tentem reduzir os preços. "Todo mundo quer descontos", contou.

Entre os países emergentes que devem ganhar destaque, Tadiotti aposta no potencial daqueles do sudeste asiático, como Cingapura. "Nós notamos que o impacto dessa crise já está no mercado consumidor na Europa. Alguns pedidos já estão menores", contou Cardoso.

Investimentos

Mesmo com as dúvidas que cercam o setor, as indústrias devem manter os investimentos já anunciados no mercado brasileiro. "Temos investimentos pesados planejados para o próximo ano e não vamos adiar ou cancelar", afirmou Claudia Rocha, gerente de marketing da multinacional alemã Dr. Oetcker. "Nós acabamos de fazer o planejamento para 2009 e todos os investimentos foram aprovados pela matriz", afirmou a executiva.

Cardoso, da Vilma, também informou que nenhum investimento será cancelado, mas a empresa não deve anunciar novos aportes enquanto a situação internacional não se acalmar. "Vamos manter porque já estamos com os financiamentos garantidos e liberados", explicou o executivo. "A nossa preocupação agora é em relação a novos investimentos, acredito que todos pensam assim", disse.

(Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 5)(Wilson Gotardello Filho)