Título: Estados buscam internacionalizar economia
Autor: Assis, Jaime Soares de
Fonte: Gazeta Mercantil, 23/10/2008, Nacional, p. A4

23 de Outubro de 2008 - A Geely Automobile Holdings Ltd., uma das principais montadoras da China, avalia iniciar operações no Brasil. Representantes da indústria automobilística chinesa realizaram recentemente uma reunião preliminar com Vinicius Lummertz Silva, secretário de Articulação Internacional de Santa Catarina, para obter informações sobre a infra-estrutura do estado.

"Os chineses são planejadores", afirma Lummertz. A secretaria forneceu aos executivos da Geely dados sobre logística, política fiscal e mão-de-obra qualificada disponíveis em Santa Catarina. Estes aspectos serão avaliados pela montadora, que terá de definir também o perfil mais adequado para estruturar sua unidade brasileira.

De acordo com Lummertz, os veículos mais caros, topo de linha, podem ser importados. Os carros populares chineses não chegariam ao mercado a preços competitivos e a produção local seria a escolha mais acertada.

Os contatos com a indústria chinesa não são isolados na agenda de Lummertz. Eles fazem parte do programa planejado de internacionalização da economia do estado que tem, entre as apostas mais importantes, a criação de um pólo de semicondutores em conjunto com a empresa alemã MWZander, especialista em montar unidades e centros empresariais de alta tecnologia.

De acordo com Lummertz, o espaço para implantação do centro de empresas de informática e semicondutores está reservado próximo à capital Florianópolis. A projeção do secretário é atrair empreendimentos no valor total de US$ 10 bilhões. Segundo ele, cada fábrica de semicondutores exige US$ 1 bilhão em capital. "Isso leva tempo mas ficaremos contentes se conseguirmos uma unidade", afirma o secretário.

O conceito do pólo é reunir na mesma área um centro de design de semicondutores, atrair engenheiros e projetistas, além da montagem de centros de pesquisa.

A estratégia do estado é combinar as atividades culturais com negócios. Um dos mais importantes balés folclóricos da Polônia, o Masowe, desembarca em Santa Catarina para apresentações no período de 21 a 30 de novembro. Esta atividade antecede a vinda de uma missão de empresários poloneses que está em negociação.

O movimento do estado não é trazer apenas "chão-de-fábrica". Lummertz afirma que Santa Catatina se constituindo como um centro de logística com potencial para ser um dos mais importantes do mundo, com a estrutura dos portos de Itajaí, ampliação de Imbituba , o porto de Navegantes e a expansão da área portuária de São Francisco do Sul em parceria com a Dragados, da Espanha. A secretaria tem recebido propostas de estaleiros de vários países.

A infra-estrutura portuária, clima temperado, baixos índices de criminalidade, cultura empresarial e mão-de-obra qualificada são os elementos utilizados por Lummertz nas negociações. "Não praticamos guerra fiscal", afirma. Na próxima semana, Lummertz deverá assinar acordo para a realização, em maio de 2009, do World Travel and Trade Council. O evento mundial reúne os presidentes das grandes empresas internacionais de turismo.

Na trilha de Pernambuco

O estado de Santa Catarina é um dos mais ativos no processo de internacionalização de sua economia, comenta Charles Tang, presidente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-China (CCIBC). Os catarinenses analisam a instalação de um escritório na China e podem seguir a mesma trilha de Pernambuco, pioneiro na implantação de uma base no país asiático.

A economia pernambucana deverá se beneficiar das oportunidades abertas pelo posto avançado em território chinês. De acordo com Tang, o estado deverá receber uma unidade de vidro plano e de montagem de empilhadeiras. Um acordo, da BBCA Group, um dos maiores conglomerados em bioquímicos da China, foi firmado com o Grupo Farias, do setor sucroalcooleiro de Pernambuco.

A carta de intenções assinada entre o grupo pernambucano e a empresa chinesa foi confirmada pela assessoria da empresa brasileira. Detalhes do projeto comum permanecem em sigilo em respeito às cláusulas de confidencialidade que regem o acordo.

De acordo com Tang, o grupo BBCA é um dos principais fornecedores de ácido cítrico para a indústria de refrigerantes e tem em seu portfólio clientes como Coca Cola, Grupo Pepsico e Procter & Gamble.

As relações comerciais entre o Brasil e a China começaram a ser desenhadas há pelo menos duas décadas. As exportações brasileiras até setembro somaram US$ 16,2 bilhões e as exportações alcançaram US$ 18,7 bilhões em 9 meses. O saldo da balança comercial registra déficit de US$ 2,47 bilhões. O ex-senador pernambucano Ney Maranhão foi um dos primeiros a apostar no comércio entre os países. "Na época diziam que eu era doido, mas eu já acreditava que a China se tornaria esse gigante que é hoje e que poderia ser muito importante para o Brasil", afirma.

O presidente da Federação do Comércio Varejista de Pernambuco (Fecomércio-PE), Josias Albuquerque, lembra a relação antiga do ex-senador com o governo chinês e ressalta sua participação na organização da primeira missão comercial de empresários pernambucanos à China, realizada em 2007, que resultou na instalação de um escritório de Pernambuco em Shanghai, para estimular os negócios com os chineses.

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 4)(Jaime Soares de Assis e Etiene Ramos)