Título: Dólar dispara 6,15%, apesar de ações do BC
Autor: Góes, Ana Cristina
Fonte: Gazeta Mercantil, 23/10/2008, Finanças, p. B2

São Paulo, 23 de Outubro de 2008 - Os sinais de que a recessão global está fazendo estragos derrubou as bolsas de valores no mundo todo e fez o dólar comercial disparar mais de 5% pela segunda sessão consecutiva nesta semana, apesar dos quatro leilões efetuados pelo Banco Central (BC).

A necessidade de algumas instituições de comprar dólares para devolver ao BC hoje, quando será feita a liquidação do primeiro leilão de venda com recompra realizado em 19 de setembro, contribuiu para o avanço da moeda.

O dólar comercial fechou o dia com valorização de 6,15%, para R$ 2,381 na venda. Com a alta de ontem, a moeda norte-americana acumula ganhos de 23,54% no mês e 33,52% no ano.

A autoridade monetária interveio no mercado ontem por quatro vezes. Realizou dois leilões de swap cambial, vendendo 10 mil contratos no montante de US$ 515,6 milhões e fez mais duas operações de venda de dólares no mercado spot sem compromisso de recompra.

Segundo dados do BC, a saída de dólares do Brasil superou as entradas no início de outubro. O fluxo cambial acumulado nos primeiros 13 dias úteis de outubro ficou negativo em US$ 3,751 bilhões, frente ao saldo positivo de US$ 2,803 bilhões de setembro.

"Foi um dia ruim para todas as moedas e o Brasil não iria escapar desta tendência. Foi o pior dia na BM&F desde 1999", avalia o economista-chefe da corretora Coinvalores, Paulo Nepomuceno.

O economista descarta, no entanto, a hipótese de um ataque especulativo contra o real. "Ninguém no mercado está com força para fazer ataque especulativo. Não tem fluxo de dólar no mercado", afirma Nepomuceno.

O governo anunciou mais um recurso para injetar liquidez no mercado. Uma medida provisória (MP) publicada ontem autorizou o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal a adquirirem participações em instituições financeiras privadas. A MP também autoriza o BC a realizar operações de swap de moeda com bancos centrais de outros países, nos limites e condições fixados pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).

A turbulência nas bolsas ontem também teve reflexos no mercado de juros futuros negociados na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F). O contrato DI de janeiro de 2010 avançou de 14,72% para 16,22%. A preocupação com a escalada do dólar e o seu impacto na inflação e conseqüentemente na taxa básica de juros também ajudou a puxar para cima os prêmios do DI.

Rumores nas mesas de operações de que um grande investidor estrangeiro que estava posicionado em DI de janeiro de 2012 e zerou posição por não conseguir honrar suas garantias, gerou desconforto entre os agentes financeiros. A BM&F, que não quis comentar o assunto, informou que os processos de liquidação transcorreram dentro da normalidade.

A menos de uma semana para a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) que decidirá o rumo da taxa básica de juros da economia (Selic), atualmente em 13,75% ao ano, o mercado faz suas apostas.

Uma parte dos analistas acredita que, em um cenário de recessão global e escassez de crédito, o colegiado deve interromper o ciclo de aperto monetário e manter a taxa inalterada. Já outra parcela dos analistas acredita que a disparada do dólar iniciada em setembro impacta os preços, dificultando a convergência da inflação para o centro da meta estabelecida pelo Banco Central, de 4,5%.

(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 2)(Ana Cristina Góes)