Título: Crise abala confiança do consumidor
Autor: Americano, Ana Cecília
Fonte: Gazeta Mercantil, 24/10/2008, Nacional, p. A5

Rio de Janeiro, 24 de Outubro de 2008 - A Sondagem de Expectativas do Consumidor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) de outubro mostra a apreensão do brasileiro em relação ao futuro da economia, em função da crise financeira. O Índice de Confiança do Consumidor (ICC) caiu 10% no mês, passando de 112,7 pontos para 101,4 pontos. A variação entre um mês e outro, que em setembro registrava uma alta de 3,4%, caiu em outubro 10,1%.

"A crise internacional foi o segundo abalo na confiança do consumidor este ano", comenta Aloisio Campelo, coordenador da pesquisa. A primeira foi a inflação dos alimentos, que deixou apreensivos os entrevistados em 2 mil domicílios em sete capitais brasileiras. "Outubro registrou a maior queda percentual entre um mês e outro de toda a série histórica", frisa. O índice relativo a como o brasileiro enxerga a sua situação atual caiu 12,7%, de 119,3 pontos em setembro para 104,2 este mês. Em relação ao ano passado, a queda foi bem mais modesta, de 2,3%.

"O consumidor já percebe que a crise financeira internacional pode ter a ver com a sua vida real", diz. No caso da expectativa do consumidor no futuro, a queda na confiança é ainda maior. Pela primeira vez, o índice ficou abaixo de 100 pontos - caiu 8,5% para 99,9 pontos entre setembro e outubro.

A confiança foi mais abalada entre os consumidores das faixas de renda mais altas. Quem recebe acima dos R$ 9,6 mil registrou queda de 14,1%, contra menos 3,5% obtidos na faixa de quem ganha entre R$ 2,1 mil e R$ 4,8 mil.

Campelo realça a diferença existente na percepção do consumidor relativa ao ambiente econômico no seu entorno e o de sua família propriamente dita. O consumidor enxergou um problema muito maior no ambiente externo. Nesse caso, o índice de confiança caiu de 82,7 para 61,9, ou menos 25,2%. Quando a sua própria situação familiar está em foco, a confiança é maior: o índice de setembro caiu apenas 3,3% para 106,5.

Curioso é o comportamento do brasileiro frente à sua intenção de ir às compras. Ela estava deprimida em setembro, com um índice de 79,5 pontos, abaixo do mesmo período de 2007, quando setembro de 2007 acusava 88,6 pontos. Em outubro, no entanto, o índice que mede a intenção de ir às compras subiu 7% para 85,1 pontos.

"Ainda que este desejo tenha aumentado, ele continua em um patamar histori-camente baixo, perto do índice de 2006, quando se registrou 84,2 pontos", ressalta Campelo, atribuindo o fenômeno à proximidade do Natal e à liberação do 13 terceiro. Aldo Gonçalves, diretor da Associação Comercial do Rio de Janeiro, vê na pesquisa um reflexo do que já vinha acompanhando em outros índices regionais. "As vendas no varejo fluminense acumulam crescimento de 12,8% no ano. E as consultas ao Sistema de Proteção ao Crédito (SPC) têm crescido 11,7%. Isto indica que as pessoas estão se preparando para ir às compras", diz. Para ele, não haverá tempo hábil para a crise impactar as vendas até o Natal, quando espera um aumento de 5% em relação a 2007.

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 5)(Ana Cecília Americano