Título: Para o mercado, MP fortalece o setor
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Fonte: Gazeta Mercantil, 23/10/2008, Finanças, p. B1

São Paulo, 23 de Outubro de 2008 - Executivos, empresários e especialistas do sistema financeiro foram unânimes em considerar positiva a nova medida anunciada ontem pelo Banco Central e fizeram diversas leituras sobre os motivos que o levaram a adotá-la. A que sobressaiu é a que o governo quer restabelecer de maneira definitiva a liquidez no mercado, por meio particularmente do restabelecimento da confiança. Quer que os bancos voltem a captar e a dar crédito para atender as necessidades da economia brasileira, pois alguns setores já sentem a falta de recursos para tocar investimentos e até o dia a dia. Com a medida, pretende ajudar não somente eventuais bancos em dificuldades, mas também empresas que dependem de crédito, afirmam os especialistas.

A ação também foi entendida como um recado do governo aos grandes bancos, que não responderam prontamente às medidas de utilização do compulsório para a compra de ativos, o que contribuiria para elevar a liquidez no mercado e beneficiaria principalmente os bancos de menor porte, que tradicionalmente têm mais dificuldades na captação de recursos. "Ontem, o governo disse: os bancos públicos vão ficar mais agressivos, vão poder comprar fatias importantes do mercado, sem burocracia, como se fosse um banco privado; e vão crescer, ao mesmo tempo que fornecem liquidez. É uma estratégia inteligente e é uma forma de estimular a oferta de crédito pelo lado que é mais sensível às instituições: a concorrência", disse Alcides Leite, professor de economia da Trevisan Escola de Negócios.

"O governo está eliminando a necessidade de licitação para esses eventuais negócios. A licitação é um mecanismo que emperra e não funciona quando a transação é a de compra de um banco, por exemplo. Com isso, ele dá mais agilidade aos bancos públicos, ao mesmo tempo em que minimiza a falta de crédito para a compra do carro ou do imóvel, que teria conseqüência negativa na atividade econômica e no nível de emprego", avalia Roy Martelanc, coordenador do MBA Bank da FIA, ressaltando que a compra da Nossa Caixa pelo Banco do Brasil (BB), por exemplo, hoje em curso, será já sob esse novo instrumento.

Na opinião de alguns especialistas, na outra ponta das intenções do governo estaria o objetivo de deixar suas instituições tão ágeis quanto às privadas para aproveitar as oportunidades que um mercado em crise pode oferecer, assegurando ao menos que não percam suas atuais posições de mercado. Já outros temem que o governo esteja utilizando bancos públicos para salvar instituições falidas.

Bolívar Tarregó, vice-presidente de ativos de terceiros da Caixa Econômica Federal - que anunciou ontem a criação do Banco de Investimento Caixa, com capital inicial de R$ 2,5 bilhões, para comprar participações em bancos e construtoras -, disse que a Caixa ainda não tem em análise a compra de empresa ou banco e que somente fará tal negociação se gerar resultados e sinergias. "Não é objetivo salvar empresa quebrada." Tarregó ressaltou que o plano do governo é favorável à Caixa à medida que amplia as suas possibilidades de olhar as oportunidades do mercado. "O Banco do Brasil e a Caixa são bastante líquidos e podem participar de oportunidades, que não as vejo, no entanto. O que há hoje é uma aversão ao risco e um problema de liquidez."

Manoel Felix Cintra Neto, que comanda o Banco Indusval Multistock , endossa. "O mercado está bastante saudável. O que o governo pretende é fazer fluir a liquidez. Se tiver problema, é pontual." O presidente da agência Austin Rating, Erivelto Rodrigues, engrossa o coro dos que consideram a função da medida apenas como mais um sinal de tranqüilidade do governo. "O sistema financeiro é sólido e essa medida é prova disso." Segundo Adalberto Savioli, presidente da Acrefi, a conseqüência de bancos não darem crédito é uma economia fraca e, quando o governo toma uma medida dessas, é o mesmo que dizer: "Dá crédito que garanto."

"Apesar do Brasil estar muito bem, com os fundamentos adequados para enfrentar o atual cenário, entendo que o governo deve agir preventivamente. Momentos de crise exigem medidas não usuais e corajosas. Acredito que venha a dar mais instrumentos para o governo garantir a estabilidade no sistema financeiro nacional", disse Roberto Setubal, presidente do Banco Itaú, em nota. Também em nota, a Febraban informou que a medida é essencialmente preventiva, transitória e está em linha com as adotadas em outros países.

Ver também página B3(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 1)(Iolanda Nascimento)